RUI BEJA   UMA VOZ DESASSOMBRADA NA BLOGOSFERA


helena matos
O olhar e a voz são os que sempre reconhecemos há décadas neste homem frontal. Rui Beja, um nome indissociável da cultura portuguesa, em especial em quanto respeita à vida editorial, fundou há pouco mais de um mês um blogue notavelmente incisivo sobre a atualidade social e política do País. Um nome significativo:
Tu(r)bo d'escape
[ http://turbodescape.blogs.sapo.pt/4868.html ]

O olhar e a voz de um cidadão que não se subjuga, que não se resigna e afronta os poderes políticos e financeiros com racionalidade, frontalidade, por meio de uma escrita límpida, expurgada da recorrente linguarice grosseirona que fervilha na vacuidade de uma certa blogosfera. As chamadas "redes sociais" muito se valorizariam com a participação de mais gente da estirpe deste antigo presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros e do Círculo de Leitores.

Ficámos hoje maravilhados, uma vez mais, com um texto acutilante de Rui Beja a propósito de recentes declarações do primeiro-ministro. Sugerimos a leitura integral do artigo e demais textos publicados neste espaço de cultura e cidadania exercidas com elevadíssima dimensão ética. PF


18 DEZEMBRO DE 2012






JOAQUIM BENITE A CENSURA NÃO O DEIXOU SER POETA


helena matos
No dia da morte de uma figura renovadora do teatro português, evocamos o grande sonho de Joaquim Benite quando andava pelos vinte anos: ser poeta. Mas a Censura salazarista negou-lhe o anseio. Até o plano já finalizado de um livro de poesia foi reprimido por força das sucessivas proibições de poemas seus na Imprensa. Revivemos numa crónica breve esse tempo de vicissitudes e revelamos as provas originais da Censura em relação à proibição de dois poemas de Joaquim Benite. Documentos extraídos do Arquivo Histórico de Imprensa de Pedro Foyos e que permanecem inéditos, no caso presente, há cinquenta anos. Um dos poemas censurados, contendo subtis alusões à guerra colonial, destinava-se ao livro cuja publicação se frustrou. Muito gratamente anuímos ao pedido do semanário Expresso no sentido de dedicar a esse poema, na sua edição de hoje [8/12], maior e justa visibilidade na página titulada pelo jornalista Nicolau Santos.




DEZEMBRO DE 2012






JORNALISTA FARIA ARTUR PRÉ-PUBLICAÇÃO DE UM TRECHO DO PRIMEIRO ROMANCE


helena matos
Jornalista íntegro, rigoroso e culto, Faria Artur — o tão discreto Faria Artur — vem agora surpreender-nos com o seu primeiro romance, Perdidos num Verão Quente. Um outro modo de trabalhar com as palavras, moldando-as à respiração literária de uma teia que, sendo ficção, não deixa de nos transmitir realidades, muitas memórias da história política, social e cultural de tempos que marcaram a vida portuguesa e em particular as gerações dos anos sessenta e setenta do século XX. Metido na pele de escritor, Faria Artur persegue uma narrativa límpida, cruza diferentes comportamentos, ideias e ideais sem esquecer o "isco" dos afetos, do amor.

Temos o gosto de apresentar em pré-publicação um trecho extraído desse romance, revelando mais uma faceta do jornalista incansável no brio da notícia, da reportagem, da entrevista, da crónica e que, no Diário de Notícias também chefiou equipas com um perfil de qualidade e grande camaradagem.

No jornalismo como no labor romanesco, Faria Artur sabe bem quanto é difícil comunicar, chegar aos outros com simplicidade. Ele tem essa arte.




DEZEMBRO DE 2012






PROFESSOR FERNANDO CATARINO MENSAGEM CELEBRATIVA DOS OITENTA ANOS





No dia feliz dos seus 80 anos, é com imensa alegria que levamos até si, querido Professor Fernando Catarino, este brinde de parabéns ao qual se associaram muitos dos seus amigos, admiradores, antigos colegas e alunos, leitores dos seus textos, ouvintes das suas palestras vivíssimas, caminheiros de campos, matas, jardins que uma ou outra vez participaram nos seus empolgantes "passeios de estudo".

Levamos até si, querido Professor Fernando Catarino, esta mensagem de reconhecimento público por tudo quanto lhe devemos de aprendizagem, de convívio científico, de fraternidade.

Com sabedoria e uma luminosa arte da palavra, ajudou-nos a decifrar os pequenos e os grandes enigmas do mundo natural, fazendo-o com a simplicidade de quem vê e faz ver que todas as bibliotecas botânicas do planeta cabem afinal num recanto lisboeta de quatro hectares adstritos à Rua da Escola Politécnica. O seu Jardim, a sua Casa.

O estado de aposentado e jubilado não lhe refreou a emoção de ensinar. Continua «com a mão na massa», como gosta de dizer. Será sempre "o" Professor. Um paradigma. O Professor apaixonado, com sentido de humor, investigativo, tolerante, indistinto daquele que nos anos cinquenta deu as suas primeiras aulas da vida. Simplesmente possui agora a serenidade física e a ponderação intelectual bem traduzidas numa frase que escreveu há tempos: «Saber que amanhã às 8h30 não tenho nada de especial para fazer, é uma coisa absolutamente espantosa».

Parabéns, Professor Fernando Catarino.

O nosso obrigado, querido Professor Fernando Catarino, pela esperança de vida que continua a transmitir-nos.

9 NOVEMBRO 2012


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UM MAR DE ABRAÇOS


ANTOLOGIA DE FRASES E CONFIDÊNCIAS
DO PROFESSOR FERNANDO CATARINO



COMENTÁRIOS DOS NOSSOS LEITORES


VISITA GUIADA AO JARDIM BOTÂNICO
pelo Professor Fernando Catarino


                                            [PEQUENO FILME DE 1999 / CORTESIA DA RTP]






LÍDIA JORGE  MENSAGEM A MEIO DA NOITE: «ASSALTARAM-ME A CASA!»


helena matos
Serão certamente muito diversas as reações das pessoas que, após um período de ausência, se deparam com a sua casa assaltada. Tratando-se de uma escritora, como Lídia Jorge, nome destacado da literatura portuguesa contemporânea, não surpreenderá que a primeira reação, logo após a brutal visão da habitação saqueada e revolvida de uma ponta a outra, seja a de transmitir, por meio da escrita, o pesadelo consciente do que aconteceu. Algo de indefinível num primeiro instante. Logo depois o sobressalto da incerteza sobre o que ficou, o que não terá ficado. O computador ficou! Obrigado, Senhor Ladrão! Mas o caos foi espargido por toda a casa: gavetas vazias, chão juncado de objetos, a cada passo descobre-se que um redemoinho perverso desarrumou as coisas amadas.

A mensagem chegou-nos a meio da noite. Um texto cuja qualidade literária e instantaneidade do ritmo descritivo nos levou a pedir a Lídia Jorge autorização para o reproduzir no habitual espaço que dedicamos aos nossos Convidados.

Lídia Jorge tem-se destacado desde o seu primeiro romance, O Dia dos Prodígios (1980) por uma escrita de grande sentido estético, moldada com rigor, segura, ao mesmo tempo contundente e por vezes irónica. A preocupação com a limpidez da palavra passa por todo o seu trabalho literário, com personagens movendo-se num cenário onde ocorre sempre o questionamento e a reflexão. Norma igualmente válida para a espontânea narrativa de um assalto à própria casa.




NOVEMBRO DE 2012






AS CIÊNCIAS DA TERRA NA IDADE MÉDIA
UMA ALICIANTE ANÁLISE HISTÓRICA PELO PROF. GALOPIM DE CARVALHO


Cronologicamente situada entre, aproximadamente, os séculos V e XV, a Idade Média foi um tempo de alastramento do cristianismo e da vida cultural na Europa ocidental, sobretudo através do surgimento de mosteiros da Ordem Beneditina.

O Prof. Galopim de Carvalho introduz desta forma uma aprazível viagem às Ciências da Terra naquele período histórico, tomando como ponto de partida Santo Isidoro de Sevilha (560-636), considerado o primeiro dos grandes enciclopedistas medievais, que nos deixou Etymologiae sive origines, obra monumental em 20 volumes, na qual estão registados os conhecimentos da época sobre matemática, astronomia, medicina, anatomia humana, zoologia, geografia, meteorologia, geologia, mineralogia, botânica e agricultura.




OUTUBRO DE 2012






MÁRIO CASTRIM  COMO FICA UM HOMEM DEPOIS DE TER PASSADO UMA VIDA
EM FRENTE DE UM TELEVISOR PARA FAZER CRÍTICA?


Fica doente, infeliz, chalupa, cadastrado, diminuído, esgotado, esmagado, triturado – mas de bem com a sua consciência pessoal e social. Talvez eu merecesse outra televisão. Talvez a televisão merecesse outro crítico. Sou como o bicho-da-seda: desfiz-me para me realizar.

(EXCERTO DE UMA ENTREVISTA QUE MÁRIO CASTRIM NOS CONCEDEU NA OCASIÃO DO LANÇAMENTO DO SEU LIVRO "A CAMINHO DE FÁTIMA")

Jornalista e escritor, mas o seu nome perpetuou-se como crítico de televisão. Milhares de leitores compravam os jornais onde Mário Castrim escrevia, motivados sobretudo pelos seus textos críticos, prosas acutilantes que invariavelmente a Censura golpeava e desfigurava, a ponto de algumas vezes o autor se decidir pela não publicação. Preservava denodadamente ideais políticos que geraram polémicas e um labéu que adquiriu entre os opositores consistência identitária. Todavia, a sua ternura chegava a ser desconcertante para quem pudesse julgá-lo "um poço de veneno".
Na grande entrevista que lhe fizemos em 1992 abordámos a questão das suas múltiplas personalidades. Resposta: «Desgraçado de quem fosse só aquilo que é!»




OUTUBRO DE 2012






MARCEL MARCEAU  O MISTÉRIO DAS EMOÇÕES SILENCIOSAS



O mínimo que pode dizer-se deste genial mimo francês é que ele tinha o mundo no corpo. Marcel Marceau, meio século a comunicar por meio de uma arte muda, desvendava com esse silêncio o mistério das emoções. Mas, sendo verdade que de voz não necessitava para se exprimir, tinha na boca uma das suas mais preciosas figurações. Como se fosse o pulmão que absorve todo o oxigénio da vida e o leva, ora devagar, ora num ímpeto, a um corpo uno, refletor de símbolos e de códigos. Havia ainda (ou sobretudo) as mãos, uma espécie de vento que nos tocava por todos os lados, deixando-nos suspensos do ritmo seguinte.

Evocamos esse extraordinário artista de palco, dos maiores do século XX. Também em Portugal, por quatro vezes, se repercutiu o eco das ovações dispensadas à qualidade interpretativa de alguém que, fazendo do silêncio ouro, o transformava, ao mesmo tempo, no maior grito de alma.

Grata oportunidade para introduzirmos a crónica evocativa com uma das mais admiráveis fotografias de Marcel Marceau, realizada por um camarada de ofício, o grande repórter fotográfico António Cotrim.




SETEMBRO DE 2012






MARIA HELENA MATOS    UMA VIDA DO TEATRO QUE AO TEATRO TUDO DEU

helena matos
Parou há dez anos o coração de Maria Helena Matos, atriz maior dos palcos portugueses. Centenas de personagens ganharam alma graças à garra e beleza com que durante décadas fascinou o público. Evocamos a mulher e atriz inolvidável para várias gerações de portugueses, à semelhança do que já havia acontecido com sua mãe, Maria Matos, outra grande dama da cena teatral.




SETEMBRO DE 2012






PORTUGAL, UM PAÍS DE CIDADÃOS
O MOMENTO POLÍTICO VISTO PELO PROF. GALOPIM DE CARVALHO



Uma das formas de combater as flagrantes desigualdades e injustiças que, ao invés das esperanças de Abril, têm vindo a agravar-se, é alargar a cidadania onde for preciso, criá-la onde ela anda esquecida, e encorajar o cidadão a fazer pleno uso dela, como contribuição pessoal no tecido social de que é parte. Neste capítulo estamos no bom caminho. Vamos em frente! E que cada um se regozije e envaideça com a expressão inteligente e ordeira da unidade de um povo que mostrou no passado dia 15 de Setembro.






SETEMBRO DE 2012






EDUARDO PRADO COELHO    EVOCAÇÃO DE UM TEMPO PORTUGUÊS
EM QUE A CRÍTICA LITERÁRIA ESTEVE EM PÉ DE GUERRA


zeca Durante algum tempo, corria o ano de 2001, a crítica literária esteve em pé de guerra. Tudo começou com um texto desafiante de Eduardo Prado Coelho, insurgindo-se contra o estilo de crítica literária que se praticava em Portugal. No momento em que se cumprem os cinco anos da morte do desassombrado ensaísta e crítico, recuperamos uma entrevista que lhe fizemos quando estava ainda acesa a polémica. Eis uma das declarações que define em síntese a sua posição sobre o tema: «(...) a ideia de uma crítica que diz: "isto é bom, aquilo é mau", como se isso fosse demonstrável, é uma ingenuidade. Estar à porta dos céus da literatura a dizer "este entra, aquele não entra", parece-me inadequado».

Cáustico nas palavras, nunca temendo os confrontos, Eduardo Prado Coelho era um infatigável contestatário da voga (que perdura) de se qualificarem as obras literárias por meio de estrelinhas. Sentenciava: «Uma escrita que dá estrelinhas é uma crítica de pura autoridade, mais nada».

O tema mantém-se atual. Poderá interessar um reencontro com Eduardo Prado Coelho no nosso espaço das Grandes Entrevistas




AGOSTO DE 2012






CENTENÁRIO. JORGE AMADO EM LISBOA
MEMÓRIAS DE UM "ESCRITOR MALDITO" SOB VIGILÂNCIA DA PIDE


zeca
Celebramos o centenário do nascimento de Jorge Amado com a revelação de memórias do escritor brasileiro, narradas na primeira pessoa e registadas pela sua amiga e tradutora das obras para francês, Alice Raillard. Esse texto, desconhecido entre nós, é imensamente expressivo da realidade do País nos tempos da Ditadura. Jorge Amado, então um "escritor maldito" em Portugal, descreve com peculiar sarcasmo as peripécias policiais que envolveram as suas breves permanências em Lisboa.




AGOSTO DE 2012






JOSÉ HERMANO SARAIVA A MAIS INCOMODATIVA DAS ENTREVISTAS



                                       Desenho de Paulo Fernandes, por especial cortesia

Ninguém lhe ficava indiferente, mesmo que não comungasse dos seus pontos de vista. Um caso raro de comunicação e de tenacidade. Há anos, durante um colóquio no auditório em Lisboa do Montepio Geral, José Hermano Saraiva abriu um parêntesis na sua dissertação para declarar que uma determinada entrevista, de entre as muitas que tinha dado, havia sido para ele «especialmente incomodativa». E logo se vangloriou: «Mas saí-me muito bem!».

A autora dessa entrevista, publicada no Diário de Notícias, foi Maria Augusta Silva. Logo à terceira pergunta, o historiador apercebeu-se de que a conversa iria ser espinhosa. Uma conversa de mais de duas horas durante a qual o entrevistado negou o Tarrafal, o Aljube e o vocábulo "Ditadura" aplicado ao regime de Salazar. Mais surpreendente foi ter negado a Censura a livros, apesar de o próprio irmão, José António Saraiva, ter visto proibida uma das suas obras. Cedeu num único ponto: as eleições naquele tempo não eram «muito verdadeiras»...



[com excertos em modo áudio]

JULHO DE 2012






JORNALISTAS FILOMENA NAVES E TERESA FIRMINO
PUBLICAM OBRA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA


                     


O mundo está cheio de mistérios que espicaçam a nossa curiosidade. Às vezes são pequenos enigmas do dia a dia, outros verdadeiros desafios ao conhecimento e à compreensão, a que procuramos responder recorrendo à ciência e às suas explicações quase sempre exatas. Visto que ela é a mais poderosa arma para conhecer o mundo. Vejamos alguns exemplos: Por que será que o céu à noite é negro? Afinal, certos animais conseguem ou não pressentir os terramotos? Por que é branca a neve? Por que ri a hiena? Por que devemos tomar o antibiótico até ao fim? Por que não crescem as árvores até ao céu? Por que é que as claras ficam em castelo? A laranja à noite mata?
Duas queridas camaradas do ofício jornalístico, Teresa Firmino e Filomena Naves, especialistas em temas de ciência, respetivamente nos jornais Público e Diário de Notícias, dão-nos respostas para estas e muitas outras perguntas, num livro original e divertido (cujo título é precisamente uma das perguntas) editado por A Esfera dos Livros. Vai ser apresentado em Lisboa, na próxima quinta-feira, dia 26, às 18h30, na Livraria Bertrand Chiado.
Este é o segundo livro que as autoras realizam em parceria e desejamos que o terceiro já esteja a ser planeado...
Fará a apresentação da obra um outro amigo, nome maior da nossa cultura científica: Carlos Fiolhais, professor de Física da Universidade de Coimbra e, podemos adiantar, próximo Convidado deste sítio de encontro.


JULHO DE 2012







JOÃO RUI DE SOUSA: PRÉMIO VIDA LITERÁRIA 2012
UM POEMA INÉDITO E BREVE ENTREVISTA


zeca O poeta maior que é João Rui de Sousa receberá no próximo dia 9, às 18h30, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores / Caixa Geral de Depósitos 2012. A cerimónia decorrerá na Culturgest - sala 2 (Edifício Sede da CGD), em Lisboa. Este prémio de consagração, atribuído de dois em dois anos, já distinguiu, entre outros, Eugénio de Andrade, Miguel Torga, José Saramago e Mário Cesariny.

Para o presidente da APE, José Manuel Mendes, a poesia de João Rui de Sousa «é uma experiência de singularidade» e «revela grande pujança das instâncias verbais, depuramento formal e pluralidade temática».

Os jornalistas autores deste sítio de encontro e de partilha manifestam a João Rui de Sousa o profundo reconhecimento pela oferta de um seu poema inédito, bem como pela disponibilidade em responder a algumas perguntas que de algum modo complementam a grande entrevista que lhe fizemos há oito anos.






JOÃO RUI DE SOUSA: BREVE ENTREVISTA


O prémio "Vida Literária" é-lhe atribuído aos 84 anos, após mais de meio século de escrita – seja na poesia, seja no ensaio (aí incluindo a crítica literária). Esse facto sugere-lhe ou suscita-lhe algum balanço sobre o seu percurso criativo?

Não ignoro o quanto é difícil e ingrato falar em causa própria, mas tentarei dar algum seguimento, minimamente que seja, ao que é sugerido. Julgo de interesse começar por recordar que a minha estreia literária — em 1955, na Cassiopeia, revista de que fui codiretor — se caracterizou, como que premonitoriamente, por ter aí colaborado com dois poemas e um ensaio, ou seja, nas duas modalidades de escrita em que mais me tenho envolvido. A partir daí, a criação poética e a aventura ensaística percorrem como que uma viagem de conteúdo e ritmos diferenciados mas quase paralelos.

E se o desafiássemos para falar da sua poesia...

No que respeita à minha poesia — a que está recolhida nos meus livros, a que tem sido publicada avulsamente, a que foi recolhida em antologias e mesmo a que continua inédita — penso que tem seguido um certo percurso evolutivo que não me parece incompatível com uma linha de continuidade e de coerência. Uma evolução sem sobressaltos de maior, mas revelando algumas sensíveis mudanças, quer de natureza formal quer de substância. Onde, por exemplo, se podem cruzar impulsos de uma grande libertação expressiva e uma certa tendência para a contenção, para um procurado rigor. Onde se entrechocam (ou se complementam) acentos de uma coloração mais emocionada e propostas de teor mais meditativo. Esses e outros contrastes — desde logo visíveis nos primeiros livros que publiquei, Circulação e A Hipérbole na Cidade, ambos de 1960 — podem ser detectáveis noutros volumes vindos posteriormente a lume, até ao Quarteto para as Próximas Chuvas (2008), o mais recente.

Quanto à sua intervenção na área ensaística, que lhe ocorre dizer?

Direi que essa faceta, quase sempre respeitante a estudos genéricos ou sectoriais sobre poesia ou sobre poetas, se tem concretizado através da publicação de alguns livros ou da colaboração recolhida em jornais, revistas ou volumes coletivos. Considero, neste âmbito, como especialmente representativos alguns estudos mais extensos dedicados a Fernando Pessoa, Adolfo Casaes Monteiro, Mário Saa e António Ramos Rosa. Creio que se justifica, contudo, a referência a outros trabalhos que, embora não tão desenvolvidos, se inserem claramente neste perfil de abordagem. Por exemplo, sobre Cesário Verde, Almada Negreiros, Edmundo de Bettencourt, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, António Gedeão, António Maria Lisboa ou Herberto Helder, entre outros.

Em relação ao trabalho propriamente de crítica, o que representa para si essa atividade?

Embora me considere, antes de tudo, mais interessado na criação poética, é um facto que não me tenho furtado, em certos períodos, aos riscos e até à ousadia do exercício crítico. Aceitei sempre esses desafios, esses confrontos entre um texto e uma sua leitura mais aturada e refletida, com o indispensável sentido de responsabilidade perante os leitores e perante o autor criticado. Antes do mais, a responsabilidade de fazer essas análises por gosto e com isenção, sem qualquer sectarismo, com a maior abertura de espírito.
No que respeita ao lado mais concreto dessa tarefa que, de forma algo irregular, foi levada a efeito ao longo dos anos, devo começar por esclarecer que essa intervenção — iniciada em 1961 (com um texto na revista Bandarra sobre os primeiros livros de António Ramos Rosa) — incidiu, na sua quase totalidade, sobre obras de poesia, assinadas por várias dezenas de autores. Entre as publicações que inseriram esses meus textos destacaria, pela intensidade dessa colaboração em determinadas épocas, a revista Colóquio-Letras, o Jornal de Letras e o suplemento "Literatura & Arte" de A Capital.
Diga-se, em aparte, que espero ainda a oportunidade de reunir em volume todo esse disperso material de estudo.



TAMBÉM NESTE SÍTIO
Grande entrevista a João Rui de Sousa
por Maria Augusta Silva
(Outubro 2004)
com excertos em modo áudio



Uma leitura de
"Quarteto para as Próximas Chuvas"
de João Rui de Sousa



JULHO DE 2012






ARMANDO CARDOSO TUDO-NADA SOBRE MIM


Discreto e culto, espírito criativo, aberto e solidário, Armando Cardoso é também um dos mais prestigiados nomes da fotografia em Portugal. Uma paixão de décadas que mantém viva. Hoje, em regime de voluntariado, dá aulas na Universidade Intergeracional de Benfica, depois de o seu percurso estar marcado por muitas e inesquecíveis exposições individuais e coletivas e ter sido um dos fundadores da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica a cuja direção pertenceu de 1973 até início dos anos oitenta.

Armando Cardoso é um companheiro-irmão da primeira hora do "Casal das Letras" e agora Convidado neste sítio de encontro, de afeto e de partilha. Responde a "Tudo-Nada Sobre Mim" o nosso habitual questionário renovadamente proustiano. Confessa gostar de orquídeas e de golfinhos, tem saudades do associativismo cultural dos anos setenta e do tempo em que a vida não era dominada pelo economês.




JUNHO DE 2012






URBANO TAVARES RODRIGUES  ESTE BRAVO GUERREIRO NÃO DESCANSA...


zeca Homenageamos Urbano Tavares Rodrigues – o escritor e o amigo – que aos 88 anos lança um novo livro (Escutando o Rumor da Vida seguido de Solidões em Brasa), nas livrarias a partir desta semana. São duas novelas curtas que, nas palavras do autor, «têm muitos elementos mágicos». Em declarações recentes ao Jornal de Letras Urbano repetiu uma frase que bem lhe conhecemos: «Não posso estar parado!» Numa grande entrevista que nos concedeu quando lhe foi atribuído o Prémio Fernando Namora manifestou-nos com frequência o seu tormento maior: a falta de tempo. «Mas hei de arranjá-lo», logo acrescentava. Nessa conversa, Urbano fala com desassombro sobre a sua visão socialista do mundo, o capitalismo selvagem, o neoliberalismo económico, o respeito pelos valores culturais, ao mesmo tempo que, escorado numa lendária bravura física, reafirma estar sempre pronto a dar um murro a quem o ofenda (não é léria, garantimos!).




JUNHO DE 2012






STEVEN SPIELBERG
ONDE É QUE VOCÊ ESTAVA QUANDO O "E.T." CHEGOU A PORTUGAL?


Com estas personagens de Spielberg (o pequeno Elliott e E.T.), quem
tenha hoje mais de 40 anos ver-se-á regressado ao fascínio dos
espetáculos de infância, mesmo que já seja octogenário...




O italiano Carlo Rambaldi, magistral mestre das transfigurações,
numa foto atual, junto a um clone da sua mais famosa criatura


Passaram três décadas (que se completam hoje, 11 junho). Um terno extraterrestre, com cabeça de tartaruga das Galápagos, chegou ao planeta Terra pela mão de Steven Spielberg. Marcou os anos oitenta, comovendo públicos de todas as idades, dos muito jovens aos muito graúdos. O noticiário da época realçava que até ao fim de 1985 mais de metade da população portuguesa já tinha visto o filme. Tão aliciante como a história era a principal personagem, o "E.T." — prodigiosa criação que, decorridos trinta anos, ainda surpreende os especialistas das transfigurações cinematográficas. Foi necessária uma equipa de cerca de vinte técnicos para dar vida à fabulosa criaturinha — revela-nos o crítico de cinema João Lopes. Mas, afinal, mais exatamente, como se fabrica um "extraterrestre"?
Eis a resposta:

«Pois bem: fabrica-se no maior segredo. É esse um dos grandes paradoxos da fábrica de magia de Steven Spielberg. Ao mesmo tempo que os seus filmes envolvem superorçamentos para o lançamento comercial (transformando-se, desse modo, em acontecimentos públicos de dimensões internacionais), ele defende tenazmente o sigilo da sua fabricação. No caso de "E.T.", essa preocupação atingiu níveis que se podem considerar verdadeiramente insólitos no contexto da indústria cinematográfica americana. Na verdade, não só as filmagens como o boneco que representa E.T. foram rigorosamente secretos. As habituais divulgações públicas de caráter técnico não se verificaram. O American Cinematographer, por exemplo, órgão oficial da poderosa associação americana de diretores de fotografia, que usualmente acompanha e analisa as inovações técnicas da mais recente produção dos grandes estúdios — filmes como One From the Heart (Coppola), Tron (dos estúdios Disney) ou Hammett (Wim Wenders) foram objeto de longas dissertações — não publicou qualquer comentário sobre "E.T.". E não foi fácil pôr E.T. a "mexer" ao longo do filme. Sabemos apenas que Steven Spielberg convidou um dos grandes especialistas em criaturas mais ou menos estranhas, deste e de outros mundos: Carlo Rambaldi. Cinco anos antes, Rambaldi tinha já criado para Spielberg, em Encontros Imediatos do Terceiro Grau, os habitantes da nave que, no final, desembarcam no nosso planeta; são também de sua invenção o macaco gigante da versão moderna de King Kong (Dino de Laurentis / John Guilhermin) e o monstro de O Oitavo Passageiro (Ridley Scott). Além de Rambaldi, encontramos na ficha técnica de "E.T." mais dezoito elementos diretamente relacionados com este extraterrestre que se passeia entre nós: um para a conceção da voz, um como supervisor técnico, um para os efeitos adicionais, um para a conceção dos olhos, um como coordenador dos movimentos, sete operadores e mais seis para os movimentos especiais. Enfim, um extraterrestre não se contrata. Fabrica-se. É essa a lógica íntima do espetáculo».


TAMBÉM NESTE SÍTIO
ARTIGO DE PEDRO FOYOS SOBRE OUTRO MEMORÁVEL FILME
DE STEVEN SPIELBERG:
"ENCONTROS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU"
(Secção "Grandes Ficções do Outro Mundo" / página 2)




JUNHO DE 2012






MIGUEL REAL NOSSO CONVIDADO FAZ BALANÇO DE VIDA


«Aos cinquenta e cinco, atira-se o pescoço para trás, projeta-se o olhar em frente e pergunta-se à consciência se está satisfeita ou realizada. (...) A década de cinquenta é o número central da balança do deve e haver da vida.

Estes são dois fragmentos de um texto sobre o «deve e haver» a meio da balança da vida. O autor, Miguel Real, cuja estatura intelectual e a verticalidade de espírito o firmaram como proeminente figura da cultura portuguesa, é o nosso "Autor do Mês". Sublinhamos o quanto nos honra a sua presença no espaço "Convidados".




MAIO DE 2012






MANUEL ABECASSIS E A HISTÓRIA DE INÊS
A PRIMEIRA DE MIL E UMA HISTÓRIAS DE VIDAS RENASCIDAS


Poderá parecer estranho, mas há vinte anos levantaram-se nos EUA muitas vozes reprovadoras quando uma mãe voltou a engravidar numa tentativa (bem sucedida) de salvar uma filha com leucemia. Não tendo sido o primeiro caso, foi porventura o que mais polémica suscitou na época, em 1990. Marissa, uma menina americana, natural da Carolina do Sul, foi concebida para doar medula óssea à sua irmã Anissa, de 16 anos. Ambas continuam vivas e assumem que as irmana «uma relação especial».
Menos conhecido é o pioneirismo de Portugal neste domínio. Manuel Abecassis foi o primeiro hematologista a concretizar no nosso país uma intervenção do género, em 1994. Um casal concebeu um novo bebé, que já era desejado mas foi antecipado para salvar a filha de quatro anos lutando contra uma leucemia mieloide crónica. «Uma aventura», confessou-nos Manuel Abecassis. Seguimos de perto essa «aventura», à qual dedicámos uma reportagem com o título «A história de Inês». Recuperamo-la agora pela atualidade de que se reveste este testemunho num tempo em que o drama do pequeno Gustavo Martins, de três anos, mediatizado especialmente pela notoriedade desportiva do pai, tem feito com que expressões como "transplantes de medula" transponham o estrito vocabulário médico.





MAIO DE 2012




PEDRO FOYOS VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA SECÇÃO "RECEITUÁRIO DOMÉSTICO"


Há vinte anos, que se completam hoje [16 de maio], o Diário de Notícias estreou uma secção de crónicas satíricas da autoria de um jornalista da casa, Pedro Foyos, com o título intrigante de "Receituário Doméstico". Por essa época surgiu também no âmbito da secção a sibilina personagem do Novíssimo Leal Conselheiro do Cidadão Baralhado, que prestava aos leitores a mais insólita assistência na resolução de problemas comezinhos, mas arreliantes, como, por exemplo, os métodos mais eficazes para repelir os vampiros – tema da primeira crónica que recuperamos agora, na versão reescrita em 2009, com renovação das personagens políticas.



Mais tarde, a secção tornou-se vagabunda, aceitando a guarida pontual em publicações não diárias e blogues manhosos. Finalmente, em março de 2011, quando foi inaugurado este sítio, realizou-se uma seleção de crónicas que integram a secção denominada precisamente "Receituário Doméstico".




MAIO DE 2012






GLICÍNIA QUARTIN  BELO NOME PARA UMA AVENIDA EM LISBOA


zeca A Câmara Municipal de Lisboa acaba de homenagear Glicínia Quartin dando o seu nome a uma nova avenida situada na alta da cidade. Figura notabilíssima do teatro e da cultura em Portugal, a atriz que durante quase duas décadas foi bióloga, morreu há seis anos. Na cerimónia da inauguração estiveram presentes antigos companheiros de ofício, como João d'Ávila, que contracenava com Glicínia no tempo em que passámos com ela uma longa tarde de Junho. Recuperamos essa conversa durante a qual se falou um pouco de tudo, da Biologia ao Teatro, passando pelos sonhos e rugas da velhice. Também de uma certa oliveira plantada quando Glicínia era muito menina: «Não a tornei a ver. Como deve estar grande!»




MAIO DE 2012






GALOPIM DE CARVALHO RECORDANDO A EPOPEIA
DOS DINOSSÁURIOS LUSITANOS


zeca Foi muito justamente atribuído o nome de Galopim de Carvalho ao Museu do Quartzo, idealizado por este geólogo e inaugurado há poucos dias no Monte de Santa Luzia, em Viseu. Oportunidade para relembrar o tempo em que Portugal foi alvo de especial atenção por parte da comunidade científica internacional no domínio da paleontologia dos dinossáurios. Alguns concelhos prefiguravam-se ricos núcleos mundiais do género. Paleontólogos portugueses pretendiam concretizar projetos de sensibilização das populações rurais nas regiões onde se conheciam casos de ocultação de jazidas fósseis. O Prof. Galopim de Carvalho, à época diretor do Museu Nacional de História Natural da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foi notavelmente estoico na luta pela preservação dos achados, também pedagógico e ponderado nos apelos aos agricultores. Enfrentou os poderes públicos, insurgindo-se contra a falta de apoios. Estes chegaram de forma minguada, todavia lograram-se relevantes cedências. Este tema sempre atual inspirou uma longa tarde de conversa que reproduzimos no espaço "Grandes Entrevistas", incluindo uma seleção de trechos significativos em modo áudio.




MAIO DE 2012






CENTENÁRIO IDÁLIO DE OLIVEIRA PIONEIRO NOTÁVEL
NA HISTÓRIA DA MEDICINA PORTUGUESA

zeca Pioneiro, sobretudo, na instalação de tecnologias de diagnóstico e tratamento de cancro. Montou a primeira Bomba de Cobalto, o primeiro Acelerador Linear, o primeiro aparelho de TAC e o primeiro aparelho de Ressonância Magnética da Península Ibérica. Foi igualmente pioneiro na técnica de Angiografia Digital em Portugal. De paixão em paixão, Idálio de Oliveira deu primazia aos doentes e ao estudo. Pelo meio conheceu as sombras da morte. Venceu uma febre tifoide. Superou uma tuberculose. Ficou todo partido num acidente. Controlou um cancro do rim...

Assinalamos este centenário da única forma que os jornalistas saberão fazer: reportando a vivência e conversas mantidas com o sábio médico quando ele já contava 83 anos, sessenta dos quais (como sublinhava) «casado» com os doentes.




ABRIL DE 2012






25 ABRIL 1974
FALTAVAM DEZ MINUTOS PARA AS NOVE DA MANHÃ...


zeca
A tarde daquele dia revolucionário começou a ser triunfante a partir das 15h10, quando Salgueiro Maia solicita pela primeira vez, com megafone, a rendição do Carmo. Porém, durante a manhã, ninguém – ninguém em absoluto! – poderia prever o desfecho do movimento militar. Seis horas antes, faltavam dez minutos para as nove da manhã, foi tomada na Redação de um diário de Lisboa uma decisão de imensa coragem. Dois grandes jornalistas com funções de direção e de chefia (apoiados de imediato pelos demais) revelaram uma coragem equiparável à dos homens que comandaram o derrube do regime.




ABRIL DE 2012






ALBANO MARTINS
«DIGO AO POETA QUE EM MIM HABITA: OBRIGADO POR ME TERES ACOMPANHADO»

HOMENAGEM EM LISBOA, DIA 27,
NA SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES

zeca


Uma centena de autores integra a antologia 100 Poemas para Albano Martins, homenageando um poeta ímpar da nossa cultura. Dia 27, às 18h30, na Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em Lisboa, a obra será apresentada por António Carlos Cortez. Esta edição, prefaciada por Eduardo Lourenço e com organização de Maria do Sameiro Barroso, foi entretanto levada ao público do Porto, onde Fernando Guimarães analisou o percurso poético de Albano Martins com a mestria, a sensibilidade e o rigor que lhe são reconhecidos.

                                                                                                       Albano Martins por Jorge Pinheiro


SOBRE A ANTOLOGIA > DESENVOLVIMENTO >   


Igualmente em Lisboa irá falar-se deste poeta imenso, com obras traduzidas para diversas línguas. Mais de seis décadas de vida literária. Também professor, ligado nos últimos tempos à Universidade Fernando Pessoa, ensaísta, tradutor brilhante (traduziu, entre outros, poetas como Giacomo Leopardi, Alberti, Mahmud Darwich, Nicolás Guillén, Lourdes Espínola, Neruda, Cântico dos Cânticos, de Salomão, e essa obra de referência intitulada Antologia da Poesia Grega Clássica, em cujas páginas nos deixou autores que vão de Homero a Safo, de Sófocles a Eurípides, de Ésquilo, Píndaro e Aristófanes a Esopo).

A sessão de Lisboa, à semelhança do Porto, terá a presença de Albano Martins de quem José Jorge Letria, presidente da SPA, irá ler poemas. E mais poetas inscritos na antologia de homenagem a este mestre da síntese e da palavra depurada farão a leitura de poemas com que desejaram dar o seu abraço de apreço e carinho por alguém que, apesar da sua forma discreta de estar na vida, tem sido premiado, nacional e internacionalmente, pela grandeza da sua criatividade; em 2007 foi agraciado pelo Presidente da República Portuguesa com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Em Casal das Letras, celebramos do mesmo modo Albano Martins, o poeta da sublime sensualidade, do verso límpido em que os símbolos do corpo, do amor, da natureza, da espiritualidade interagem numa escrita despojada e no entanto de uma intensidade que nos ilumina o ser total. Queremos manifestar a Albano Martins o quanto nos honra registar aqui o inédito, manuscrito, com que distinguiu este sítio de encontro e de partilha. Guardamo-lo no mais fundo das nossas sensibilidades.




PARA MELHOR COMODIDADE DE LEITURA TRANSCREVE-SE O TEXTO EM LETRA DE FORMA.
VISUALIZE COLOCANDO O CURSOR SOBRE O MANUSCRITO








OITO ANOS DEPOIS MAIS QUATRO PERGUNTAS A ALBANO MARTINS


Passaram oito anos sobre a data em que o Albano Martins nos concedeu uma extensa entrevista reproduzida integralmente neste sítio




... Diria hoje algo de diferente?

Não. O que hoje é essencial também já o era ontem. Embora marcado pelas rugas, o nosso rosto não se altera com o tempo. O nosso rosto, quer dizer, a nossa identidade.

Ao fim de mais de sessenta anos de vida literária, como é que Albano Martins olha para o poeta Albano Martins?

Depois destes sessenta e dois anos de escrita, digo ao poeta que em mim habita: obrigado por me teres acompanhado. Sem ti, o sol não arderia, as flores não teriam perfume, os pássaros não cantariam. Sem ti, a vida não o seria. (Descontem, por favor, as rimas que aí vão, não totalmente involuntárias).

Que significa para si o ter traduzido os gregos clássicos, assinando obra que é uma referência em toda a nossa cultura?

Traduzir os poetas gregos do período clássico (eu já traduzira, lembro, a Antologia Palatina e a Antologia de Planudes) e oferecê-los, em livro, ao leitor português, significa, além de uma aventura, de um enorme prazer e satisfação pessoal, a consciência de ter confiado à língua de Camões um vasto e inestimável património, raiz e fundamento da nossa cultura. Foi também, e enfim, um desafio, mas desafio é, penso eu, a própria vida. Ou ela – esta, e outra não há – seria apenas uma circunstância de tempo e de lugar, não de modo.


Que sentiu ao ver-se homenageado na antologia "100 Poemas para Albano Martins", prefaciada por Eduardo Lourenço e organizada por Maria do Sameiro Barroso?

Senti, naturalmente, emoção e orgulho. Mas também gratidão, por assim me ver generosamente honrado por tantos e bons amigos. Prova de que, afinal, a amizade e a generosidade, embora espécies em vias de extinção, estão vivas e atuantes. A minha gratidão estende-se, evidentemente, à Maria do Sameiro Barroso, mãe e animadora deste projeto, e ao Eduardo Lourenço, mestre de todos nós, que mais uma vez, com a sua palavra fulgurante, iluminou de forma exemplar a minha poesia.

      _______________________________________________________________

                        ANTOLOGIA HISTÓRICA . POETAS PARTICIPANTES
Agripina Costa Marques (Portugal). Alexandre Bonafim (Brasil). Alfredo Péres de Alencart (Espanha). Álvaro Cardoso Gomes (Brasil). Álvaro Alves de Faria (Brasil). Amadeu Baptista (Portugal). Ana Hatherley (Portugal). Ana Luisa Amaral (Portugal). Ana Maria Puga (Portugal). Ángeles Lence (Espanha). António Cândido Franco (Portugal). António Carlos Cortez (Portugal). António Graça Abreu (Portugal). António Oliveira (Portugal). António Osório (Portugal). António Ramos Rosa (Portugal). António Rebordão Navarro (Portugal). António Salvado (Portugal). Artur Coimbra (Portugal). Artur do Cruzeiro Seixas (Portugal). Assumpción Forcada (Espanha/Catalunha). Astrid Cabral (Brasil). Bernadete Capelo (Portugal). Carlos Filipe Moisés (Brasil). Carlos Guerrero Galego (Espanha / Ceuta). Carlos Nejar (Brasil). Carlos Vaz (Portugal). Casimiro de Brito (Portugal). Cláudio Lima (Portugal). Daniel Gonçalves (Portugal). Dolores Alberolla (Espanha). Domingo F. Failde (Espanha). Eduarda Chiote (Portugal). Ernesto Rodrigues (Portugal). Estela Guedes (Portugal). Eugénio Lisboa (Portugal). Fernando de Castro Branco (Portugal). Fernando Esteves Pinto (Portugal). Fernando Guimarães (Portugal). Fernando Paulouro Neves (Portugal). Fernando Pinto do Amaral (Portugal). Firmino Mendes (Portugal). Gabriela Rocha Martins (Portugal). Gilberto Mendonça Teles (Brasil). Gisela Ramos Rosa (Portugal). Gonçalo Salvado (Portugal). Hélia Correia (Portugal). Iacyr Anderson Freitas (Brasil). Inês Lourenço (Portugal). Isabel Miguel (Espanha). Ivo Machado (Portugal). Ivo Miguel Barroso (Portugal). João Rasteiro (Portugal). João Ricardo Lopes (Portugal). João Rui de Sousa (Portugal). Joaquim Cardoso Dias (Portugal). Jorge Reis-Sá (Portugal). José Emílio-Nelson (Portugal). José Félix Duque (Portugal). José Jorge Letria (Portugal). José Manuel Vasconcelos (Portugal). José Manuel Mendes (Portugal). Lêdo Ivo (Brasil). Liberto Cruz (Portugal). Luís Amaro (Portugal). Luís Maia Varela (Portugal). Luís Quintas (Portugal). Luisa Freire (Portugal). Luisa Ribeiro (Portugal / Açores). Lurdes Espínola (Paraguai). Manuel Alegre (Portugal). Manuel da Silva Terra (Portugal). Manuel Madeira (Portugal). Manuel Márques Rodrigues (Espanha). Manuela Parreira da Silva (Portugal). Marcolino Candeias (Portugal / Açores). Maria Augusta Silva (Portugal). Maria do Sameiro Barroso (Portugal). Maria João Cantinho (Portugal). Maria João Fernandes (Portugal). Maria João Reynaud (Portugal). Maria Quintans (Portugal). Maria Teresa Dias Furtado (Portugal). Miguel Anxo Fernán Vello (Espanha / Galiza). Miguel Serras Pereira (Portugal). Nuno Costa Santos (Portugal). Paulo José Miranda (Portugal). Péricles Prade (Brasil). Pompeu Miguel Martins (Portugal). Reynaldo Valinho Alvarez (Brasil). Rita Taborda Duarte (Portugal). Rosete Lino (Portugal). Rui Almeida (Portugal). Rui Cóias (Portugal). Ruy Ventura (Portugal). Teresa Rita Lopes (Portugal). Tiago Néné (Portugal). Urbano Tavares Rodrigues (Portugal). Vergílio Alberto Vieira (Portugal). Victor Oliveira Mateus (Portugal). Vitor Oliveira Jorge (Portugal).




TAMBÉM NESTE SÍTIO

Albano Martins / Carta sem data
«A Vida / – essa invenção magnífica / da morte»
Crónica de Maria Augusta Silva



Apreciação literária da obra
de Albano Martins
"Assim a Cal, Assim o Musgo"
por Maria Augusta Silva


ABRIL DE 2012






ISAAC ASIMOV
MORREU HÁ VINTE ANOS O PROFETA DE UM MUNDO ROBÓTICO




Evocação de Pedro Foyos nos vinte anos da morte de Asimov

Era uma segunda-feira e chovia em Nova Iorque. Nesse dia, uma lágrima robótica alastrou por vasta parte do mundo industrializado. Morrera Isaac Asimov, o escritor que profetizara, meio século antes, os robots, e, sobretudo, ousara, pela primeira vez na história da ficção científica, introduzir a detestada machina sapiens no universo dos homens.




ABRIL DE 2012






CABRINHAS & CARACÓIS
EVOCAÇÃO DE AUGUSTO LUSO DA SILVA, ESQUECIDO PIONEIRO NATURALISTA

Texto e fotografias de Paulo Ventura Araújo / coautor do blogue
Dias com Árvores
[ http://dias-com-arvores.blogspot.pt ]




























A delicada Davallia canariensis, conhecida por "cabrinha" e que gosta de se
empoleirar nas árvores, era para Augusto Luso uma das suas paixões de estudo.
Até a homenageou em versos românticos...



Na freguesia de Cedofeita, no Porto, há dois liceus que distam 400 metros um do outro: o Rodrigues de Freitas, que noutros tempos era só para rapazes, e o Carolina Michaëlis, que era só para meninas. É uma distância para fazer toda em linha recta, não fossem as pequenas correcções de trajectória a que obrigam os seis lanços de escadaria no final.

LPCC A rua que possibilita o rápido trânsito do masculino ao feminino tem o nome de Augusto Luso: poeta e professor 1827-1902, é o que diz a placa. Nada mais apropriado do que homenagear um professor com uma rua que liga duas escolas.

A imortalidade toponímica é algo ingrata, pois uma rua não é um compêndio de história e não guarda memória de feitos nem de obras publicadas. Custa a crer que certos nomes petrificados em placas de ruas tenham pertencido a gente de carne e osso. Mas de Augusto Luso – de seu nome completo Augusto Luso da Silva, e que também se assinou A. Luso, A. Luso da Silva ou simplesmente Luso – é possível, graças à Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e a outras obras de referência, conhecer o essencial da vida e obra. Podemos até, nas páginas do portal TriploV...
(ver: http://www.triplov.com/hist_fil_ciencia/luso_da_silva/index.html)
ler uma boa amostra do que escreveu em prosa e em verso sobre, por exemplo, caracóis e ornitorrincos. Se a isto juntarmos que Augusto Luso foi professor de geografia e autor de compêndios para o ensino, compreendemos que ele não foi um literato convencional. O seu estudo pioneiro sobre moluscos terrestres e fluviais de Portugal, publicado em fascículos entre 1868 e 1872, é ainda hoje citado por malacologistas.

Outra prova de que Augusto Luso foi um naturalista sério e minucioso está no Herbaryum Cryptogamicum do Porto e seus arredores, aparecido em 1872 e 1873 (volumes III e IV) no Jornal de Horticultura Prática, influente revista mensal sobre jardinagem e agricultura que se publicou no Porto entre 1870 e 1892 (e que está disponível on-line em http://www.fc.up.pt/fa). Confessa o autor no preâmbulo que a sua ambição era fazer um levantamento do país inteiro, mas, por lhe faltarem apoios, vê-se limitado aos arrabaldes da sua cidade. Ainda assim, a lista de fetos, musgos, hepáticas, líquenes e algas por ele herborizados ultrapassa a centena de espécies – e, pelo menos nos fetos (dos outros nada sei dizer), inclui quase todos aqueles que são hoje conhecidos, alguns sob outros nomes, como espontâneos na região do Porto. De cada planta, o autor faz uma breve descrição e indica alguns locais de ocorrência. É talvez o primeiro texto em língua portuguesa que torna acessível a leigos aquilo que estava confinado a tratados científicos como a Flora Lusitanica (1804) de Brotero e a Flore Portugaise (1809-1840) de Hoffmannsegg & Link .

Se o fascínio por lírios, narcisos e outras plantas vistosas é facilmente contagiante, já o mesmo não se pode dizer de fetos, musgos e afins; e, ao contrário do que sucede com pássaros, observar lesmas ou caracóis nunca foi uma ocupação com muitos adeptos (comê-los já será outra história). Valorizar a natureza para além de uma concepção estreita do que é «belo» ou «útil» para nós, humanos, é um passo que ainda hoje muitos são incapazes de dar. Eis o que escrevia Augusto Luso em 1872: Assim como, entre os animais do nosso país, os moluscos e, principalmente, os terrestres e fluviais, são ignorados de quase todas as pessoas, da mesma sorte as Criptogâmicas não são mais conhecidas entre os vegetais, que enriquecem e adornam o nosso Portugal. Desejando eu conhecê-las e dá-las a conhecer, forçoso me era uma exploração e uma classificação.

Está bom de ver, portanto, que Augusto Luso não demandou Áfricas. De facto, não foi além de Aguiar de Sousa e de Avintes: o seu âmbito de exploração cabe num raio de 13 quilómetros em redor do Porto. Mas, além de a observação e recolha de plantas exigirem tempo e paciência, viajar no terceiro quartel do século XIX não era o mesmo que fazê-lo hoje. Augusto Luso fala do vale do rio Ferreira, em Valongo, como se reportasse as maravilhas de um lugar longínquo: Se não fora outro o meu fim e o temer abusar da paciência dos leitores, descreveria, como pudesse, alguns destes sítios, magníficos e surpreendentes quadros, escondidos à maior parte das pessoas, convidando-as ao passeio, aonde o belo horrível do despenhadeiro, às vezes se apresenta, trazendo sempre o sublime. Sendo ele porém um poeta, não pede licença aos leitores para encabeçar a sua listagem com um introito de 14 quadras em verso decassilábico. Eis uma delas:

      Cresce a alegre Davallia nos rochedos
      Sobre os rios pendentes, e fendidos
      Pela força do gelo. Eis reunidos
      Gratos Aspídios e Asplénios ledos.

LPCC
Não podíamos estar mais longe da aridez impessoal que hoje é de lei em artigos científicos. Impõe-se a pergunta: que é feito da alegre Davallia, dos Asplénios ledos, dos gratos Aspídios? Em geral estão bem e recomendam-se. Os fetos do género Asplenium são dos mais comuns em muros e fendas de rochas de norte a sul do país. Os Aspídios também se vêem muito, mas mudaram de nome: um deles, vulgarmente conhecido por fentanha, chama-se agora Polystichum setiferum; outros, como o feto-macho, integram o género Dryopteris. São fetos que lançam tufos de longas folhas arqueadas, às vezes com mais de um metro de comprido, e que vivem em bosques sombrios e junto a linhas de água. Quem perdeu grande parte da alegria foi a Davallia canariensis, que Augusto Luso considerava, numa apreciação ainda hoje consensual, como «o mais formoso feto do nosso país». Conhecido por feto-dos-carvalhos (por gostar de se empoleirar nessas árvores) ou cabrinha (por causa do rizoma lenhoso revestido de escamas bronzeadas), as suas folhas lembram os napperons de renda com que as nossas avós enfeitavam cristaleiras. A cabrinha é espontânea na Península Ibérica, Marrocos, Madeira e Canárias; e, ainda que no continente português seja escassa e esteja confinada ao litoral, chega a ser abundante na serra de Sintra e em alguns velhos carvalhais do Alto Minho.

LPCC

Nos rochedos pendentes sobre o rio Sousa ou o seu afluente Ferreira é que ela já pouco salta. As serras em volta converteram-se em eucaliptais, o bucolismo foi ferido de morte por postes de alta-tensão e viadutos de auto-estrada. Mas o desfiladeiro da Senhora do Salto, em Aguiar de Sousa, ainda é capaz de provocar arrepios; e, se varrermos as medonhas escarpas com um par de binóculos, encontramos aqui e ali o inconfundível recorte das folhas da Davallia, cabrinha feita águia no seu último e inacessível refúgio.

Um reencontro difícil que remata esta evocação de Augusto Luso, nome de rua, naturalista, poeta romântico e professor de geografia. Talvez ele gostasse de saber que a cabrinha, se quase desapareceu de Valongo nos 140 anos decorridos desde a publicação do seu Herbaryum Cryptogamicum, teve contudo artes de se instalar – resultado provável do seu uso em arranjos florais – em meia dúzia de árvores em Agramonte e no Prado de Repouso, os dois maiores cemitérios do Porto.

Porto, 2 de Abril de 2012


• Paulo Ventura Araújo está presente neste sítio, secção Leituras,
com um texto de apreciação à sua obra
"A Árvore de Natal do Senhor Ministro"
(Ed. Afrontamento, 2009).









FÁTIMA MARINHO: AUTORA DO MÊS
«ESTA DESORDEM QUE NOS ORDENA»

Fátima Marinho tem consagrado a essência mais estelar da sua vida e da sua escrita às causas, princípios e direitos das "crianças diferentes", as mais sofredoras ou esquecidas como as portadoras de Trissomia 21. Personalidade sensível, com itinerários muito diversos, faz refletir por meio de livros admiráveis esse exercício permanente de civilidade e de afeição para com os "diferentes". As suas crónicas são testemunhos vivíssimos que correm pelas páginas como seiva feita de poesia, ternura, amor. É-nos grato tê-la neste sítio de partilha. Aproveitamos para reproduzir em áudio uma das crónicas do seu penúltimo livro.




ABRIL DE 2012






FERNANDO PIRES
UM TESTEMUNHO JORNALÍSTICO DE MEIO SÉCULO

"Os meus 50 anos no Diário de Notícias", livro de crónicas do jornalista Fernando Pires, será lançado na sexta-feira (dia 30) às 18h30, em Lisboa, na Casa da Imprensa, associação mutualista a cujo conselho de administração presidiu entre 1994 e 2003. A apresentação está a cargo de Mário Mesquita e de José Maria Ribeirinho.

A obra é um importante documento que, a partir da memória de múltiplas situações, ajudará a melhor compreender-se diferentes tempos políticos, sociais e culturais do País, do Estado Novo à revolução de 25 de abril.

Do meio século de um profissionalismo intensamente vivido na Redação do "Diário de Notícias", abrangendo direções do jornal desde Augusto de Castro a José Saramago, Cunha Rego, Mário Mesquita e Mário Betttencourt Resendes, o autor deixa-nos um excelente testemunho de épocas díspares da realidade coletiva portuguesa.

Em Junho do ano findo foi prestada a Fernando Pires uma homenagem pelos seus oitenta anos. Na ocasião dedicámos-lhe neste sítio (secção Registos) uma crónica com o título "O terno amante com cara de mau".




MARÇO DE 2012






"100 POEMAS PARA ALBANO MARTINS "
ANTOLOGIA SERÁ LANÇADA NO PORTO (30 MARÇO) E EM LISBOA (27 ABRIL)


zeca A antologia "100 Poemas para Albano Martins" vai ser lançada dia 30, às 21h00, na Fundação António de Almeida, no Porto. Nesta cidade, a apresentação será feita por Fernando Guimarães.

Com prefácio ímpar de Eduardo Lourenço, participam na obra 101 nomes da poesia de Portugal, Espanha e Brasil, engrandecendo este volume nos seus mais diferentes registos de criação poética.

Coordenada pela também poeta Maria do Sameiro Barroso (que assina uma breve mas literariamente brilhante "Nota de Abertura"), a antologia de homenagem a Albano Martins será igualmente apresentada em Lisboa, a 27 de abril, 18h00, no auditório da Sociedade Portuguesa de Autores. A apresentação ficará a cargo de António Carlos Cortez.

Ambas as sessões contarão com a presença do homenageado, estando prevista a leitura de poemas inscritos na edição com a chancela da Labirinto e uma apelativa capa de Emerenciano.

Em Lisboa, José Jorge Letria dirá poemas de Albano Martins, autor com mais de seis décadas de vida literária.

"Casal das Letras", sítio de encontro e de partilha, voltará, oportunamente, a abordar (de modo mais detalhado) esta antologia que celebra um dos nomes maiores da nossa poesia contemporânea.


MARÇO DE 2012






CARLA BAPTISTA UMA ALICIANTE VIAGEM HISTÓRICA PELA POLÍTICA
NOS JORNAIS PORTUGUESES (DO SÉCULO XIX AO MARCELISMO)

Apogeu, Morte e Ressurreição da Política nos Jornais Portugueses - Do Século XIX ao
Marcelismo.
Escritório Editora, 472 pp. Apresentação de Joaquim Fidalgo.
Venda confinada às livrarias FNAC.

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PARA MEMÓRIA PRESENTE E FUTURA

Portugal é um país privilegiado em terra abundante e fértil para os historiadores que pretendam lavrar o tema das relações entre a política e o jornalismo. Carla Baptista teve de parar no limiar das 500 páginas mas não duvido que poderia duplicar ou triplicar o número se vertesse para este livro todo o manancial de informação e "achados" resultante das suas pesquisas iniciadas há uma década, em parceria com Fernando Correia, outro notável investigador das linhas e entrelinhas do ofício jornalístico nos tempos da Ditadura ("tempos", no plural, porque sempre incluo o consulado marcelista). Um acervo cuja moldura histórica surge consideravelmente ampliada neste trabalho porque a autora estabeleceu como ponto de partida a imprensa novecentista, período da monarquia constitucional, permitindo assim captar-se o clima político que já nos primórdios moldava os jornais aos ditames dos vários poderes.

O tema não está esgotado, porém pode afirmar-se que, depois da obra clássica (mas generalista) de José Manuel Tengarrinha, esta de Carla Baptista constitui uma investigação sem paralelo na historiografia da imprensa portuguesa.

O rigor, a objetividade, a escrupulosa citação de fontes e de testemunhos refletem-se no número de notas de pé de página: mais de 700, algumas bem extensas, ou seja, raras são as páginas que não apensam referências documentais. Todavia, o pendor académico (o livro teve na sua génese uma investigação de doutoramento) é muito atenuado pela narrativa central, admiravelmente desenvolta, impressiva, estruturada quase sempre em torno de episódios, uns dramáticos, outros hilariantes ou atrozmente infamantes. Essas pequenas histórias superpovoam o livro, página a página. As ignominiosas, que batem em profusão as demais, convém sublinhá-las para memória presente e futura. PF

CARLA BAPTISTA NA PRIMEIRA PESSOA

• «Acreditamos que um melhor conhecimento histórico das condições de emergência, construção e transformação do profissionalismo jornalístico é necessário para entendermos muitos dos dilemas e dificuldades que o jornalismo atravessa no presente.»

(Parágrafo final da obra em referência)

• «Esta investigação começa ainda no século XIX, num tempo de folhas e panfletos políticos exuberantes, atravessa os sombrios e mais silenciosos tempos da Ditadura e culmina no período em que o País foi governado por Marcelo Caetano, entre 1968 e 1974. Fala de oposição e resistência, mas também do jogo e da cooperação que existem entre políticos e jornalistas. A profissionalização dos jornalistas portugueses, um processo que implica necessariamente a conquista da liberdade e da autonomia face ao poder, fez-se a duras penas, com muitas hesitações e de forma incompleta até ao final da década de setenta do século XX. Mas o facto de o jornalismo ter iniciado um processo de modernização ainda antes da mudança de regime, em 1974, constitui um fator complexo e notável, que demonstra bem como, por debaixo de estruturas que, aparentemente, são imóveis e rígidas, existem campos e forças sociais em agitação e fervência.»

(Excerto da contracapa)

____________________________________________________________________ Carla Baptista é docente no departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Tem vários livros publicados sobre jornalismo, um dos quais, Memórias Vivas do Jornalismo, em coautoria com Fernando Correia, inspirou uma crónica de Pedro Foyos transcrita para este sítio, secção DO OFÍCIO.

  

MARÇO DE 2012






A GRANDE POESIA DE MARIA ESTELA GUEDES
"ARBORETO": UM LIVRO PARA QUEM AMA AS ÁRVORES


                      


O novo livro de Maria Estela Guedes, Arboreto, é uma obra poética singular e fascinante pelos diálogos que nos oferece com a natureza, abraçando especialmente as árvores e levando-nos por meio delas a tempos ancestrais, a culturas intemporais, ao mesmo passo que nos faz refletir sobre um presente de securas, todavia sem nos dar sentenças nem moralismos de plástico.

Sendo um trabalho culto, tão próprio da brilhante ensaísta que Maria Estela Guedes também é, este Arboreto sensibiliza-nos ainda pela seiva dos afetos e da memória. Em poemas como A tília da Isaurita, Olea patrocineae ou O Medronheiro encontramos a poesia mais tocante deste livro, surgindo-nos uma Estela Guedes espantosamente profunda na abordagem simples das recordações que estabelecem a relação entre o ser humano e o ser-natureza.

Ao ler-se Arboreto muitos de nós irão chamar igualmente sua a tia Maria de O Medronheiro que «(...) pegava no sacho / para regar a Quelha da Azenha» ou a tia Patrícia em nome de quem nos apetece plantar também uma oliveira.

Neste Arboreto, prefaciado notavelmente por Ana Maria Haddad Baptista, a palavra, sendo imensa na sua expressão contemplativa, somando botânica, vivências, gerações, mitologia, signos, ela é sobretudo desafiante ao entrelaçar as raízes da memória (uma memória atuante), convocando-nos para um olhar sereno ao mais fundo de nós. Vejamos, por exemplo, o poema A Figueira e a forma como, unindo a personagem Gravelina à de Ficus carica, a autora nos revela o mais sensível entendimento da vida e da morte quando duas naturezas (a humana e a terra-mater) são um só corpo de fraternidade.

Sobre este novo livro de Estela Guedes apetece-nos, pois, dizer com Raul Brandão:

«Tenho a certeza de que fui árvore e é por isso que tanto as amo.»

MAS

Referências editoriais:
ARTE-LIVROS EDITORA. Obra em formato livreto, 72 pp., elaboração gráfica quase artesanal, com acabamento em cordão de fibra natural, no dorso. O livro "Arboreto" de Maria Estela Guedes pode ser adquirido por meio de mensagem-pedido para:

http://www.artelivroseditora.com.br/index.php?page=contato


MARÇO DE 2012





PRIMEIRO ANIVERSÁRIO
GRATIDÃO AOS 21 CONVIDADOS DE "ESTREIA"


Com imenso júbilo acolhemos durante o nosso primeiro ano 21 Convidados, envolvendo diferentes áreas profissionais com natural prevalência de jornalistas e escritores.

A todos manifestamos profunda gratidão pela participação e qualidade das colaborações prestadas.

ANDRÉ LETRIA | BAPTISTA-BASTOS | CARLOS ADEMAR
EDUARDO LOURENÇO | EUNICE MUÑOZ | FERNANDO CATARINO
GIL MONTALVERNE | GRAÇA PIRES | HENRIQUE ANTUNES FERREIRA
JOAQUIM LETRIA | JORGE REIS-SÁ | JOSÉ ALBERTO BRAGA
JOSÉ JORGE LETRIA | JOSÉ VIALE MOUTINHO | LEONOR XAVIER
MARIA AZENHA | MARIA DO SAMEIRO BARROSO | MÁRIO CLÁUDIO
RISOLETA PINTO PEDRO | TERESA PAIVA
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES






PRIMEIRO ANIVERSÁRIO
TUDO COMEÇOU COM UMA SIMPLES ARITMÉTICA DE DUAS PARCELAS...

A primeira reflexão que antecedeu a decisão adveio de uma singela soma de décadas de trabalho. Duas parcelas. Da adição resultava quase um século de ofício jornalístico ao qual se juntariam itinerários por outras escritas. Seria porventura útil realizar uma seleção criteriosa desse acervo e deixá-lo na internet a quem pudesse interessar. Nasceu assim este "sítio de encontro", só possível, também, mercê da cumplicidade e mestria de um grande amigo e artista, o Armando Cardoso, nome de referência na arte fotográfica.

Trabalho difícil, moroso. Muita coisa perdeu-se ao longo da caminhada, na vertigem de um jornalismo diário. Mais as mudanças e desmudanças de gavetas pessoais, de equipamentos, de instalações, de sistemas... A vida do comum dos mortais. Largas dezenas de entrevistas foram, por exemplo, regravadas sobre outras porque a ordem de poupança já se praticava e a cedência de cassetes virgens estava sujeita a registos de controlo. É-nos penoso verificar hoje que ficaram apagadas por esse motivo vozes como as de António Gedeão, Amália Rodrigues, David Mourão-Ferreira, Amélia Rey Colaço, Raul Solnado... Algumas mais decorreram quando não existiam sequer gravadores portáteis, caso de Aquilino Ribeiro. Na inexistência de cassetes e disquetes, o que resta é o papel impresso - jornais e revistas - que pacientemente temos vindo a recuperar a partir de coleções, arquivos, bibliotecas. No cômputo não só de entrevistas mas também de reportagens, artigos, crónicas, críticas e contos (num total superior a um milhar de peças) estimamos que, no termo deste primeiro ano, quase uma quarta parte já se encontrará acessível.



Assinalando o primeiro aniversário deste "sítio de encontro" desafiámo-nos a responder ao questionário que propusemos nos últimos meses a figuras da literatura, do jornalismo, das artes e das ciências. TUDO-NADA SOBRE MIM é um questionário moderadamente proustiano e configurado passo a passo pelos próprios convidados, porquanto têm a possibilidade de acrescentar uma pergunta que de futuro ficará incorporada na matriz...




MARÇO DE 2012







RUI BEJA UMA VIDA DE LIVROS

Texto de Gil Montalverne por especial cortesia



Há muitos anos que conheci o autor, precisamente no Círculo de Leitores, onde acompanhei todo o seu percurso até ao último cargo de administrador. Já antes, como sócio, adquiria regularmente algumas edições que hoje povoam as minhas estantes e são, sem sombra de dúvida, das melhores leituras que é possível recomendar. Não porque as escolhi. Mas simplesmente porque o Círculo de Leitores pautou a sua gama de edições pelo que de melhor havia na literatura mundial, incluindo naturalmente os autores portugueses. Claro que, como um Clube de Livros que era, houve sempre a necessidade de ter entre os títulos editados obras que agradariam mais a uns do que a outros.E por isso mesmo significava um êxito editorial no mercado português. Mas estou a afastar-me deste livro em si e sobre o qual haveria muito que dizer se o espaço e o talento não me faltassem. Tal como o subtítulo menciona, Rui Beja apresenta-nos não só a sua vivência dentro da editora como também a Memória de 30 anos do Círculo de Leitores que foi afinal quantos o Círculo comemorou em 2001. Uma Janela é sempre algo que se abre e esta abre-nos as portas do que se viveu naquela casa onde os livros passavam pelas várias etapas que lhes são específicas: desde a leitura atenta dos manuscritos à sua edição propriamente dita. Rui Beja, licenciado em Controlo Financeiro pelo Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa iniciou a sua actividade no Círculo como Director Financeiro e assumiu o cargo de Presidente Administrativo em 1992.


Extraordinário é como Rui Beja nos consegue conduzir ao longo da história de uma editora de livros com o mesmo interesse que teríamos em ler um romance marcado por avanços e paragens momentâneas para escolher o melhor caminho, mas sempre conduzindo da melhor maneira a forma de tornar aquela editora uma referência nacional e internacional nos meios literários. Mas o extraordinário que Rui Beja nos consegue também dar neste seu livro e que considero de inegável interesse é como ele acompanha toda a história do Círculo e a sua de um rigoroso estudo histórico dos acontecimentos de carácter político e cultural que classificam um período muito triste e trágico da nossa história recente. As perseguições políticas a escritores, jornalistas e intelectuais que foram impedidos e alguns presos e traumatizados pelo fascismo. Tudo acompanhado de uma documentação cuidada que inclui extractos de ofícios, estatísticas, etc. Um trabalho admirável que nos reaviva a memória dos que viveram tais tempos e revela aos que vieram depois e não os conheceram nem lhes é por vezes contado como devia ser. Mas voltando ao Círculo, a Casa Mãe Bertelsmann, que tivemos oportunidade de visitar, acompanhando um anterior administrador mas certamente com o apoio de Rui Beja tinha um lema, aliás citado no livro, que afirmava: «A falta de velocidade é nos dias de hoje um luxo a que não nos podemos dar». Estávamos então em 2000/2001.
O Círculo era já um exemplo e não por acaso foi em 1998 distinguido com o prémio da Revista Exame para a “Melhor entre as Maiores” empresas no sector de “Edição, Informação e Artes Plásticas”. De facto, e isso vamos constatando ao folhear este livro de Rui Beja, o Círculo de Leitores apostou fortemente numa área que tinha de lutar nesse tempo com uma taxa de trinta por cento de analfabetismo, contra uma censura cega que negava tudo o que fosse acesso ao conhecimento e à cultura. Conforme refere Francisco José Viegas, ao tempo pertencente aos quadros daquela casa dos livros, o Círculo de Leitores representava na época, ao pensarmos hoje nos poderes da Internet, «a verdadeira rede social erigida em nome da leitura, transformando os costumes portugueses e as paredes das casas de família, com as lombadas e colecções históricas que obrigaram milhões de portugueses a ler, a conhecer os nomes dos autores e a partilhar essa experiência entre pais, filhos (e) vizinhos.»

LPCC Era a verdadeira fonte do conhecimento para os que queriam ir mais além no seu direito à cultura que se torna também um prazer. Mas um prazer que nos traz sempre algo que se fixa na nossa memória e que nos ajudará mais tarde a melhor reflectir, decidir e actuar. As diferentes ideias que, como director financeiro ou como administrador, Rui Beja permitiu que fossem divulgadas e chegassem às mãos dos leitores contribuíram com toda a certeza para um Portugal mais culto e esclarecido.

Há poucos meses, Rui Beja legendou esta imagem com as palavras seguintes: «Passados quarenta anos, o país democratizou-se e a janela dos livros
abriu-se. A família alargou, cresceu e tem pela frente o desafio de sempre:
Abrir novas Janelas!»








Como é natural, para compreendermos a personalidade de Rui Beja, ele dispõe nas primeiras páginas uma completa autobiografia e dela se inferem já muitas ideias que mais tarde viria a pôr em prática, depois fala-nos dos tempos difíceis em que era necessário lutar por elas e vencer, etapa a etapa, a rota que ele iria traçar, num trabalho dentro do Círculo de Leitores que sempre conhecemos com lealdade e respeito pelos seus colaboradores. Não será possível esquecer – pelo menos no meu caso – o sorriso aberto com o qual nos recebia durante os lançamentos que viriam a tornar-se grandes sucessos editoriais. Era fácil adivinhar, depois de com ele privarmos um pouco, que a sua forma de trabalhar dentro do Círculo era para além de exemplar um verdadeiro estímulo para todos dentro daquela casa darem o melhor de si e do que sabiam. E por isso a ele se devem certamente tais sucessos. Rui Beja era um exemplo a seguir. O Círculo foi até certo ponto o espelho da sua vontade e do seu saber. Cresceu com toda a certeza porque teve à sua frente pessoas que deram o melhor de si para que a cultura fosse elevada ao grau que merece. Lançaram-se novos autores, editaram-se os grandes clássicos da literatura portuguesa, traduziram-se os mais ilustres nomes da literatura mundial, não se esqueceu a História, a nossa e a universal, como não se esqueceram as grandes áreas da Ciência na sua vertente mais Técnica ou da Biologia, as Artes, os Ensaios, os livros práticos de divulgação eventualmente mais ligeiros, as religiões, e todo um vasto mundo cultural que hoje constitui o seu enorme catálogo de títulos, muitos deles há muito esgotados. Rui Beja ficará sempre com um dos nomes que mais influenciou os êxitos que o Círculo de Leitores espalhou pelas nossas casas. Saiu no momento em que uma transformação se aproximava e que certamente não estaria de acordo com os seus critérios. Facilmente se compreende ao observar o que se passa nos dias de hoje. Mas aqui o que importa salientar é como neste livro fica extraordinariamente bem documentado todo o percurso desta verdadeira Casa dos Livros, que foi a sua e que representou uma parte da de todos nós. Rui Beja tinha e tem, posso afirmá-lo com toda a certeza, um grande amor pelos livros.

Obrigado Rui Beja pelo prazer que me deu em ler esta obra que também agora divulgo aqui a convite dos dois jornalistas autores deste sítio.


http://amorpeloslivros.blogspot.com
Excertos da obra apresentada aqui






JOSÉ AFONSO MEMÓRIA DE TORMENTOSOS DIAS
VIVIDOS NO BRASIL SOB DITADURA MILITAR


zeca Há 25 anos, muitos milhares de pessoas, oriundas de todos os pontos de País, despediram-se de José Afonso entoando Grândola Vila Morena. Setúbal ficou pejada de cravos. Respeitando a vontade expressa pelo poeta e cantor não houve luto nem bandeiras de partidos.

José Afonso padecia de esclerose lateral amiotrópica que o vinha minando desde há quatro anos. Médicos e amigos (ele próprio, também) sabiam que dificilmente conseguiria resistir por muito mais tempo. Sucumbiu a uma paragem cardíaca numa fase em que já estava ligado a um ventilador no Hospital Distrital de Setúbal.

Uma hora depois de conhecida a notícia, da Redação do Diário de Notícias em Lisboa telefonámos ao nosso camarada José Viale Moutinho, no Porto, onde à época chefiava a delegação do jornal, pedindo-lhe uma crónica. Respondeu-nos: «Estou a escrevê-la.» Na realidade, Viale é autor de um livro sobre José Afonso, ninguém melhor do que ele poderia recordar os momentos de vivência com um amigo de todas as horas. Escolheu para tema principal do seu texto as peripécias ignominiosas por que passaram ambos numa viagem ao Brasil, então sob ditadura militar. José Afonso participaria ali num festival internacional com A morte saiu à rua - em memória do escultor José Dias Coelho, assassinado pela PIDE.

Recuperamos esse texto com uma breve adenda de Viale Moutinho escrita há poucos dias, ao mesmo tempo que proporcionamos uma audição dos vibrantes três minutos de A morte saiu à rua na voz inesquecível de José Afonso.


  

FEVEREIRO DE 2012




ARTUR PORTELA REPÓRTER DE GUERRA "APAGADO" PELO FRANQUISMO


LPCC Complementando a homenagem prestada a Artur Portela na ocasião do centenário do seu nascimento, revelamos um episódio bizarro ocorrido no final da Guerra Civil de Espanha, cuja cobertura jornalística foi em grande parte realizada magistralmente pelo grande repórter português.

Em setembro de 1936, Artur Portela, republicano e democrata indefectível, encontrava-se por casualidade na linha de captação fotográfica de um vitorioso Francisco Franco, após a rendição dos republicanos em Alcazar. Precisamente ao lado do caudilho. Numa imagem que importava conservar na memória documental do novo regime político. Que fazer ao intruso, tão estranho ao ofício da guerra, para mais forasteiro e sobretudo ideologicamente dissonante? O contratempo resolveu-se com uma perícia inspirada nos artífices estalinistas dos expurgos e das falsificações iconográficas. Há oitenta anos, a décadas do advento do Photoshop, a manipulação fotográfica já era uma especialidade artística altamente apurada...
PF



  
(EM ADENDA AO TEXTO CELEBRATIVO DO CENTENÁRIO DE ARTUR PORTELA)

FEVEREIRO DE 2012




RÓMULO DE CARVALHO / ANTÓNIO GEDEÃO :
O CIENTISTA E O POETA MORRERAM HÁ 15 ANOS

Sim, intencionalmente usamos o plural «morreram».
Morreram há 15 anos (19 Fevereiro) o homem de ciência e o poeta. Ou o Poeta da Ciência. Inseparáveis e ao mesmo tempo distanciados. A condição de "pessoa partida ao meio" foi gerada pelo próprio cientista / poeta: o primeiro não disfarçava a incomodidade de lhe citarem a sua "outra metade", pelo que os amigos se habituaram a respeitar a "partição" de individualidades.
Continuamos a trautear Pedra Filosofal, especialmente divulgada pela voz de Manuel Freire. Continuamos a celebrar o Dia Nacional da Cultura Científica na data de nascimento do cientista. E hoje celebramos ambos recordando a grande entrevista que lhe fizemos em 1995, decerto a mais extensa por ele concedida a um órgão de informação (no caso, o Diário de Notícias), anos depois antologiada em livro e reproduzida aqui na íntegra.

A efeméride suscita-nos a oportunidade de eleger, no espaço próprio deste sítio, Rómulo de Carvalho / António Gedeão como uma das cem mais fascinantes figuras do século XX português.



FEVEREIRO DE 2012






POESIA COM MARIA AZENHA E RISOLETA PINTO PEDRO

O ano começou-nos bem, logo no dia 2 de Janeiro, com a caixa do correio repleta de romãs. A romã, um dos mais pictóricos e alegóricos frutos, é o pano de fundo do novo livro de Maria Azenha. A Sombra da Romã reúne 51 poemas que obedecem à síntese (dois, três versos) com uma densidade poética inscrita num género que na poesia portuguesa contemporânea celebra mestres como David Mourão-Ferreira e Albano Martins. Continua a correr-nos bem o ano, agora tendo como Convidadas não só Maria Azenha, com um poema inédito, mas também Risoleta Pinto Pedro, autora de um belo texto alusivo ao livro.


JANEIRO DE 2012






JORGE REIS-SÁ : TUDO-NADA SOBRE MIM

No momento em que chega aos escaparates um novo livro de poesia de Jorge Reis-Sá (Mulher Moderna), temos como Convidado o escritor e também editor para quem estas duas atividades «se confundem diariamente sem nunca se confundirem profissionalmente» – uma das respostas ao nosso questionário "Tudo-Nada Sobre Mim".
Recordamos uma entrevista realizada quando foi lançado o seu livro Biologia do Homem. Oportunidade ainda para revisitar na secção "Leituras" duas das suas obras poéticas: Livro de Estimação (2005) e Vou para Casa (2008)..



JANEIRO DE 2012






CONSELHO DE MINISTROS ANUNCIA RESOLUÇÃO:
2012 SERÁ O ANO DE PORTUGAL NO BRASIL. JÁ SE NOTA!

PRIMEIRA INICIATIVA É DE ESTALO: ENCERRAMENTO DE UMA
LIVRARIA HISTÓRICA NO RIO DE JANEIRO


LPCC

O Diário da República da passada sexta-feira, dia 13, publica a resolução do Conselho de Ministros sobre um acordo com o Brasil elegendo 2012 como Ano de Portugal no Brasil, igualmente o Ano do Brasil em Portugal.

No preâmbulo da resolução afirma-se que em 2012 serão realizadas «iniciativas concebidas como oportunidades para atualizar as imagens recíprocas, promover as culturas e as economias de ambos os países e estreitar os vínculos entre as sociedades civis.»

A imprensa do Rio de Janeiro tem dedicado espaço alargado ao “fechamento” da Livraria Camões. Alguns articulistas criticam que Portugal não tenha «valorizado um dos seus símbolos culturais no Brasil, construído ao longo de 40 anos.»
Na imagem: uma das reportagens publicadas pelo diário "O Globo".









LPCC

Portugal, lesto, já deu o primeiro passo para a promoção da sua cultura no Brasil, mandando encerrar a histórica Livraria Camões no Rio de Janeiro. Uma iniciativa de estalo.

Centenas de cidadãos brasileiros estão a celebrar com o maior entusiasmo esta primeiríssima iniciativa do Ano de Portugal no Brasil, como poderá verificar-se no Manifesto que desde o dia 11 dinamizamos também no nosso país.

José Manuel Estrela, uma das pessoas que mais tem divulgado a cultura portuguesa no Brasil, foi avisado de que a Livraria Camões, cuja gerência lhe estava entregue há mais de trinta anos, será encerrada muito em breve. Saramago dedicou a José Estrela belas palavras (reproduzidas no espaço desta informação).









LER E ASSINAR:

http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=camoes


LPCC

Vale a pena conhecer os comentários dos nossos irmãos brasileiros para se confirmar que o estreitamento dos vínculos entre Portugal e o Brasil está mais apertado que nunca. Um valente apertão, bem pode dizer-se, para com os decisores políticos portugueses.


Numerosas apresentações de obras de autores portugueses foram realizadas na Livraria Camões. Nesta foto de 1988 podem ver-se o ilustrador brasileiro Guidacci, o escritor João Aguiar (já falecido), o livreiro José Estrela (último à direita) e ao centro, sentado, o jornalista José Alberto Braga, nosso Convidado neste momento










ÚLTIMAS SOBRE O ENCERRAMENTO DA LIVRARIA CAMÕES

• Uma vez alcançadas mil assinaturas no âmbito da Petição Pública empreendida por cidadãos brasileiros, desejam os promotores que os 59 escritores portugueses que subscreveram um manifesto análogo no nosso país assinem igualmente a Petição brasileira. Alguns já o fizerem, porém em número reduzido.


livro• José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores e redator do excelente texto daquele manifesto, enviou aos jornalistas autores deste "sítio de encontro" a mensagem que muito nos apraz transcrever: «Há lutas que devemos travar independentemente dos resultados, batendo-nos pelo que é justo. Fico numa indignação sem freios, atentos os valores que um país decente nunca poderia deixar de defender. Um forte abraço, grato por toda a vossa devoção à cultura.»

• Imprensa e académicos do Rio de Janeiro criticam «opção drástica» em vez de se ter dinamizado «um símbolo da cultura portuguesa na cidade» (título de um dos peródicos).

• O livreiro José Estrela revela que a comunicação do fechamento (vocábulo brasileiro equivalente a encerramento em Portugal) foi por ele recebida no dia 6 de Janeiro, em carta assinada por Estêvão de Moura, presidente da Imprensa Nacional – Casa do Moeda (INCM). Na carta indica-se como motivo da decisão «a evolução tecnológica, social e cultural verificada ao longo do tempo, com especial evidência nas duas últimas décadas, que fez evoluir o contexto em que se inscreve a missão com que a Livraria Camões foi inicialmente constituída.»

• «Por que não reinventam formas de dinamizar a livraria?» – pergunta Gilda Santos, conhecida professora de Literatura Portuguesa na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em declarações ao diário O Globo a académica sublinha: «Nosso pasmo é que, enquanto as editoras Leya e Babel estão entrando com toda a força no Brasil, a Imprensa Nacional (INCM) diz que a Livraria Camões está obsoleta. Por que então não a transformam?» [Estêvão de Moura, presidente da INCM, tem sob a sua alçada o Marketing Estratégico e Desenvolvimento.]


livro • A professora Cleonice Berardinelli, a maior especialista em literatura portuguesa no Brasil, já homenageada no nosso país, escreveu ao presidente da INCM lamentando o fechamento do «último reduto, no Rio, da aquisição de livros de Portugal» e diligenciando a possibilidade de se revogar «tão drástica decisão.»

• Uma comunidade de entusiastas brasileiros da cultura e da literatura portuguesa está a participar no Facebook sob o lema «A Livraria Camões é património do Rio de Janeiro.»

• O diário O Globo recupera as palavras que José Saramago dedicou ao gerente da livraria: «O Estrela é Portugal no Brasil. Instiga os brasileiros a comprarem os nossos livros – mas a nós, que sabe que os lemos e temos, quer é mostrar-nos a maravilha que é o Brasil. Este homem é um achado, um grande divulgador da cultura portuguesa através do livro e um cultor das relações Portugal-Brasil.»



JANEIRO DE 2012