EDITE ESTEVES


NAS ASAS DOS SONS

A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza
que encanta a alma e a eleva acima da sua condição.

Aristóteles


Preâmbulo

Estão a ver o monumental Palácio Nacional de Mafra, também conhecido por Convento de Mafra, em resultado de uma promessa que o rei D. João V fez para garantir a sucessão do trono, classificado em 2019 como Património Cultural Mundial da UNESCO? Aquele onde se inspirou o nosso Nobel da Literatura José Saramago para escrever “O Memorial do Convento”, romance  internacionalmente conhecido, publicado pela primeira vez em Outubro de 1982 e cuja acção decorre, exactamente, no início do século XVIII, durante o reinado do cognominado rei “magnânimo”? Lembram-se das personagens inesquecíveis do operário Baltasar e do seu grande amor, Blimunda, mulher dotada do estranho poder de ver o interior das pessoas? E daquele aparelho voador que sobe em direcção ao Sol, a Passarola, inventada pelo padre Bartolomeu de Gusmão?
Pois esse é o cenário principal da nossa história, a par de uma deriva paralela constante com um outro “palco” mais comum: o do aeroporto internacional de Lisboa, então da Portela e hoje designado por Humberto Delgado. As personagens de Saramago servem tão somente de pilares para a compreensão do sentido da trama e do seu deslindar.
Corre a década de 80 do século XX.
Personagem principal e única, além do narrador: o mafrense Francisco José da Silva Alves Gato, filho de Xico Gato, carrilhonista do Palácio Nacional de Mafra e, simultaneamente, piloto da TAP. Uma paixão amadora versus uma paixão profissional. Em aparente contraste(?)…
Forma de narração adoptada: a de um guião para documentário televisivo.
Foquemo-nos no ritmo de alternância de cada take. Sem palavras.
Apenas com os sons de fundo e a voz funda das memórias ditas e escritas.

Cena I

Impecavelmente aprumado na sua farda azul escura, camisa branca, gravata escura e boné descaído sobre o lado direito da testa alta, Francisco Gato atravessa as salas do aeroporto num passo estugado mas certo, puxando o seu trolley de serviço.
Elegante, como todos os pilotos de aviões comerciais, chama a atenção sobre si. Não conseguimos desviar os olhos da sua figura esguia, de postura determinada e firme.
Sai da carrinha, alinhado, atravessa os poucos metros de pista que o separam do avião que irá pilotar. Concentrado, sobe a meia dúzia de degraus metálicos e entra no cockpit.

Cena II

Domingo à tarde. Do lado de lá da entrada do Palácio de Mafra no Terreiro D. João V, sala de visitas imponente da vila que dá nome ao convento outrora destinado aos franciscanos, Francisco Gato sai de casa. Calças de ganga, camisa solta, sapatos desportivos e cabelos ao vento, apressa-se a atravessar a distância que o separa da Torre Sul sineira do palácio. Um sorriso nos lábios descontraído.
Galga o primeiro lance de pedra e empreende a subida íngreme da escada em caracol, estreita e fria, que o conduz, finalmente, junto ao carrilhão, um complicado sistema, parecido com um pesado órgão, que se liga a umas cinco dezenas de sinos.

Cena III

Já sentado, o piloto cumprimenta com um gesto rápido de cabeça o companheiro de navegação e, meticulosamente, começa de imediato a testar cada botão com a minúcia técnica exigida pela responsabilidade de transportar duas dezenas de passageiros pelo ar.
Em gestos curtos, rápidos, cirúrgicos, acciona os motores do avião num painel complicadíssimo onde botões, luzes e ponteiros lhe conferem a precisão para poder descolar com todos os cuidados necessários a mais uma viagem de sucesso.

Cena IV

Toda a sua vida e mesmo quando ainda estava na barriga da mãe, costuma dizer, Francisco José habituou-se a ouvir o som dos carrilhões da sua terra. Aliás, fora o seu pai, Xico Gato, o primeiro carrilhonista do palácio de Mafra, a levá-lo com ele, teria uns cinco anos apenas. A paixão foi-se entranhando e, quando o pai se aposentou, foi o seu natural substituto, apesar dos revezes que o Estado Novo ainda lhe impôs, não fosse ele querer esquivar-se a ir para a guerra em África…
Com estes pensamentos sempre presentes, Francisco Gato, porém, não hesita em fazer jus ao seu amor por tocar carrilhão, normalmente aos domingos ou em festas e dias especiais. Os seus concertos tornam-se célebres e os convidados não se fazem esperar.
Mas… não é tarefa delicada, não, esta de tocar carrilhão e então o maior conjunto de carrilhões da Europa do século XVIII sobrevivente, em que os dois carrilhões existentes, na Torre Norte e na Torre Sul, são compostos por 119 sinos, o maior dos quais pesa 12 toneladas!!!
É na altura que se senta e começa a tocar que Francisco se lembra sempre das palavras do pai: «Filho, prepara-te para sofrer com o carrilhão!».
«É que tocar carrilhão magoa as mãos e faz calos. Sai música, é certo, mas é preciso tocar-se a murro e a pontapé!”, justifica o carrilhonista. E, de facto, fomos testemunhas: para tocar os sinos mais leves, ou seja, os que transmitem os sons mais agudos, Francisco precisa de fechar os punhos e dar murros com a parte exterior das mãos sobre as enormes teclas de madeira e para accionar os mais pesados, os de som mais baixo, tem de dar fortes pontapés nos pedais. Para tocar carrilhão é, literalmente, preciso ser a murro e a pontapé.
«No final de cada concerto cheguei a perder dois a três quilos!», desabafa.

Cena V

Uma última conferência com o 2.º piloto e a torre de controle do aeroporto de Lisboa dá ordem para Francisco Gato pôr em marcha, finalmente, a enorme “ave”.
Os motores roncam de forma ensurdecedora e o aparelho faz-se à pista, devagar, para apanhar o corredor de partida. O destino, bem, o destino é longínquo, não podemos precisar. Houve muitos…
Acelerando cada vez mais, o avião levanta as rodas da pista e num trovejar sobe em direcção ao céu. O som não é harmónico, nem pensar, é como se arrancasse as entranhas de um vulcão. Um troar que arrepia.
Passados, porém, escassos minutos, a voz serena de Francisco acalma o ambiente sempre expectante que se cria no levantar de um voo. Dá as boas vindas aos passageiros e deseja a todos uma viagem tranquila. Ele fará por isso.
Um “ah” de alívio ouve-se entre os passageiros. O aparelho ergue as asas cada vez mais, até atingir o topo das nuvens e parece planar no infinito.
Uma sensação emotiva para o nosso piloto, encantado com a harmonia daquela música para a sua alma.

Cena VI

Com os punhos cerrados, o carrilhonista de Mafra arranca os sons mais altos da melodia que começa a tocar e os seus pés, pontapeiam com força os pesados pedais que põem os sinos maiores e de som mais grave a badalarem.
«Eu tenho mais de 30 músicas compostas de propósito para carrilhão. Estão registadas e arquivadas no palácio», confia-nos.
Aliás, refere que quase todas as melodias vão bem, mas tem de escolher um repertório que condiga com o porte do carrilhão. Adapta-se bem à música clássica, à música composta para cravo e à própria música popular portuguesa.
Gosta, especialmente, de tocar fados e afirma que as guitarradas funcionam muito bem no carrilhão. As sonatas do compositor oitocentista Carlos Seixas são as suas melodias preferidas. E é com uma destas melodias que irrompe no claustro ao ar livre o magnífico som celestial do carrilhão de Mafra. Para maravilha dos presentes que enchem o espaço de emoções incontidas. Sempre.
Bem razão tinha Jean Cocteau ao afirmar que o« virtuoso não serve a música, serve-se dela»… Francisco Gato que o diga. Durante vários anos o único carrilhonista de Mafra em actividade contínua serviu-se dos sons dos sinos do carrilhão do convento para estender o diálogo espiritual com os seus ouvintes, elevando ao infinito o deslumbre de tal harmonia.
Que lhe custava a perda de alguns quilos, mas que «poderia ter sido a comunicação das almas, se não tivesse havido a invenção da linguagem, a formação das palavras e a análise das ideias», conforme defendeu Marcel Proust, o escritor francês do início dos anos 20 do século passado, autor da afamada obra Em Busca do Tempo Perdido.

Cena VII

É de imaginar o que sentia Francisco Gato quando o voo do seu avião da TAP estabilizava por algumas horas. Nos seus ouvidos e na sua mente, de certeza, que ia compondo as músicas para tocar no seu carrilhão. Os especialistas belgas e holandeses — os melhores que havia e ainda há, ao que parece — diziam que a forma de tocar deste rapaz do Sul da Europa era diferente. Ele confirma. Mas não sabe bem explicar porquê.
«Pouco importam as notas na música, o que conta são as sensações
produzidas por elas», refere o poeta soviético Leonid Pervomaisky.
E o piloto-carrilhonista, com formação em Engenharia no IST e o 5.º ano do Conservatório Nacional logrou alcançar o fundo do coração dos seus ouvintes. Foi mesmo considerado «a alma dos carrilhões de Mafra».
Para nós, que o vimos e o ouvimos tocar, foi dos momentos mais marcantes e inéditos da nossa vida de jornalista. Um privilégio! E lembramo-nos como se expressava o escritor, Johann Goethe, a propósito da música: «O ritmo tem algo mágico; chega a fazer-nos acreditar que o sublime nos pertence».

Cena VIII

Desgrenhado, empapado em suor, Francisco Gato fica por momentos estático como que a absorver o eco do voo do som que transmitiu. Tem a alma a transbordar de alegria e de um consolo inexpugnável.
Desce os degraus de pedra, serpenteados, agora sem pressas, deixando os convidados escoar o palácio e vai pensando como tem uma vida cheia de harmonias e como consegue conjugar duas paixões tão aparentemente díspares.
No fundo, conclui: «Afinal, apesar dos contrastes tão vincados, ambas tendem para um plano superior, para o infinito! Os meios é que são diferentes. Até se completam…».

Cena IX
Final

«Senhores passageiros, acabamos de aterrar em Lisboa! Foi um prazer estar convosco!». A voz de Francisco-piloto aí está. E os aplausos irrompem entre os passageiros.
Os aplausos que também no final do concerto no Palácio Nacional de Mafra se ouvem, emocionados com o estado de graça proporcionado por Francisco-carrilhonista ao longo de toda a sua actuação.

Epílogo

Os aplausos intercalados entre os do avião e os do claustro onde se realizou o concerto formarão a apoteose desta história que tanto me marcou ao longo dos anos e nunca mais esqueci. Aplausos contrastantes mas repletos uns e outros de forte emoção.
«A música oferece à alma uma verdadeira cultura íntima e deve fazer parte da educação do povo», pensava François Guizot. Apesar de ser um liberal-conservador, tal como D. João V era um rei absolutista, o certo é que, pese embora todos os seus exageros, contribuiu de forma decisiva para a educação dos portugueses, através das letras, da ciência e das artes, nomeadamente da música.
E agora, passados 15 anos de silêncio, os carrilhões de Mafra, finalmente reparados e afinados como deve ser, poderão voltar a fazer-se ouvir para bem dos nossos mais íntimos sentimentos. Aplausos duplos!



A semelhança com a realidade toca-se em bastantes pormenores… se a memória de uma longínqua entrevista
para o jornal “A Capital”, onde, na altura, era Grande Repórter, não me atraiçoa de todo.






VICTOR OLIVEIRA MATEUS


VELHICE: MÁSCARAS E UNIVOCIDADE

Eu, uma criança, muito velha, olho ao longe, para
além das ondas, em direção à casa maternal,
a terra das migrações.

Walt Whitman


Não é difícil imaginar como o corpo e o rosto podiam permanecer imperscrutáveis nas comunicações, não presenciais, das primeiras décadas do século XX. A ocultação do rosto nas comunicações à distância era assim um comportamento de evitamento que salvaguardava, remetente e destinatário, do pormenor e de uma exposição minuciosa das marcas do tempo. Nestas décadas, o outro longínquo como tal permanecia, bem ao contrário do longínquo-próximo que nos é dado pelas redes sociais, whatsapp e meios similares das primeiras décadas do século XXI. Nesses primeiros decénios do século XX, e neste contexto sociocultural, visava-se o longe pelo telefone modelo castiçal, pertença exclusiva das classes altas ou de certos estabelecimentos comerciais aonde os pobres se deslocavam se acaso precisassem de telefonar, mas também proliferava o correio aéreo e terrestre onde a língua do remetente passada a preceito no verso da estampilha e da pestana do sobrescrito dava os últimos retoques para a eficácia da comunicação. Estes eram os modelos comunicacionais predominantes, que, contudo, não excluíam outros provindos do século anterior como os adstritos à columbofilia, ao morse, etc., que ainda hoje se mantém em círculos muito específicos. Alguns destes meios de comunicação, ao longo do tempo e em Portugal, sofreram derivações, como, por exemplo, os aerogramas tão usados aquando da guerra colonial, todavia, o que podemos enfatizar é que estávamos sempre perante a ocultação do rosto, só acidentalmente desvelado em fotografias a preto e branco que esporadicamente se enviavam a destinatários perfeitamente identificados.
Acompanhar o processo de envelhecimento do outro ausente mantinha-se assim conduta ingente e quase sempre de resultados gorados. Todavia, se não se pode acompanhar um dado processo no mesmo, isso não obstaculiza a apreensão de uma ou outra dada etapa, do seu produto final e da inquietação sobre o tema com a consequente reflexão em torno do mesmo, aliás, na esteira do que sempre tinha sido efetivado desde a Antiguidade.
Em 1970, Simone de Beauvoir publicaria o seu La vieillese (Ed. Gallimard), que segundo palavras da filósofa se destinava a produzir na reflexão em torno do mundo dos idosos o mesmo efeito que o Le deuxième sexe (Ed. Gallimard, 1949) havia produzido no universo feminino. O livro em questão, organiza-se em duas grandes secções: como a sociedade encara a velhice e como as famílias e os vários filósofos a têm visto, mas também a vida através do olhar de um cidadão idoso, isto é, as condições socioculturais que rodeiam a velhice: pobreza, marginalização, negligência, anonimato. Esta obra, que visa dar-nos o sentido unívoco do que é a velhice, dá-nos acima de tudo, com a máxima exigência, todo um conjunto de máscaras com que ela se nos tem apresentado: máscaras sociais, económicas, culturais e políticas. Em entrevista televisiva posterior, Beauvoir confirmará que envelhecer é muitas coisas ao mesmo tempo: uma degenerescência de órgãos, uma diminuição ou anulação de funções biológicas e cognitivas, uma condenação à falta de trabalho e consequente quebra no nível de vida e mesmo à rotulagem de pária e empecilho, como o testemunha o escabroso epíteto posto a circular por um jovem ligado a uma governação de triste memória, que apelidou os reformados de peste grisalha. Pela altura desta entrevista de Beauvoir, Sartre concede também outra, onde, acidentalmente, refere a sua situação de velho, aqui o filósofo regressa ao capítulo dedicado ao Regard do L’être et le néant , bem como à conceção de Inferno esparsa por todo a sua obra dramática, diz ele que a apreensão de si enquanto idoso é uma apreensão mediatizada e não imediata nem espontânea, que é quando vai a uma manifestação e ouve alguém dizer: deixem passar o velho, que é aí que ele se perceciona enquanto velho, por conseguinte, a velhice são os outros. Torna-se aqui claro o hiato entre as duas abordagens do mesmo tema, quer quanto ao afunilar de cariz essencialista, quer quanto à abrangência visando particularidades.
Na entrevista já referida, e sempre com a preocupação de demonstrar o quanto a contemporaneidade subverteu o valor ser velho, Beauvoir afirma que o hoje se opõe aos mitos, onde os velhos se consideravam sábios, veneráveis e respeitáveis, esta tese parece, no entanto, não confirmada pela estrutura dos próprios mitos greco-latinos, onde até Cronos devora cinco dos seus seis filhos e Zeus se vinga do próprio pai agrilhoando-o nos mundos subterrâneos, aliás, o próprio Hesíodo não se esquece de referir Poseidón e Zeus como distribuidores de bens e males aos homens (Cf. Los trabajos y los dias, Aguilar, 1973, pp 63-64). Se na estrutura do mito o velho não tem um estatuto e um papel unívocos, o mesmo sucede em toda a literatura da Antiguidade, pois, se em Homero, circula o ancião Príamo, semelhante aos deuses (Ilíada, XXIV: 372) e aqui podemos encontrar o velho integro, cioso da honra, da dignidade e do culto dos mortos (Ilíada, XXIV: 322-691), se em Sófocles se nos defronta um velho integro mas sofredor e injustiçado (Cf. Filoctetes, Cotovia, 2006, p 27, pp 44-45; a opção por exemplificar com este texto não tem a ver apenas com a sua qualidade, mas também com o magistral desempenho que Luís Miguel Sintra teve desta personagem, no então Teatro da Cornucópia), o que é um facto é que também podemos achar, em toda esta literatura, o velho imbecilizado, ridículo e digno de escárnio (Cf, Aristófanes, As Nuvens, 1984: 140-165, 475-519). As máscaras da velhice são, por conseguinte, múltiplas, quer na obra de Beauvoir quer nos exemplos da Antiguidade para que ela remete, não existem, nem numa nem em outros, uma preocupação de tipo ontológico, que intente determinar a nível substancial o que é isso de velhice, que nos diga de forma unívoca o que se oculta por baixo desse conceito, preocupação não muito diferente a que percorre um outro continuum, paralelo, que se reporta de Cícero aos nossos dias.
Em Catão-O-Velho ou Da Velhice (Sociedade Editora Livros de Bolso, 2009), Cícero apresenta-nos um diálogo entre Catão, Cipião e Lélio, onde o primeiro irá refutar as quatro grandes falhas atribuídas à velhice: que afasta os homens dos negócios, que enfraquece o corpo, que suprime os prazeres da vida e que se encontra perto da morte. Logo no início da obra Catão estabelece a tese de que a velhice não é, para o sábio, um mal, já que se deve seguir o curso natural da vida. Esta aceitação do inevitável como veículo para a serenidade e o respeito pela ordem da natureza, princípios fundamentais do Estoicismo, atravessam toda esta obra: “(…) nós, que seguimos a natureza, o melhor dos guias, e a ela obedecemos como a um deus, somos realmente sábios.” (Cícero 2.5) e será a partir deste postulado que o filósofo demonstra que a velhice não é um mal. Quanto ao afastamento dos negócios, este argumento é desmontado com vários exemplos (Cícero 6.15-8.26), já que nada impede um velho de ser um excelente senador, um magistrado justo, um bom aconselhador de agricultores e tantas outras ocupações e negócios; relativamente à relação da velhice com o enfraquecimento do corpo, diz Catão: “Voltando a mim, - estou com oitenta e quatro anos(…) certamente já não possuo aquela força física dos tempos quando era militar (…) e, contudo, como vedes, não me sinto enfraquecido ou abatido devido à velhice (…) tenho menos força do que cada um de vós. Mas, vós não tendes a força do centurião Tito Pôncio; e será ele mais excelente por isso?” (Cícero 9.27-10.33), através de um processo de relativização demonstra-se que a falta de vigor não tem uma relação necessária com a velhice nem com a excelência, mas antes com a saúde e a sua falta, já que a debilidade tanto ataca velhos quanto jovens; no que diz respeito à relação velhice-prazeres (Cícero 12.39-18.65), Catão esmiuça os vários tipos de prazeres, alguns deles tão prejudiciais ao corpo quanto ao cultivo da virtude, por conseguinte, por que não há de sentir um velho mais prazer na reflexão e na observação da natureza do que um jovem na voluptuosidade e nos festins?; por fim, a quarta falha atribuída à velhice: o facto de ela estar perto da morte (Cícero 18.66-23.85) e aqui o autor é claro, pois a morte encontra-se perto de todas as idades: “Tem a juventude, muito mais do que a nossa idade, ocasiões para morrer: as doenças grassam mais facilmente entre os jovens…” (Cícero 19.67). Cícero trilha depois o caminho anunciado por Platão na Apologia e no Fedon : “depois da morte, ou não existe sensação ou, se existe, ela é agradável” (Cícero 20.74). Vemos, neste livro, que, embora não se determinando a univocidade do que é isso de velhice, e dela apresentando-se as mais diversificadas máscaras, apesar disso, ela não é um mal, mas antes um estado intrinsecamente ligado à acalmação dos sentidos, ao cultivo da razão e da virtude e, por fim, ao seguimento e respeito pela ordem da natureza. Este não encontrar uma definição, à boa maneira socrático-platónica, do que é a velhice em-si, mas antes a sua caraterização por vetores que a desvelam numa positividade multifacetada, ou seja, como fase da existência intimamente ligada à acalmação, ao saber, à virtude, à serenidade, será, então, este modelo de abordagem que se irá impor às reflexões subsequentes. Assim, Séneca criticando os que esbanjam o tempo que lhes é dado viver, ao contrário dos que nele refletem e aceitam a ordem da natureza e entendem a vida como uma preparação para a morte, diz que para os primeiros a vida é sempre curta, enquanto que para os segundos ela é um tempo suficiente, e Séneca conclui: “Os velhos fracos pedem mais anos de vida; fingem ser mais novos do que de facto são; confortam-se com este engano e enganam-se (…) Mas quando, por fim, alguma doença lhes recorda a sua mortalidade, morrem aterrorizados como se não estivessem apenas a deixar a vida, mas a serem arrancados a ela (…) Mas aqueles cuja vida não está envolvida em nenhum negócio vivem longamente. Não desbarataram a sua vida, não a desperdiçaram aqui e ali (…) Assim, por curta que seja, é plenamente suficiente e, portanto, sempre que o seu derradeiro dia chega, o homem sensato não hesitará em receber a morte com um passo firme.” (In Da brevidade da vida, Coisas de Ler, p 23).Séneca insiste, por conseguinte, na tese de que a razão arranca todos os vícios e que para aquele que a cultiva não há desterro possível nem temor que o amedronte, seja este o da pobreza, o da velhice ou o da morte: “Se não considerares o teu último dia como castigo mas como uma lei da natureza, quando tiveres lançado do teu coração o temor da morte, não entrará em ti qualquer terror” (In Consolação para Helvia, Coisas de Ler, p 59).
Vemos ainda que para o entendimento do que é a velhice em-si de pouco nos servem os contributos gerontológicos, sempre tão úteis na sua aplicabilidade prática, mas com as habituais falhas ao nível da delimitação de etapas e seus elementos constitutivos, bem como as compreensíveis incapacidades dos conhecimentos provindos da geriatria, todavia, os contributos vindos de um universo outro que o das ciências, como temos visto, também não deixam de se nos apresentar sempre com seus jogos de incompletude e refrações, pelo que poderemos aferir algumas conclusões intermédias: ao contrário da reduzida variabilidade etária das outras fases da vida (infância, puberdade, etc.) na propalada velhice essa variabilidade pode chegar às dezenas de anos; ao contrário do caráter fixista das mutações biofisiológicas (maturação das estruturas cognitivas, alterações no tipo de pensamento, maturação de dados sistemas como por exemplo o endócrino, etc.) que ocorrem nas outras fases da vida, na velhicenada nos garante que surjam processos demenciais, incapacidades físicas ou momentos de mendicidade afetiva e económica. Há, pois, uma abissal falha entre o olhar que se debruça sobre a velhiceprocurando-lhe a sua univocidade e aquele outro que identifica e esquematiza as outras fases da vida! Dela poderemos, e num regresso aos Estóicos, dizer tão-só e serenamente: “ Tudo está em transformação, tu mesmo és uma mudança constante e, em certo sentido, uma dissolução; é assim para o mundo inteiro.” (Marco Aurélio IX: 19), ou ainda: “ É ridículo e estranho todo aquele que se surpreende com um acontecimento da vida!” (Marco Aurélio XII:13). Contudo, esta aceitação serena da velhice não é apanágio do hoje ocidental, onde o culto do aparente e do vistoso, bem como a hipervalorização da juventude estabelecem cânones e engrossam mercados nas mais variadas áreas socioculturais, que nem sequer deixam de fora as mais diversas artes como o cinema e a apresentação pública do poeta. A civilização ocidental é, hoje, uma civilização assustada, que, entregue à ganância - para usar o termo de Peter Singer - e ao torvelinho do quotidiano, projeta nas gerações que a procederam os temores que o vazio que foi edificando não consegue superar. Nestes mecanismos de projeção e pânico certos epifenómenos mereceriam um estudo social e psicanalítico mais aprofundado, como por exemplo a associação velhice/lar de idosos (aliás, a própria análise da linguagem é reveladora de frustrações e mecanismos defensivos, pois como fuga ao medo sempre surgem novos conceitos: idoso, terceira idade, quarta idade, personas maiores , etc.), mas na associação acima referida não ocorre um estudo comparativo entre os residentes dos ditos lares e os milhares de crianças e jovens que vagabundeiam, adoecem e morrem em países asiáticos, africanos e da América latina. E eis-nos assim regressados aos quatro argumentos da obra de Cícero referida no início desse ensaio!
A impossibilidade de fixar num mero conceito ou numa única representação geral e abstrata de cariz científico esse estado, ou processo, comummente conhecido por velhice, visto a singularidade invadir toda a tentativa de generalização e o particular irromper aqui e ali e, com suas intrusões e variáveis não esperadas, recorda-nos o que um reputado psiquiatra e sexólogo disse acerca da problemática da orientação sexual, referiu ele, numa das suas crónicas, que não existe heterossexualidade nem homossexualidade, mas sim heterossexualidades e homossexualidades, assim, por abuso e paráfrase, poder-se-á também dizer que não existe velhice, mas velhices, velhos que aqui ali se poderão assemelhar, mas que também se podem distinguir (até ao nível da relação idade/ processos degenerativos) segundo os mais diversificados contextos e experiências vividas. É, portanto, a relação de afinidade que induz os processos de rotulagem e categorização, já que a velhice não tem um sentido unívoco, não passa do célebre flatus vocis à boa maneira do nominalismo de semelhança defendido por Guilherme de Occam: “ (…) o universal é um sinal, nada mais. O nominalismo de Occam consiste em manter esta posição, sem desfalecimento.(…) Occam nega essas essências (…) Este mestre de Oxford vê muito bem que pôr uma realidade equivale a pôr um indivíduo…” ( In A Filosofia na Idade Média de Paulo Vignaux. Coimbra: Arménio Amado Editor, 1959, p 195).
Esta recusa do universal e a omnipresença invasora do particular, se, por um lado apaga a essência daquilo de que se fala, por outro, não impede o acesso a conhecimentos e a aplicações práticas, do mesmo modo, aliás, que em Occam o singular podia sempre gerar no intelecto conhecimento. E este balancear do fenoménico e da sua cognoscibilidade é particularmente patente no modo como os diversos indivíduos vivenciam a sua própria velhice e a do outro – vejam-se dois exemplos radicalmente distintos: Montaigne, referindo que o modo como encaramos os bens e os males depende da opinião que deles temos (Essais: I:XIV), cita o que o poeta latino Albio Tibulo diz dos sofrimentos de dadas mulheres para parecerem mais novas, pois “Elas têm o cuidado de arrancar pela raiz todos os seus cabelos brancos e de reconstruirem um rosto novo removendo a pele envelhecida” (Elegias I:VIII), ora, se os romanos praticavam já a cirurgia estética e esta tinha empenhadas seguidoras, passados largos séculos não há ainda uma posição universal sobre tal modo de iludir o envelhecimento, como se pode ver numa entrevista – existente no youtube - que a romancista, poeta e atriz Rosa Lobato de Faria concedeu, diz a escritora acerca das operações plásticas, com aquela habitual sensibilidade com que costumava olhar o real e que depois punha nas palavras quando dele falava: “(…) tenho pensado bastante no assunto e de repente fiquei com medo que a minha cara, depois de uma plástica, perdesse algumas expressões que eu acho que só se tem no último terço da vida, uma delas é a da ternura infinita que eu só vejo nos olhos dos mais velhos.” Também a volatilidade das datações e das periodizações enfatiza a irrupção do particular, como já referimos, no que se pretendia positivo e unívoco e um dos casos mais interessantes foi o do próprio Montaigne que em 1570, com 38 anos e julgando-se velho, se entrincheira na sua torre para refletir, distanciar-se da realidade e escrever a sua obra, contudo, quando “chegou o ano de 1580. Durante dez anos esteve na sua torre, isolado do mundo e acreditou que acabaria assim. Agora reconhece o seu erro e Montaigne sempre reconhece os seus erros. O primeiro deles foi julgar-se velho aos trinta e oito anos, preparar-se para a morte demasiado cedo e, de facto, ter-se enterrado vivo. Tem quarenta e oito anos e, com surpresa, constata que os seus sentidos não estão fragilizados, pelo contrário, estão mais vigorosos, o pensamento mais esclarecido, a alma igualmente tranquila, mas mais ávida, mais corajosa, mais impaciente.” (In Montaigne de Stefan Zweig. Porto: Assírio & Alvim, 2016, p 70) e o filósofo dedica, então, o tempo que se segue a viajar, qual “homem de quarenta e oito anos, que brinca sempre com a velhice, tem mais vitalidade do que os jovens (…) chega ao seu castelo a 30 de novembro de 1581, mais jovem, com o espírito mais vigoroso e mais sagaz do que nunca. Dois anos depois nasce o último dos seus filhos.” (Cf. Stefan Zweig, Op. Cit. pp 79-81), após esta viagem, e como assinalava a obra de Cícero referida no início, Montaigne ainda é solicitado para esse árduo negócio que é conciliar o último dos Valois (Henrique III) com as pretensões ao trono do primeiro Bourbon (Henrique de Navarra, futuro Henrique IV). Sempre jogando à cabra-cega com a velhiceserá ainda pouco antes de morrer que Marie de Gournay, pouco mais velha do que a sua filha mais nova, se apaixonará por este homem através da sua obra.
O remover-se uma definição, positiva e universal, de velhice das diversas áreas de cariz científico pelo que nela circula de aleatoriedade, coincide com a incapacidade da antropologia filosófica em estabelecer, como temos vindo a ver, um objetivo semelhante. O mesmo sucedendo com quaisquer experiências ao nível do senso comum das quais salientamos duas: a) quando perguntámos a uma turma do 7º ano quem era a professora de inglês (pergunta direcionada e tendenciosa, já que houve o cuidado em escolher alguém rondando os quarenta anos e demasiado negligé ), a resposta foi precisa: era uma velha que costumava andar vestida deste e daquele modo, quando depois pegámos na resposta obtida e, na hora seguinte, expusemos a situação a uma turma do 12º ano, cujas idades oscilavam entre os 17 e os 22 anos, toda a turma se riu da ingenuidade dos colegas mais novos; b) quando um familiar de 21 anos, durante um jantar de amigos, deixa sair: “É que o meu primo tem a idade da minha avó paterna, mas a minha avó é velha… acho que foi sempre velha, só que o meu primo não é velho, não consigo vê-lo como velho.” E eis-nos, portanto, atirados para afirmação de Sartre, para a mediação do olhar na coisificação dessa etapa da vida vulgarmente apelidada de velhice. Vemos, por conseguinte, e regressando a Montaigne, que o espírito apreende estímulos e perceções segundo a medida que melhor lhe parece, devendo afastar-se sempre, para bem ajuizar, da ansiedade, da impaciência e da violência do desejo (Essais 3:X), até porque um mesmo acontecimento, como é aqui o caso da velhice, tem muitas facetas, e estas a uns podem suscitar indiferença ou riso, enquanto que a outros podem trazer dor e lágrimas (Essais 1:XXXVIII) e não é sem alguma ironia que Montaigne – muito antes das mortes nos campos de refugiados, por afogamento no Mediterrâneo, nas guerras e atentados de diversos tipos, nas pandemias por novas batérias cada vez mais resistentes, no tédio dos possidentes, nas overdoses, na fome extrema, etc., muito antes disto tudo, mas num tempo onde os níveis de mortalidade na infância, na juventude e na maturidade eram enormes – não é sem ironia, dizíamos, que ele afirma que a morte motivada pela falta de forças trazida pela velhice é a mais rara de todas e a que menos se usa (Essais 1:LVII) e reforça: “Morrer de velhice é uma morte rara, singular, extraordinária e muito menos natural que os outros tipos de morte” (Essais 1:LVII). E eis-nos, de novo, regressados à obra de Cícero referida no início deste texto, bem como aos nossos noticiários onde os estropiados, os fugitivos, os degolados, raramente são velhos. Vendo bem, e à guisa de conclusão, viemos à vida para representar um papel, depende de nós apenas representá-lo bem ou mal, mas qual o tipo de papel e se ele será de curta ou de longa duração isso escarpar-nos-á sempre (Cf.  Manuel d’Épictète de Arrien, 17). Esta tese de Epicteto aparecerá depois, recorrentemente, ao longo da cultura ocidental, embora com outras formulações, como se pode ver em La vida es sueño, de Calderon de la Barca e em A tia Tula de Miguel de Unamuno.
Impossibilitados de, a nível ontológico, apreendermos uma determinação categorizadora de tudo o que nos vários entes pulula e dá pelo nome de velhice, impossibilitados igualmente de encontrar um enunciado suficientemente claro e distinto, que aglutine e explique os diversos processos de degenerescência e/ou envelhecimento, resta-nos a farmacodinâmica tradicional, as terapias mais ou menos inovadoras como, por exemplo, a da dança estimulando atividades neuronais e físicas e restam-nos os objetivos a impor a si próprio que a tradição literária e filosófica, em cuidadas práticas e observações, deixou esparsa por inúmeras obras, podemos mesmo concluir este texto com uma das inúmeras máscaras da velhice, um olhar singular que uma dessas velhices individuais, sem dramatismos nem esconjuros, lançou sobre si própria: “A velhice ajuda a superar muitas coisas. Quando um homem idoso abana a cabeça ou murmura algumas palavras, uns veem nisso a expressão de uma sabedoria esclarecida, outros um sintoma do envelhecimento. Quanto a saber se a sua relação com o mundo deriva da sua experiência, da sabedoria que ele foi adquirindo ou apenas dos problemas circulatórios de que ele padece, isso permanece um mistério, até para o próprio velho.// É somente envelhecendo que nos apercebemos que a beleza é rara, que compreendemos o milagre que constitui o desabrochar de uma flor no meio das ruínas, a persistência das obras literárias através dos montões de jornais e de extratos bancários.” ( In Éloge de la vieillesse de Hermann Hesse. Paris: Calman-Lévy, 2018, pp 71-72).

Victor Oliveira Mateus
Poeta. Licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa

Uma nova obra poética de Victor Oliveira Mateus — Aquilo que não tem nome — será lançada no dia 10 de novembro, às 16h00, na livraria Ferin
(Rua Nova do Almada, 70 – Lisboa).









 GALOPIM DE CARVALHO


A DEGRADAÇÃO
DO ENSINO EM POPRTUGAL

Começo por dizer que não estou só nesta afirmação. Há pouco mais de um ano, o primeiro-ministro António Costa, na cerimónia de entrega do Prémio Manuel António da Mota, no Palácio da Bolsa, no Porto, disse, preto no branco: “De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”.
Como já escrevi, à semelhança do que se passou com a Primeira República, a classe política, no seu todo, a quem os Capitães de Abril, há 44 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada”, entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos civismo, cultura democrática e cultura humanística. Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a Educação. E, aqui, a ESCOLA FALHOU COMPLETAMENTE.
As muitas dezenas de comentários, desencadeados pelos meus escritos no Facebook sobre este tema, suscitaram um muito interessante debate, que me ajudou a consolidar a minha opinião sobre um grave problema que nos atinge e que urge enfrentar.
É, pois, minha convicção que:
Como no antigamente, a par de bons, muito bons e excelentes professores, muitos deles desmotivados, há outros, francamente maus, instalados na confortável situação de emprego garantido até à reforma.
A preparação científica e pedagógica dos professores não pode deixar de ser devida e profundamente avaliada, através de processos de avaliação a sério, criteriosamente regulados, por avaliadores devidamente credenciados.
Os sindicatos, nivelando, por igual, os bons e os maus professores, têm grande responsabilidade numa parte importante da degradação do nosso ensino público.
Os professores têm de saber muito mais do que o estipulado no programa da disciplina que devem ter por missão ensinar, não se podendo limitar a meros transmissores dos manuais de ensino.
Os professores necessitam absolutamente de tempo, e tempo é coisa que, no presente, não têm. É, pois, essencial libertá-los de todas as tarefas que não sejam as de ensinar.
É necessário e urgente repor, como inerência de cargo, a dignificação e o respeito pelo professor, duas condições que lhes foram retiradas com o advento da liberdade que os militares de Abril nos ofereceram e que a democracia não soube aproveitar.
É necessário e urgente que a Escola recupere todas as competências fundamentais à disciplina, aqui entendida como a obrigatoriedade de respeitar as normas estabelecidas democraticamente, o que evita o autoritarismo, conferindo a autoridade a quem a deve ter.
É necessário e urgente rever toda a política dos manuais de ensino, em especial no que diz respeito à creditação científica e pedagógica dos autores e revisores.
É preciso repensar a política de exames, a começar pela creditação científica e pedagógica dos professores escolhidos para conceber e redigir os questionários.
É necessário resolver o gravíssimo problema da colocação de professores, com vidas insuportáveis material e emocionalmente, a dezenas de quilómetros de casa, separados das famílias;
A remuneração dos professores tem de ser compatível com a sua superior importância na sociedade.
É preciso e urgente que o Ministério da Educação se torne numa das principais preocupações dos governos, não só na escolha dos titulares, como nas respectivas dotações orçamentais.
É urgente olhar para a realidade do nosso ensino e haver vontade e força política (despida de constrangimentos partidários), ao estilo de um “ACORDO DE REGIME”, capaz de promover uma profunda avaliação e consequente reformulação desta nossa “máquina ministerial”, poderosa e, de há muito, instalada.

A. M.Galopim de Carvalho
Professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa
Lisboa 5 de julho de 2018






NATÁLIA NEVES DOS SANTOS


RAUL RÊGO: SINGULARIDADES DE UMA VIDA
E DE UM DISCURSO

Excerto de uma intervenção integrada na homenagem a Raul Rêgo em Morais
(13 de Abril de 2014)


Ao longo de cerca de 13 anos (entre os 11 e os 24), Raul Rêgo viveu na condição de seminarista da Congregação do Espírito Santo, passando por diversas cidades, sendo em Braga que se encontrava aquando do golpe militar de 28 de Maio de 1926, aquele que pôs fim à Primeira República Portuguesa. Podemos afirmar que a passagem pelos seminários espiritanos foi uma experiência enriquecedora para Raul Rêgo a vários níveis, pois proporcionou-lhe a obtenção dos cursos de Filosofia e Teologia (que acabaram por constituir a formação académica mais específica e profunda que viria a ter) e deu-lhe a oportunidade de conhecer a pessoa que o próprio transmontano viria a afirmar mais tarde ter sido uma das que mais o influenciaram (nomeadamente um dos seus professores, Joaquim Alves Correia, padre bastante incómodo, de pensamento demasiado progressista para o seu tempo, crítico a tempo inteiro de um catolicismo de aparências e de fachada, servidor e submetido a certos interesses políticos), bem como os bastidores de um meio clerical fechado e na generalidade conservador; isto durante um período em que as missões católicas se encontravam numa fase de relativo prestígio, recebendo apoios do Estado, que via nelas um veículo de propagação da política imperialista e colonialista do Estado Novo e em que a própria Igreja Católica portuguesa surgia na cena nacional como um crescente e importante aliado do novo poder político.
Rêgo decidiu abandonar o seminário de forma algo repentina em 1937, depois de o director da congregação lhe ter dito que ele não tinha mentalidade eclesiástica. Perante tal acusação, a resposta de Rêgo, que então já era diácono, foi determinada: “Se acha que eu não tenho mentalidade eclesiástica, não me ordeno.” E não mudou de ideias. Ainda assim, Raul Rêgo manteve a sua fé católica e apostólica (continuando a ir diariamente à missa por muito tempo), mas, décadas mais tarde e por diversas vezes, acabaria por vir a assumir-se apenas como cristão.
Em 1937, Rêgo não estava minimamente preparado para uma vida em ambiente secular. Passou por um difícil processo de adaptação durante o qual foi apoiado e acompanhado pelo amigo e antigo professor Alves Correia, o mesmo que lhe abriu então as portas para o mundo do ensino, do jornalismo e da política. Deu explicações de Latim e Francês durante algum tempo e ao longo do ano lectivo de 1938/1939 foi professor no Colégio Moderno (propriedade do pai de Mário Soares). Acabou por ser afastado do ensino por decisão governamental, tornando-se o primeiro professor do ensino privado a ser expulso deste. Nessa altura, ponderou regressar aos estudos na universidade francesa de Lovaina, projecto que abandonou com o deflagrar da 2ª Guerra Mundial.
Pela mesma época, já Raul Rêgo tinha também enveredado pelo mundo do jornalismo, no qual ganharia grande destaque pelos trabalhos desenvolvidos e no qual nos deixou os produtos de uma intensa actividade. Começou a carreira jornalística em 1937 com curtas participações nas revistas Seara Nova e Sol Nascente. Passou por uma agência noticiosa onde trabalhou durante cerca de 20 anos (traduzindo para português as notícias que chegavam do exterior). Foi funcionário do Jornal do Comércio (durante 30 anos), do Diário de Lisboa (durante cerca de 12 anos) e do República (entre 1971 e 1975).
A passagem pela direcção deste último, o República, justificou-se pelo seu currículo profissional (pois era detentor de um saber vasto de experiência feito), pelos contactos que então possuídos (Rêgo tinha uma abrangente e influente rede de proximidade com jornalistas nacionais e estrangeiros) e pelas suas próprias convicções políticas (o República era, na década de 70, propriedade dos socialistas portugueses, com quem Rêgo, globalmente falando, se identificava). Foi neste mesmo periódico que Raul Rêgo atingiu o topo da sua carreira profissional na imprensa, ao encabeçar a renovação e a reestruturação profunda do República como órgão essencialmente democrata, republicano e opositor à ditadura.
Foi nesse sentido que este jornal passou a ter uma equipa de redactores jovens e qualificados e de colaboradores de renome nacional e internacional, a dar destaque a temas políticos e polémicos (como os religiosos e os respeitantes aos jovens e às mulheres, adoptando uma linguagem aberta, crítica, directa, incisiva e a incluir editoriais (da autoria de Raul Rêgo) que, além de informarem os leitores, eram momentos críticos de diversas temáticas e ensinavam a um ritmo quase diário lições de cidadania, democracia, socialismo, tentam inverter a apatia social e o vazio cívico, político e intelectual em que a a opinião pública portuguesa havia caído.
Por outro lado, e na qualidade de director do República, Raul Rêgo continuou a sua luta de décadas contra um regime censório que abafava a imprensa nacional, trazendo para a redacção do jornal novas técnicas e posturas como o abandono da autocensura (que permitiu ao periódico passar a dar notícias na verdadeira acepção da palavra), o desrespeito pelos cortes impostos pelo exame prévio e o não envio de alguns artigos ao mesmo exame prévio. O seu combate permanente pela restituição das liberdades cívicas e, entre elas, da liberdade de imprensa era, aliás, bem conhecida de Marcello Caetano, a quem Rêgo deixava à porta de casa os artigos censurados pelo exame prévio e a quem fazia frequentemente telefonemas reclamando dos cortes que os examinadores faziam aos artigos do República, ainda que nunca tenha tido qualquer reacção directa por parte do Presidente do Conselho. Ainda assim, viria a saber por terceiros que Marcello Caetano o considerava insuportável.
Sabemos já que Raul Rêgo viu na imprensa um importante meio de combate ao regime salazarista/marcelista, mas não o único. A sua entrega a tal causa passou também e em simultâneo pela colaboração, por um lado, com organismos que congregavam diversas tendências políticas, muitas vezes unindo pessoas sob um único objectivo comum, o derrube da ditadura salazarista, e, por outro lado, pela cooperação com associações criadas sob o signo do republicanismo e do socialismo democrático. As escolhas que fez, desde sempre e ao longo de décadas, foram traçando o seu perfil como profundamente antifascista, democrata, republicano, laicista e socialista. Foi com base nestas convicções que Rêgo, afinal, se bateu insistentemente contra o regime de Salazar e Marcello Caetano durante cerca de quatro décadas. Desde cedo estabeleceu contactos com destacados membros da oposição, como António Sérgio, João Soares e o filho deste, Mário Soares, entre outros. Participou na tentativa de criação de um Partido Trabalhista Português, candidatou-se a deputado nas eleições de 1965, 1969 e 1973, dirigiu os serviços de imprensa das candidaturas presidenciais de Norton de Matos, Quintão Meireles e Humberto Delgado. Pertenceu, ainda, a várias organizações como a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e a Maçonaria (viria até a ser Grão-Mestre) e assinou dezenas de representações e abaixo-assinados pela liberdade de imprensa e pela condenação da ditadura portuguesa. Frontal, incisivo e intransigente, Rêgo foi também, no plano individual, uma voz crítica do regime, condenando o autoritarismo de Salazar e Caetano, denunciado as perigosas ligações entre o poder político e o capital e a igualmente perigosa aliança entre o Estado Novo e a Igreja Católica. Quanto a este último ponto, ficou célebre a polémica protagonizada por ele e pelo cardeal-patriarca D. Manuel Cerejeira, em 1968, que lhe valeu algum tempo de prisão, sob a acusação de atentar “contra a segurança do Estado” português, e a apreensão das cartas trocadas com o clérigo que, entretanto, tinham sido publicadas.

Raul Rêgo não escapou, naturalmente, ileso desta sua postura de enfrentamento aos poderes instalados, pois sentiu na pele, como tantos outros, os efeitos e as práticas de um regime autoritário e limitador. No seu cadastro, acumulou três prisões políticas (em 1961, 1965 e 1968), foi, por diversas vezes, chamado a instituições oficiais para ser sujeito a interrogatórios e prestar declarações, viu livros da sua autoria serem apreendidos (falo do Diário Político, do Horizontes Fechados, d’ Os Políticos e o Poder Económico), sofreu violência física e psicológica, foi ameaçado com o exílio e era frequentemente vigiado pela PIDE em diversas circunstâncias. Houve momentos, até, em que o sentimos cansado e desiludido, com falta de esperança no seu país e nas suas gentes, como quando desabafava com amigos. “Estou muito estafado e não sei o que isto dará.”, confessou ele a Mário Soares, em 1972. No ano seguinte, escreveu ao bispo do Porto D. António Ferreira Gomes, denunciando: “Andamos perfeitamente de algemas no pensamento.”
A Revolução dos Cravos veio a pôr fim a estes lamentos, mas fez despertar-lhe outras inquietações, próprias de quem vivia então num país que estivera por demasiado tempo sujeito a amarras de todo o tipo.


Natália Neves dos Santos é doutoranda em Estudos Contemporâneos do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra.


TEXTO COMPLETO EM:








 GALOPIM DE CARVALHO


CARTA ABERTA
AO MINISTRO DA EDUCAÇÃO

(TIAGO BRANDÃO RODRIGUES)


Excursão de Geologia na Serra do Marão (foto de Luis Miguel Pires Correia.)


Embora se perca muitas vezes, só a luta pode alcançar vitória. E é por isso que me habituei a não desistir de lutar.
Assim, uma vez mais, lanço esta CARTA ABERTA AO MINISTRO DA EDUCAÇÃO, a par de mais uma que procuro fazer-lhe chegar às mãos sobre o ensino da Geologia nas nossas escolas Básica e Secundária.
Quem, a nível político, tem decidido sobre o maior ou menor interesse das matérias curriculares referentes à disciplina de Geologia mostrou desconhecer a real importância deste domínio do conhecimento como motor de desenvolvimento e bem-estar, mas também como componente da formação cultural dos portugueses.
Como é público, insisto em afirmar que, no panorama das nossas escolas, e com as sempre necessárias e honrosas excepções, esta disciplina limita-se a um conjunto de matérias desarticuladas e desinseridas de um contexto unificador, tidas por desinteressantes e, até, fastidiosas. São muitos os professores mal habilitados que as debitam sem entusiasmo, por dever de ofício. São muitos os que, sem capacidade crítica, seguem o estereotipado e igualmente acrítico manual adoptado, que o aluno decora por obrigação de um programa de mérito discutível, e que lança no caixote do esquecimento, passado que foi o exame final.
Tem sido este o quadro nas nossas escolas, onde a Geologia sempre foi subalternizada. Foi este o quadro em que cresceram e se formaram a imensa maioria das mulheres e dos homens que hoje temos na política, na administração, nas empresas, na cultura, na comunicação social, no cidadão comum.
É preciso e urgente olhar para esta realidade do nosso ensino. É preciso e urgente que o Ministério da Educação chame a si meia dúzia de professores desta disciplina capazes de proceder à necessária e profunda revisão de tudo o que se relacione com o ensino desta área curricular, a começar nos programas, passando pelos livros e outros manuais adoptados, pela formulação dos questionários nos chamados pontos de exame sem esquecer a necessária e conveniente formação dos respectivos professores.
Sempre disse e insisto em dizer que o professor deve saber muitíssimo mais do que os alunos a quem se dirige. Não pode, de maneira nenhuma, ser um mero transmissor das noções, tantas vezes, torno a dizer, estereotipadas e acríticas dos manuais de ensino.
Imenso e tido por inabarcável, ao tempo dos descobrimentos marítimos, o nosso Planeta é hoje assustadoramente pequeno face ao crescimento exponencial da população, além de que começa a dar preocupantes sinais de agressão já evidentes na poluição do ar que respiramos, da água que bebemos e dos solos onde, é bom não esquecer, radica a maior parte da cadeia alimentar que nos sustenta. Sendo a geologia uma disciplina científica que nos fornece o essencial dos conhecimentos necessários à defesa do ambiente natural e à protecção da natureza, é fulcral atribuir-lhe, ao nível da Escola, a importância que, realmente, tem.
Da exploração racional dos recursos geológicos, mineiros e energéticos, todos eles não renováveis (e são tantos) e das águas subterrâneas à protecção do ambiente e à prevenção de catástrofes naturais, a geologia faculta-nos os conhecimentos indispensáveis.
Apesar de ínfima no contexto da biodiversidade, esta criatura, a última de uma linhagem evolutiva de milhares de milhões de anos, a que foi dado o nome de Homo sapiens, só por si e desde o advento da Revolução Industrial (finais do século XVIII, começos do XIX), tem vindo a atentar, a ritmo crescente, contra o meio físico que a todos rodeia, atingindo, no presente, níveis alarmantes que justificam, entre outras reuniões internacionais, a COP 21, que teve lugar no passado ano em Paris.
Na sociedade de desenvolvimento, tantas vezes descurando os bem conhecidos preceitos de sustentabilidade, privatizam-se os benefícios da produção e distribui-se pelos cidadãos a subsequente poluição. À desenfreada procura de lucro de uns poucos, tem de opor-se a necessária cultura científica por parte desses mesmos cidadãos. E a Escola tem, forçosamente, que fornecer essa cultura em articulação harmoniosa e inteligente com os saberes de outras disciplinas. Não o “molho” de definições que (salvo honrosas excepções) tem sido a sua praxis.
Sendo certo que a capacidade de intervenção de cada indivíduo, como elemento consciente da Sociedade, está na razão directa das suas convenientes informação e formação científicas, importa, pois, incrementá-las. E incrementá-las é facultar-lhe correctamente o acesso aos conhecimentos que, constantemente, a ciência nos revela.

Com os respeitosos cumprimentos.

Lisboa, 5 de Junho de 2016
António Galopim de Carvalho (Professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa)






JACINTO ALVES


O ERRO DA CIÊNCIA
SOBRE A "MATÉRIA ESCURA" DO UNIVERSO

Perante a pergunta sobre as últimas investigações científicas realizadas no campo da Física Quântica, Dan Baker encolheu os ombros indagando: Estará certo? Em resposta, o professor Newton sublinhou:

— Deveis lembrar-vos dos importantes estudos realizados pelo conhecido cientista britânico, Paul Dirac, que nos seus últimos dias, viveu nos Estados Unidos e ali desenvolveu relevantes trabalhos, em 1926, sobre uma versão da Mecânica Quântica que incorporava a Mecânica Matricial, de Werner Heisenberg com a Mecânica Ondulatória, de Erwin Schôdinger, num único formalismo matemático. Dirac, em 1928, desenvolveu a chamada Equação de Dirac, a qual descreve o comportamento relativístico do eletrão, tendo essa mesma teoria levado Dirac a prever a existência do positrão, a antipartícula do eletrão. Paul Dirac, juntamente com Erwin Schôdinger, em 1933 recebeu o Prémio Nobel da Física. Dirac nasceu em 1902, veio a falecer nos Estados Unidos em 1984.

Carlos Newton prosseguiu o seu esclarecimento:
— Graças aos trabalhos de Dirac, os atuais investigadores, principalmente na NASA, fizeram notáveis descobertas relativamente às ligações entre a Antimatéria e matéria escura (energia escura). Igualmente os cientistas concluíram que a chamada “matéria escura” ocupa no espaço cósmico uma área superior à matéria por nós conhecida e que forma galáxias, estrelas, planetas, todos os demais corpos siderais como nuvens de gases, asteroides, cometas, etc., etc.

Contudo, importa destacar os trabalhos de Kip Thorne, destacado investigador na área da Física, nascido nos Estados Unidos em 1940, que, inspirado em Schwarzschild sobre “os buracos de minhoca” ou "Ponte Einstein-Rosen", imaginou a possibilidade de um "wormhole transitável" na “garganta” de um Buraco Negro e aberto com "matéria exótica" (matéria que possui massa/energia negativa).

Entretanto, em parceria com outro cientista, Michel Morris, investigador na Universidade de Minnesota, idealizaram a “Fenda Espacial Morris-Thorne” como sendo um “wormhole”, um "túnel" pelo "continuum espaço/temporal" que pode ser transformado numa máquina do tempo e, por fim, já muito recentemente, o ainda chefe da equipa de cientistas do Centro Espacial Kennedy, Joseph Walker, tem vindo a dar seguimento aos trabalhos de Kip Thorne, com a NASA a alcançar etapas significativas nos desenvolvimentos da velocidade superior à velocidade da luz, designada por superluminal, obtida na base das "Ondas Gravitacionais" provocadas pela presença, principalmente, de corpos siderais de grandes dimensões.

Aqui, Carlos Newton suspendeu a longa efascinante exposição, encaminhou-se na direção de um quadro negro embutido numa das paredes da sala onde estava a realizar-se o encontro. Pegando num lápis de giz desenhou um quase perfeito círculo exclamando:
— Vejam Companheiros! Trata-se de uma pirâmide hexagonal que geometricamente é um polígono regular, correspondendo à configuração da futura nave interestelar com velocidade superluminal a "Odysseus", na qual uma equipa de cientistas irá deslocar-se ao sistema estelar binário – T. Pyxidis para observar o grau de evolução das atividades de ambas as estrelas e suas possíveis consequências caso uma delas venha a implodir ou a transformar-se numa supernova.

Nesta extraordinária viagem, a NASA conta com a colaboração dos Mestres Zoistas. De facto, o nosso ISEA vai ter uma missão relevante neste empreendimento da NASA.

Carlos Newton fez uma pequena pausa, respirou fundo e prosseguiu:

— Caros Companheiros, sabemos que a Ciência atualmente contribui para uma falsa teoria no que diz respeito à origem e natureza da chamada “matéria escura” que nada tem de matéria e muito menos ser escura! Efetivamente, e no plano científico, a Ciência apenas acertou no princípio relacionado com a existência daquela no Universo e que constitui cerca de 95,1% do conteúdo total da massa-energia universal. A sua presença poderá ser notada a partir dos efeitos gravitacionais sobre a matéria visível como estrelas, galáxias, planetas e aglomerados de galáxias. Quanto ao demais, são falsas especulações científicas. Na verdade, essa mesma forma de energia universal prende-se com o Alfa e Ómega, ou seja, com a transformação da matéria e a evolução da Força (energia). Poderemos admitir que os 4,9 por cento restantes dessa mesma massa-energia compreendem já os resquícios materiais na organização do próprio Universo na fase final da sua formação.

Esta afirmação de Carlos Newton não surpreendeu os presentes uma vez que todos eram Mestres do Silêncio, dispondo de pleno conhecimento sobre as fantásticas energias de ordem superior que estavam presentes na realidade universal. Carlos Newton prosseguiu com uma conclusão ainda mais surpreendente:

— Certamente todos sabemos que a Ciência por meio da investigação da Física Quântica abeira-se disso sem ter, no entanto, consciência de que se encontra na periferia dessa parte misteriosa do Universo que é precisamente a "energia ou matéria escura" que contém a "Causa Primordial" da razão do próprio Universo, precisamente a componente energética espiritual que na sua mais grosseira manifestação traduz-se nas famosas "ondas gravitacionais" de que fala o cientista Kip Thorne ”, forças definidoras e dominadoras de tudo quanto existe.

Poderemos, pois, concluir que o relativo universo material (4,9 por cento) a que pertencemos é a última fronteira da transformação da matéria e da evolução da Força, esta sob as suas diferentes formas de energias vibratórias mais físicas, etéricas e menos ou mais espirituais. Realidades tais que todas e quaisquer religiões antigas ou atuais nunca conseguiram explicar com exceção da Ciência que, de forma lenta, incerta e sinuosa, se vai apercebendo aos poucos, e, ainda que num futuro incerto, talvez conclua que a "morte não interrompe a Vida e a Vida existe fora da Matéria. É possível que estejamos já na fronteira de um Universo totalmente diferente, desconhecido, que a Ciência do presente denomina por "Matéria Escura" e nada tem de matéria, muito menos "escura",  tratando-se, sim, de um incomensurável oceano de luz e de energia onde se inscreve um número infinito de dimensões e nele coabitam vidas inteligentes e altamente evoluídas espiritualmente. A Ciência chama a essa parte do Universo (cerca de 95,1 por cento da sua totalidade) "matéria escura". Nada mais errado. Nós, seres humanos envolvidos pela matéria grosseira, temos uma capacidade sensorial que não nos permite distinguir essa beleza de luz assombrosa e indefinível, apresentando-se a mesma perante o nosso olhar ignorante e grosseiro como sendo "escuro e indefinido"

(Escritor, ensaísta, Jacinto Alves trabalhou este artigo a partir do seu novo romance, «Num Dia do Amanhã», que está a concluir. É autor de obras como «Operação Quinto Império» (editora Ecopy/Porto) e «Ensaio sobre a Doutrina do Quinto Império» (da Chiado Editora).






MANUEL MONTEIRO


Fabuloso! Fantástico! Formidável!!!

Atentemos em fabuloso, fantástico e formidável.Fabuloso, na acepção de uso corrente, dista dos significados do verbo «fabular», dos adjectivos e nomes «fabulista» e «fabulador», e dos nomes «fabulação» e «fabulário», que assentam em «fábula» e que não têm – nenhum dos termos – o sentido de magnífico. Não raras vezes, estes vocábulos são (bem) empregados para diminuir a credibilidade de uma pessoa ou de uma narrativa – o que tem sustentação dicionarística.

Fantástico, enquanto nome, é um género literário e cinematográfico. Apenas a título de exemplo, o E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia acolhe o género fantástico. Enquanto adjectivo, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista:

«1. Quimérico, fingido, que não tem realidade e só existe na  imaginação.
2. Que pertence à fantasia; fantasioso, imaginativo.
3. Aparente, simulado, fictício.
4. Jactancioso, blasonador.
5. Caprichoso, exótico, extravagante.»

O Dicionário Aberto escolhe «fantasmal» como sinónimo/variante de fantástico.
Certifique-se o leitor de como Camões na sua epopeia, na estrofe XI do Canto I, utilizou quer «fantásticas» quer «fabulosas».

Ouvi, que não vereis com vãs façanhas,
Fantásticas, fingidas, mentirosas,
Louvar os vossos, como nas estranhas
Musas, de engrandecer-se desejosas;
As verdadeiras vossas são tamanhas,
Que excedem as sonhadas, fabulosas,
Que excedem Rodamonte e o vão Rugeiro,
E Orlando, inda que fora verdadeiro.


O que significa formidável? Que infunde medo, terror. Leia-se o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado: «Do latim formidabĭle, "temível, temeroso."» Consulte-se o dicionário etimológico do Brasil disponível em linha (http://www.dicionarioetimologico.com.br/): «Procurando num bom dicionário o significado da palavra "formidável", o primeiro significado que se encontra é "pavoroso, diabólico, horrendo, assustador". E não faltam exemplos clássicos.»

Um desses exemplos é o poema Versos Íntimos de Augusto dos Anjos.

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
[…]

Outro é o poema Uma Criatura de Machado de Assis:

Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.
[…]

O Dicionário do Português Atual Houaiss regista como próprias de linguagem informal as acepções «óptimo, excelente, fantástico». Os dicionários acolhem – uns mais cedo, outros mais tarde – a grande maioria dos significados que a maioria dos falantes atribui às palavras. Mas veja o leitor o sinónimo/a variante que a mais recente edição do Houaiss atribui a formidável. Quer o leitor adivinhar? Não é nada fácil. É «HORRIPILANTE»*!

O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mais favorável à consagração pelo uso, regista «1. muito grande 2. que inspira terror; terrível 3. Que provoca medo; temeroso 4. que infunde respeito 5. espantoso; excelente; fantástico; maravilhoso». Só na quinta e última acepção encontramos o espelho da utilização corrente!

O Dicionário de Língua Portuguesa da Texto Editores assinala o étimo e o seu significado («que faz temer»), atribuindo os significados «medonhamente grande; pavoroso; horroroso; que impõe respeito; descomunal; colossal». Só no final, com a ressalva da marca de linguagem «familiar», regista «extraordinário; fantástico; excelente». Acresce que a palavra «formidoloso» tem os significados «formidável; que inspira medo, pavor; medonho».

Até os dicionários digitais, sublinhe-se até, dada a sua vertiginosa consagração pelo uso, mantêm enquanto primeiras acepções «pavoroso», «medonhamente grande», «que inspira terror». O Dicionário Aberto consagra apenas «Medonhamente grande; terrível; pavoroso; temeroso», dando o seguinte (e único) exemplo de emprego do vocábulo – «incêndio formidável».

Verdade que, como vimos acima, outras palavras são empregadas comummente com um significado que contradita ou extravasa, para lá do razoável, o étimo, mas «formidável», tal como «fabuloso» e «fantástico», são casos especiais dada a quantidade de sinónimos que temos na língua portuguesa para maravilhoso, óptimo, boníssimo, excelente, magnífico, magnificentíssimo, mirífico, incrível, admirável, sublime, esplêndido, deslumbrante, grandioso, extraordinário, sensacional, soberbo, superbíssimo, deslumbrante, brilhante, espectacular, fenomenal e tantos, tantos, tantos outros. A sinonímia variegada permite-nos escolher aquilo que Flaubert procurava – le mot juste. Cada palavra tem a sua origem, respiração e atmosfera próprias. Espectacular refere-se a espectáculo, sensacional a sensação, fenomenal a fenómeno, incrível a algo em que não se crê, e por aí afora.

Uma explicação para a utilização de formidável enquanto medonho e maravilhoso pode ser encontrada na ambivalência que determinadas pessoas ou coisas provocam em determinadas pessoas. Como se a maravilha superlativa pudesse atemorizar. Camões, no Canto X d´Os Lusíadas, fala-nos do «Rei temido e amado».

Entraram pela foz do Tejo ameno,
E a sua pátria e Rei temido e amado
O prémio e glória dão por que mandou,
E com títulos novos se ilustrou.


Encontramos essa ambivalência na utilização de palavras como tremendo (que vem do latim tremendu-, terrível, horrível), espantoso (inicialmente, o que assusta e atemoriza), assombroso (com origem na palavra «sombra», palavra mais próxima das trevas do que da luz).


Manuel Monteiro, formador de Revisão de Textos Níveis I, II, III e IV na Escreverescrever e autor do Dicionário de Erros Frequentes da Língua que estará brevemente disponível ao público






ARTUR PORTELA


A REVOLTA DO BOM ALUNO

Angela Merkel considera que Portugal tem licenciados a mais e escolas imediatamente profissionalizantes a menos.
Portugal acha que não tem licenciados a mais e escolas profissionalizantes imediatamente profissionalizantes a menos. Há, neste diferendo, dois diferendos.
Três, contando com a nova guerra do défice português.
O primeiro é apurar se, de facto, Portugal tem licenciados a mais e escolas imediatamente profissionalizantes a menos.
O segundo é apurar se não habituámos mal a Alemanha, a nós.
Se não nos habituámos mal, nós, à Alemanha.
Angela Merkel só pode estar indignada.
E quem diz Angela Merkel diz o núcleo nortista da Comunidade Europeia e diz grandes instituições de supervisão financeira e outras, a propósito desta guerra do défice português.
Compreende-se.
Portugal chegou de bom aluno.
Penteado.
Disciplinado.
Obediente.
Com farnel.
Tipo estudante de madraça.
A cantar, baloiçadamente, versículos de Martin Schauble.
Pois aí está, Portugal, a rebelar-se!
Pedro Passos Coelho, a rebelar-se!
Luís, Maria, a rebelar-se!
Pelo que a Comunidade Europeia, em geral, e Angela Merkel, em especial, que não são parvas, a pergunta que fazem é se esta transfiguração de Portugal não terá a ver com as eleições gerais portuguesas que aí vêm.
Não é, de facto, mal gizado — tanto que evoca Relvas — aparecer o actual poder político, não como boneco de corda de uma ideologia hoje ainda no poder europeu, mas como autêntica voz do brio deste país.
Para — e é Relvas em todo o seu esplendor — cortar o caminho à oposição que talvez queira ir eleitoralmente por aí.
Não me surpreenderia que viessem a ser encontradas cartas altamente confidenciais do primeiro-ministro português, dirigidas a Angela Merkel, suplicando-lhe que não leve, de todo!, a sério:
a) Aquilo que este governo, nesta fase, diz, genericamente;
        b) A porta que este governo parece estar a bater na cara da Comunidade Europeia,         a propósito do défice português.

Pelo que, quer a questão do número exorbitante e luxuoso de portugueses licenciados quer o diferendo europeu sobre o montante do défice de Portugal, têm os meses contados.
Feitas as contas, as vítimas serão, infalivelmente, o ministro Nuno Crato e um qualquer secretário de Estado da ministra das Finanças. Aquele que entenda pior o alemão.







MÁRIO BARATA SALGUEIRO


POR QUE NÃO ME OLHAS, PEDRO?

                                                                                                 Foto de Luís Forra, Lusa

Foi no domingo (07.10.2014), no Fórum Empresarial do Algarve.
Pedro dobra o braço interpondo-o entre o seu corpo e o de José Maria Ricciardi que ameaça aproximar-se num abraço comprometedor. Pedro, de cabeça baixa, não ousa olhar de frente José Maria. De sorriso tímido, balbucia qualquer coisa…
José Maria segura Pedro pelo cotovelo, puxando-o para si. De cabeça levantada (ao contrário de Pedro) e olhos semicerrados, olha Pedro de cima (parece até mais alto que Pedro, mas não é). Parece dizer-lhe: "não fujas, que não te faço mal…."
Por que é que Pedro não olha José Maria? E por que se defende do abraço que pressentimos partir de José Maria? Pedro não sabia que iria encontrar José Maria? Pedro não sabia que iria ter José Maria na sua mesa ao almoço? Pedro tem conselheiros e assessores? Pedro não conhece a lista de convidados dos eventos onde participa? Saberão os seus assessores e conselheiros o que significa "contaminação metonímica"?
E José Maria? Parece seguro e confiante. Por que estaria tão afectuoso com o tímido Pedro? Estaria grato a Pedro pela presença, ao seu lado, naquele lugar?
Uma imagem vale mais que mil palavras…


Mário Barata Salgueiro, jornalista






JOSÉ MARIA RODRIGUES DA SILVA


VOEMOS MAIS ALTO PARA VERMOS MAIS LONGE

O livro Um Paradigma para a Europaou para o Mundo? nega a validade do princípio da determinação tecno-económica da ordem simbólica — política, ética, justiça, cultura — vigente no Ocidente a partir do iluminismo, baseado na mudança contínua capitalista que pôs o politicamente correcto no lugar da ética, expulsou o cidadão do Direito/Justiça, transformada em mera técnica em que a reforma legislativa substitui a mudança, que converteu a cultura num bem de mercado e empurrou a Europa para a perda de identidade e a decadência.
Nos tempos do capitalismo industrial, em que patrão e trabalhador eram os sujeitos de luta social, Marx formulou a teoria "estrutura/superestrutura", de que o neoliberalismo global se apropriou. Hoje, em que os sujeitos da luta são os povos e um monstro financeiro global, reformularia a teoria — estou certo — no contexto do marxismo dialéctico. Com a morte anunciada das humanidades, o que está em causa hoje — vamos fechar a Faculdade de Letras por falta de candidatos? — é a humanidade do homem.
Fomos todos iluministas mas nada, nem o iluminismo, pode formatar o pensamento livre. Como Fernão Capelo Gaivota no belo livro de Richard Bach voemos mais alto para vermos mais longe e concluamos que entre a ordem tecno-económica e simbólica há interinfluência, relações de acção/reacção.


O Juiz Conselheiro e escritor José Maria Rodrigues da Silva é o autor da obra supracitada, cujo lançamento está anunciado para o dia 7 de Outubro, às 18h20, na Sociedade de Geografia, em Lisboa. O livro será apresentado por Adriano Moreira e António Nóvoa, cabendo ao primeiro a apresentação do autor e ao segundo a apresentação da obra.






JOSÉ VIALE MOUTINHO


FEIRA DO LIVRO DO FUNCHAL

De longa data conheço a Feira do Livro do Funchal e o modelo da Maria Aurora Carvalho Homem era, quanto a mim, o mais interessante, pois mobilizava escritores nacionais e estrangeiros, fazendo com que a Região fosse incluída quer em livros quer na comunicação social internacional. Era uma festa da Cultura. Obviamente que os escritores e os livros estavam incluídos. Corria que ela tinha um orçamento grande, mas aquilo era investimento na Cultura ou não? Os escritores saíam da Ilha conhecendo-a. E eram em número amplo. Depois havia colóquios e conferencias, de que se faziam livros com os textos. Esses livros estão nas bibliotecas públicas e privadas. Eram organizados prémios literários com valores a nível dos demais prémios nacionais. Veio depois o modelo Faria Paulino, mais contido, mas também interessante, com abertura e dinamismo. E encerrou-se o ciclo Miguel Albuquerque. Sou amigo deste ex-presidente do município do Funchal, apesar de politicamente estarmos em polos opostos. E reconheço que nesta área a sua ação cultural foi excelente. Agora, em final de mandato, e já com a nova câmara da mudança, regista-se uma pesporrência de quem quer fazer o que não sabe mas diz que sabe e, à míngua de outra ação, exibe um escritor, não sei se supondo que ele garantirá o céu ao executivo desta câmara! As declarações do presidente Cafôfo são de um novo-riquismo aflitivo. O que foi feito era cultural e não prestava, agora é que é o livro, agora é que é o escritor! Quando o Centro Cultural Anjos Teixeira apresentou duas amplas mostras bibliográficas — uma sobre a história da Madeira, a outra de escritores madeirenses — nunca lá vi nenhum dos ilustres intelectuais da câmara a visitá-la. Próximos do Poder? Estiveram lá o Bruno Pereira e o João Carlos Abreu. Não tiveram problemas por serem do PSD e a casa em que entraram ser do PCP! Tem piada, não tem? Acho excelente que façam uma feira do livro no Funchal, mas não vale a pena florzinhas de oratória balofa e mais do mesmo, vale?

José Viale Moutinho - Jornalista e escritor






JACINTO ALVES


AFINAL PARA ONDE VAMOS?
(LINHAS DE UM ROMANCE INICIÁTICO)

No Parque dos Poetas, em pleno concelho de Oeiras, distrito de Lisboa, e na zona mais central daquele famoso espaço situava-se um edifício magnífico, cheio de beleza, projectando uma luz intensa. Conjugavam-se ali os estilos de três notáveis arquitectos: Siza Vieira, Souto Moura e Fernando Távora, criando uma joia da arquitectura portuguesa, o célebre Instituto Superior de Estudos Avançados das Ciências do Homem, mais conhecido pela sigla simplificada ISEA.
Tratando-se de uma verdadeira joia da nossa arquitectura, transfigurava-se num imenso edifício rectangular, de linhas ora onduladas ora rectilíneas e projectava-se numa extensão de cerca de 100 metros, dispondo de três andares. Amplos jardins estendiam-se em redor da edificação principal; abundavam variadas espécies de árvores. Viam-se largos passeios ladeados por diversos tipos de flores que pareciam beijar os pés de quem por ali, tranquilamente, abordava e entre si desenvolvia temas de elevada expressão espiritual e nível científico.
Estávamos no ano de 2020; haviam decorrido cerca de cinco anos sobre os grandes acontecimentos planetários que em 2015 abalaram a Terra e a sua humanidade. A grande ameaça cósmica materializada nos asteroides que tinha pairado sobre aquele planeta foi ultrapassada graças ao engenho humano assistido por Forças Espirituais que decisivamente contribuíram para que o planeta não se tivesse desintegrado e perecido completamente. Entretanto, importantes alterações geológicas operaram-se no globo terrestre. A mítica Atlântida reerguera-se dos fundos do Oceano que por sua vez perdera a enorme extensão que tivera durante milhares de anos, repartindo-se por mares e lagos. Por exemplo, o Arquipélago dos Açores viu a sua superfície imensamente expandida, tornando-se numa gigantesca ilha no meio do antigo Atlântico, fazendo por assim dizer uma ligação com a Península Ibérica; entre esta e a nova ilha apenas um pequeno braço de mar distando uns escassos cinco quilómetros da antiga costa portuguesa, agora já recuperada e alargada, ocorrendo uma extraordinária alteração geológica com o abaixamento dos próprios Pirenéus, dando lugar a um grande lago separando a França da Península Ibérica. Confirmava-se assim a ideia do Nobel Português José Saramago quando vaticinou no seu famoso romance a transformação da Península Ibérica na célebre Jangada de Pedra.
Noutras regiões do globo terrestre outras alterações geológicas e geográficas foram igualmente importantes. Toda a costa portuguesa cresceu, conquistando espaço ao antigo oceano. Cidades costeiras como Lisboa, Porto, Setúbal, Figueira da Foz (por aí adiante) foram recuperadas integralmente, a elas regressando os seus tradicionais habitantes e muitos de outros pontos do globo atingidos e condenados pelos avanços das águas dos diferentes mares e oceanos.
O grande cataclismo que ameaçara terrivelmente o planeta Terra tinha sido neutralizado e a Humanidade agora liberta respirava de forma profunda, com outra ânsia de viver, uma necessidade de alterar a sua relação em termos de convivência social, política e económica, assumindo o entendimento e prática de uma nova filosofia espiritualista em que praticamente todas as religiões viessem a convergir, sofrendo alterações profundas, perdendo definitivamente os seus dogmas, originando um novo modo de pensamento, aliando, decisivamente, a espiritualidade e a ciência. A meu ver, esse novo pensamento materializava-se numa nova doutrina, a Doutrina da Cidadania Social que historicamente nascera do Mito do Quinto Império, passando essa nova doutrina a ser a Doutrina do Quinto Império, fortalecendo-se como elemento constante e histórico na cultura e mentalidade do povo português. A nossa historiografia conta nessa linha com diferentes pensadores, filósofos, escritores, destacando-se nomes como o Padre António Vieira, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, Sampaio Bruno, António Quadros, António Telmo, Manuel J. Gandra, Paulo Borges, tantos outros.
No que respeita ainda à Historiografia Portuguesa e à origem e desenvolvimento do Mito do Quinto Império Português, a questão divide-se por aqueles que o defendem e aqueles que o consideram, pós 25 de Abril de 1974, como meio e fim esgotados. Por exemplo, Oliveira Martins considera que as liberdades cívicas, o avanço dos costumes e o progresso técnico realizados pelo Liberalismo deram-no como findo, considerando-o uma relíquia do passado ou ainda uma espécie de chancela cultural mítica e mitológica do pretérito histórico e mítico de Portugal. Igualmente nas perspectivas de Lúcio de Oliveira e António Sérgio, as ocorrências do republicanismo, o positivismo e o racionalismo esgotaram e mataram o Mito do Quinto Império e com ele, naturalmente, o Sebastianismo. O nosso ilustre escritor e historiador Miguel Real, no seu livro Nova Teoria Sobre o Sebastianismo (edição D. Quixote) faz uma extensa análise na base da Historiografia Portuguesa sobre o Mito do Sebastianismo/Quinto Império em que as correntes de opinião se dividiram entre os investigadores e historiadores portugueses. Diremos que ambas as partes têm a sua razão, sendo perfeitamente válidas as respectivas teses. Em nossa opinião, contudo, poder-se-á configurar uma terceira via dando pleno fundamento ao Mito do Sebastianismo, uma vez que historicamente a introdução da Inquisição em Portugal por D. João III e as Invasões Francesas no início do Século XIX dizimaram cerca de dez por cento da população portuguesa e a Ditadura de mais de quarenta anos em Portugal no século XX pesaram profundamente no espírito colectivo do povo português.
No meu livro Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império – Uma Nova Perspectiva Social deixo já algumas reflexões sobre a natureza e razão de tal mito. Volto ao tema por acreditar ser importante que se aprofunde hoje e se coloque no presente e no futuro um debate estruturante sobre uma nova cidadania social/versus doutrina do Quinto Império.


Jacinto Alves é autor de: "Operação: Quinto Império" – 2010, Editora Ecopy; "Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império - Uma Nova Perspectiva Social" – 2013, Chiado Editora.






 RUI BEJA


RETRATO FIEL... 40 ANOS DEPOIS!


Foi em Moçambique, há quarenta anos, feito capitão miliciano pelo despotismo do regime de Salazar e Caetano, longe da família, que me chegaram duas das melhoras novas que recebi ao longo dos setenta anos que já vivi: ser pai pela terceira vez e abrirem-se as portas da democracia quando os cravos floresceram no Abril das minhas trinta Primaveras.

Quarenta anos depois, é tempo de celebrar. A família cresceu e multiplicou-se harmoniosamente, e a filha cujo nascimento não me deixaram acompanhar juntou-se ao irmão mais velho e à irmã do meio para mais tarde proporcionarem aos avós babados as seis “melhores netas do mundo”. O país, lembrem-se ou não os mais velhos, queiram ou não saber os mais novos, libertou-se com muito querer e muito trabalho das amarras que deliberadamente o mantinham em níveis de pobreza e de obscurantismo inaceitáveis, impróprios e indignos.

Quarenta anos depois do Abril feito Primavera vibrante, que alguns querem de novo virar Inverno triste, os sentimentos profundos traíram o querer e deixaram-se retratar pela descrição amiga de um...

Encontro acidental

Encontrei-me com ele num lugar que já foi o primeiro e hoje é uma sombra do que foi. Não tem clientes, mas ele por fidelidade ao barbeiro ainda o frequenta. Eu só por acaso ali andava. Como estás, estão todos bem, as perguntas do costume.

A filha e as netas foram para a velha Albion. Já não odiamos o John Bull, nem lembramos os anos em que foram donos de transportes e comunicações. De El-rei Beresford já ninguém se lembra. Agora é mais um dos países para onde vai a nossa geração mais educada. Os que não tiveram de começar a trabalhar após a escola primária, os Erasmus, os filhos da liberdade, não têm aqui lugar e partem. Não vão viver em condições miseráveis como os emigrantes de 60. Falam a língua, conhecem a cultura, são cidadãos do mundo e vão ficar mais desempoeirados. Mas aqui, não. Não há trabalho. Não são necessários. São empurrados.

E ele, homem de família, não aceita que as netas virem inglesas de crescimento, esquecendo a cultura e a língua, ela também tão maltratada pelos falantes e escrevinhadores, que nos poucos jornais que restam, nos explicam porque temos de expulsar os novos e matar os velhos à mingua. Ele que tem uma vida material estável, que se preparava para uma velhice acompanhada, custa-lhe que a filha tivesse partido. Outros filhos e netas por cá ficaram, mas sente a falta dos que partiram.

40 anos depois da reviravolta caminhamos para donde partimos. Regressa o tempo dos cinzentos. O ar rareia e temos novamente fome de justiça. 

Um abraço,

António João






JACINTO ALVES


UMA ABORDAGEM TEÓRICA À PRINCIPIOLOGIA
A Ciência que estuda os Princípios da Ordem Universal

Sou dos que acreditam e defendem que a capacidade intuitiva humana se define por um poder mental que se apresenta sob uma forma de síntese contida num ponto geométrico, o qual, em si, conterá o conhecimento do Universo, tal a importância da intuição na vivência do ser humano.
Estas reflexões constam do meu segundo livro — Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império — Uma Nova Perspectiva Social, recentemente publicado pela Chiado Editora, originando as suas conclusões outro aprofundamento que, porventura, me levará a novo trabalho abordando teoricamente a «principiologia» enquanto ciência que estuda os Princípios da Ordem Universal, colocando-me sempre na perspectiva de quem continuadamente, de modo simples — e, sublinho, teórico —, analisa e busca uma explicação para o conhecimento e causas primeiras que deram origem à formação do Universo, ciente de que falamos de um tema que se reveste de uma dada transcendência.
Seria, aliás, interessante assistirmos a uma dissertação política do Professor Adriano Moreira sobre o conceito de Principiologia fundamentando-se, por exemplo, num estudo sobre geopolítica…
Na verdade, foi Adriano Moreira, professor universitário, politólogo e ilustre intelectual português que, numa entrevista televisiva, utilizou o vocábulo principiologia, julgo que dando a esta expressão intencional ênfase. Daí a minha curiosidade em esmiuçar tal palavra agora no sentido de procurar um novo entendimento da natureza humana e da realidade do próprio Universo.

A ordem saída do caos

A palavra princípio tem a sua raiz no latim principium que significa a primeira formação de uma coisa; causa primária; regras fundamentais e gerais de qualquer ciência. No alto Grau Filosófico — 30º. Cavaleiro Kadosch, do Rito Escocês Antigo e Aceite da Maçonaria Tradicional e Universal, este alto Grau tem como legenda a expressão latina Ordo Ab Chao — a ordem saída do caos.
Reparem: a ordem saída do caos... Na Física Quântica e segundo o Princípio da Incerteza de Heisemberg aponta-se a não existência de um determinismo universal. Pode concluir-se que o caos marca uma presença que consideramos relativa e faz parte da própria expansão do universo.
No referido Alto Grau (Cavaleiro Kadosch), a velha questão ainda não resolvida em termos maçónicos, e que se prende com o livre arbítrio (plena independência de pensar e agir) está presente no Grau 30º; face ao Princípio da Incerteza de Heisemberg, confirma-se a validade do livre arbítrio, atributo moral máximo conseguido pelo ser humano na sua longa e difícil marcha evolutiva no planeta Terra.
A Física, por meio do estudo e da investigação da mecânica quântica, tem vindo a desbravar áreas que apontam para desconhecidas formas de energia no universo relacionadas com subpartículas do átomo, tais como: fotões; gravitões, os quarks e outras mais com as respectivas antipartículas. À medida que a ciência for penetrando na intimidade do campo quântico e com a eventual descoberta de diferentes partículas como, por exemplo, o famoso «Bosão de Higgs», ao qual, na nossa opinião, é errado chamar «partícula de Deus», a ciência — dizia — irá finalmente compreender que a partícula de Deus é na verdade o ser humano na sua dupla natureza: a física e a espiritual, sendo a primeira matéria, consequentemente sujeita às leis da transformação, e, a segunda o espírito, pura energia inteligente que em obediência às leis da evolução e no seu trajecto cósmico retorna ao ponto Alfa, de onde o Universo se expandiu; daí não ser irrelevante o pressuposto de filosoficamente sermos deuses!

A grande meta

O Universo teve início no Big Bang, explosão cósmica primordial, dela se libertando um tipo de energia a que poderíamos chamar energia universal. A ciência no seu estado actual de desenvolvimento admite que essa mesma energia universal se apresenta sob quatro formas: a força de gravidade; a força electromagnética; a força nuclear forte e a força nuclear fraca. Contudo, a Ciência sabe que está ainda limitada e a sua grande meta é atingir o conhecimento global do chamado Campo Unificado das Energias do Universo.
Dessa força universal destaca-se a energia criadora que, assumindo várias formas através da modelação da matéria, ocupará posições próprias dando início à ordem saída do caos na respectiva formação do Universo, originando assim a transformação da matéria e a evolução da força, força esta que no planeta Terra ganha a máxima expressão da Vida: o ser humano na sua componente espiritual. Quando combinamos mecânica quântica com a teoria da relatividade parece haver uma nova possibilidade: espaço e tempo juntos poderão formar um espaço quadridimensional ou até com mais dimensões… Dimensões que, à medida que vão regredindo em direcção ao ponto de origem dessa força primeva, tornam-se diáfanos em estados vibratórios cada vez mais subtis, atingindo frequências fisicamente impensáveis.
Na verdade, quando a Ordem começa a impor-se no Caos significa que a partir da explosão primordial do Big Bang diferentes fenómenos se foram operando, desde logo a transformação da matéria que na sua manifestação representa a formação de galáxias, estrelas, planetas e outros numerosos e diferenciados corpos. Acompanhando a transformação da matéria, foi ocorrendo a Evolução da Força Criadora de onde brotou a Vida que de forma tão exuberante e variada se manifesta no nosso pequeno planeta.

Ciência determinante

Em termos dos princípios que orientam a transformação e a evolução poderemos comparar o ser humano a um diamante em bruto; vai-se lapidando a matéria grosseira e eliminando a sujidade enquanto a evolução descobre a beleza e o brilho desse diamante, tornando-o numa joia bela, luminosa.
Esta breve e simples abordagem à Principiologia, a ciência que estuda os Princípios da Ordem Universal, talvez possa alcançar um caminho mais amplo como instrumento do pensamento humano e, ao mesmo passo, sublinhar como a ciência nunca estará dependente de qualquer ramo religioso ou filosoficamente sectário, mas sim, e sempre, dependente da descoberta, compreensão e conhecimento das realidades do Universo, determinante para a solidariedade e união dos povos, desse Todo da nossa Humanidade, orientada para uma integração perfeita, irmanada no verdadeiro conhecimento de nós próprios, de onde vimos, quem somos, por que estamos cá, para onde vamos. Jacinto Alves, ensaísta, é autor de “Operação: Quinto Império” (2010) e “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império — Uma Nova Perspectiva Social” (2013).


Jacinto Alves, ensaísta, é autor de “Operação: Quinto Império” (2010) e “Ensaio Sobre a Doutrina do Quinto Império — Uma Nova Perspectiva Social” (2013).






RUI BEJA


A SERENIDADE TEM LIMITES

"Os cobardes morrem várias vezes antes da sua morte;
O homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez."

William Shakespeare


O POVO É SERENO, É APENAS FUMAÇA ! Ficou célebre a frase de Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro do VI Governo Provisório, proferida em 9 de Novembro de 1975 numa tentativa para acalmar manifestantes e contramanifestantes que, no estertor do PREC, se começavam a digladiar num Terreiro do Paço que transbordava de gente e de ânimos exaltados. Mas não, o povo não estava sereno. O país estava à beira de uma guerra civil que só não se concretizou porque imperou a sensatez e a atitude firme e corajosa de homens plenos de fibra, aos quais o País, e em especial as gerações mais novas, deve a queda da ditadura imposta pelo Estado Novo, o fim da guerra colonial, a reposição do estado de direito que o PREC pusera em causa, e a criação de condições para um desenvolvimento socioeconómico impensável para os meus antepassados e dificilmente imaginável para a minha geração.
Nos dias de hoje, a fraca memória de alguns e a completa ignorância de outros, tem permitido que aqueles que venceram as eleições legislativas de 2011 suportados em inominável hipocrisia política, inadmissível conluio institucional e incomensurável rosário de promessas conscientemente mentirosas, estejam a destroçar a dignidade do país e dos portugueses. Fazem-no com reconhecido fundamentalismo ultraneoliberal, a soldo e em proveito dos inconfessáveis poderes financeiros a que estão subordinados, recebendo o aplauso acéfalo de uns quantos "aprendizes de feiticeiro", e beneficiando da apatia que enganadoramente parece reinar numa sociedade que a nossa história demonstra nada ter dos tão apregoados "brandos costumes". É por isso tempo de relembrar que A SERENIDADE TEM LIMITES!
Tudo quanto antes referi não é novidade. No entanto, o estar à beira de me tornar septuagenário e o consequente acumular de experiências vividas, o sentir a injustiça com que estão a ser tratados os mais velhos e a falta de esperança que está a ser incutida nos mais novos, o constatar do desprezo com que são olhados os mais desfavorecidos e a ignóbil prática de a todos dividir para sobre todos reinar, despertou-me um forte impulso para acompanhar as palavras de quantos alertam para o risco de revolta que pode eclodir na sociedade portuguesa.
As medidas de empobrecimento todos os dias praticadas por quem nos (des)governa com a conivência silenciosa de quem assumiu a responsabilidade institucional de garantir o regular funcionamento das instituições, estão-se a constituir potenciais detonadores de situações explosivas.  Tomem consciência que O POVO PORTUGUÊS É SERENO MAS NÃO É COBARDE.


Lisboa, 18 de Dezembro de 2013






 GIL MONTALVERNE


PARABÉNS A GALOPIM DE CARVALHO

Numa cerimónia realizada no Pavilhão do Conhecimento foi entregue o Grande Prémio Ciência Viva Montepio ao Professor Galopim de Carvalho. Trata-se naturalmente de uma merecida distinção a quem tem pugnado pela divulgação do conhecimento científico, nomeadamente na área da Geologia em que é doutorado e sempre na defesa dos valores culturais e do nosso património. Professor, investigador, divulgador infatigável, a ele se deve o grande entusiasmo que entre nós se tornou tudo o que dissesse respeito aos dinossáurios. Se hoje as crianças brincam com pequenos modelos de dinossáurios — e disso tenho a experiência do meu neto que ainda muito pequeno era o melhor que lhe podíamos dar — tal facto é devido à sua luta pela preservação de pegadas desses gigantes do passado em Carenque e nas falésias do Cabo Espichel. Recordemos também que, já como director do nosso Museu de História Natural, conseguiu que tivesse lugar ali a famosa exposição "Dinossáurios regressam a Lisboa", que contou com várias centenas de milhares de visitantes em menos de três meses.
Mas o meu grande amigo Galopim de Carvalho publicou inúmeros trabalhos e artigos científicos em prestigiadas revistas nacionais e internacionais e é autor de vários livros de divulgação científica, incluindo o primeiro e único Dicionário de Geologia, mas igualmente na área da literatura de ficção, demonstrando um carinho especial pelos valores da cultura popular. Não é por acaso que se trata de um alentejano que muitas vezes recorda a sua infância na grande planície, entre as gentes e os costumes tão particulares daquelas paragens. Diríamos que se trata com efeito de uma figura muito especial na cultura e na ciência portuguesas, a quem muito devemos pela sua intervenção corajosa e patriótica. Adorado pela pequenada quando visita as escolas, admirado pelos colegas universitários, reconhecido o seu valor pelos muitos amigos com os quais partilha tudo o que sabe, bem merecia este prémio com que acaba de ser distinguido.





TERESA LOUSA


O MELANCÓLICO AUTO-RETRATO
DE FRANCISCO DE HOLANDA


Auto-retrato de Francisco de Holanda
in De Aetatibus Mundi Imagines, f. 89r

Francisco de Holanda é uma figura controversa que domina o séc. XVI português. Teve o mérito de ter sido o primeiro que em Portugal escreveu sobre bellas-artes 1. Todavia, em Portugal, a sua obra não chegou a ser impressa no seu tempo por força dos factos políticos que norteavam o final da sua existência.
A biografia de Holanda é extraordinária e paradoxal: de jovem cortesão entre príncipes e reis, humanista e artista da Renascença que privou com Miguel Ângelo na sua estadia em Itália, a um posterior esquecimento depois da morte do Infante Dom Luís e de D. João III. Do regresso de Itália até à morte, viverá retirado da vida social, entregando-se a valores religiosos e contemplativos. Holanda acaba os dias numa espécie de exílio de inspiração cristã no seu monte em Sintra. Há uma fuga da vida social para uma vida rural, mais próxima dos valores iniciais do cristianismo, uma busca de pureza no contacto com a natureza. Podemos dizer que é com amargura, marcada por uma resignação de índole monástica e contemplativa, que Holanda se irá retirar da vida cortesã para uma espécie de auto-reflexão.

Desde o seu queixume a D. Sebastião, no seu tratado em 1571, até à morte do Arquitecto, em 1584, decorreram cerca de treze anos, final amargo e triste para o mais importante artista da Renascença em Portugal. 2

Este exílio identifica-se com um tipo de "bucolismo" presente em algumas figuras do classicismo português, que encontraram talvez a sua inspiração em clássicos como Teócrito ou Virgílio. O facto é que o exílio campestre de Francisco de Holanda não é caso único e constitui uma das facetas do Renascimento português. A Contra-Reforma e o Neoplatonismo enquanto exigência de espiritualidade são tendências presentes nesta opção. Figuras incontornáveis da cultura portuguesa do século XVI como Gil Vicente, António Ferreira e Sá de Miranda, assumem no fim de vida a mesma fuga bucólica e espiritual de Francisco de Holanda.
Esta última fase da vida de Holanda é reveladora de um desencanto e de uma certa desistência. Consciente da sua idade avançada e da falta de interesse do Rei D. Sebastião pelas artes, afirma que talvez depois de morto este o venha a lembrar, e a servir-se da Pintura. Na sua obra tardia Da Ciência do Desenho, é com amargura que conclui:

E não me queixo mais do tempo. Porque me vai sua divina majestade chegando a um, em que o maior mal que me o mundo pode fazer é fazer-me o seu bem; e o maior bem é fazer-me o seu mal 3

Holanda, ele próprio vítima da falta de interesse pelas artes no nosso país, tem a melancólica consciência de que Portugal não reconhecerá o seu talento, nem como artista, nem como teórico
O auto-retrato 4 no fim do Livro De Aetatibus Mundi Imagines é bem revelador da sua condição melancólica. Neste desenho representa-se na presença das três virtudes teologais, fé, esperança e caridade, segurando nas mãos este mesmo livro, oferece-o à malícia do tempo, simbolizada por um cão que por sua vez o abocanha com ferocidade. Esta imagem, qual alegoria, retrata na verdade a auto consciência de Holanda, fazendo assim de si próprio um retrato total: de si, das suas expectativas, do seu contexto, dos seus sentimentos e sobretudo do seu espírito voluntarista de nunca desistir de lutar pela dignificação da Pintura. A sua persona materializada através desta perturbadora imagem representa acima de tudo a amargura por, como qualquer artista, desejar que a obra supere o seu tempo, e simultaneamente aperceber-se de quão pouco valorizado e estimado foi o seu trabalho devido não só à ignorância artística que dominava o Portugal do tempo, mas também devido à precocidade da sua mensagem, própria de um desbravador de ideias que por romper com o que está estabelecido não obteve o reconhecimento que merecia.
Esse sentimento de amargura, tão característico do génio incompreendido, em conflito com a sociedade em que está inserido, materializa-se artisticamente neste auto-retrato que constitui uma espécie de conclusão, em imagem, do De Aetatibus Mundi Imagines, prodigioso códice de 154 imagens, que, sendo iniciado em 1545, passa por um interregno de cerca de 20 anos e é retomado em 1573. Este longo intervalo entre 1545 e 1573 será responsável por alterações profundas na História e na cultura do nosso país:

Quando retoma a obra em 1573, o contexto já não é o mesmo. Perante uma Inquisição que acaba de prender Damião de Góis e que se torna cada dia mais ameaçadora para os intelectuais e os antigos estrangeirados, acentua, quando pode, o lado apologético da obra e dá ao seu códice um frontispício à glória da Igreja católica . 5


Tudo indica que o auto-retrato, não datado, seja desta época final. No fim da sua vida, acaba por revelar uma atitude espiritual, relativamente contrária à linha do humanismo renascentista. A postura e os seus gostos culturais são marcados por uma posição cada vez mais conservadora e cada vez menos humanista, em que a espiritualidade e a salvação da alma se assumem como principais inquietações. A matriz do seu pensamento é classicista mas também tridentina. A esta mudança corresponde também a passagem do entusiasmo dos primeiros tempos, a um desencanto posterior.
Depois das mortes do Infante Dom Luís em 1555 e de Dom João III em 1557, Holanda perde a protecção real e entra num período de declínio social, acabando por ser marginalizado pela corte. Vivem-se tempos de decadência com a morte de D. João III, D. Maria, sua irmã e de D. Catarina, sua viúva; o seu neto D. Sebastião sobe ao poder, dando início a um breve reinado que termina com a sua morte em Alcácer Quibir. O Cardeal Dom Henrique assume o trono e em 1581, Filipe II entra em Lisboa, trazendo a perda da independência portuguesa, mas em contrapartida traz também um novo gosto e uma atitude culturalmente mais apta que se fazia sentir já em Espanha.
Morre em 1584, com sessenta e seis ou sessenta e sete anos, em circunstâncias desconhecidas. Não se sabe ao certo se terá morrido em Lisboa, no seu Monte, ou em Santarém.
Curiosamente podemos encontrar uma certa semelhança entre o destino de Holanda e o de Miguel Ângelo, seu amigo, seu mestre, seu ídolo em todas as dimensões. A mudança por que ambos passaram corresponde também à mudança dos tempos e são manifestas tanto na evolução das suas obras como na tendência melancólica do final de vida.


1 Abade de Castro. Resumo Histórico da Vida de Francisco de Holanda. Lisboa: (s.n.). 1869 p. 6
2 Francisco de Holanda. De Aetatibus Mundi Imagines. Edição fac-similada com estudo de Jorge
   Segurado. Lisboa: INCM. 1983. p. 32
3 Francisco de Holanda. Da Ciência do Desenho. Lisboa: Livros Horizonte. 1985. p. 45
4 Ver figura na abertura
5 Sylvie Deswarte. As Imagens das Idades do Mundo de Francisco de Holanda. Lisboa: INCM.
   1987. p. 62



Teresa Lousa é professora de Estética à licenciatura em Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.








OSCAR MASCARENHAS


O ERUDITO VASCO PULIDO VALENTE
E A SUA ALMA GÉMEA

O erudito Vasco Pulido Valente explica-nos sempre o presente com o passado e transforma o nosso porvir numa seca, num ferro, porque já se sabe que o que nos acontece não é nada de novo, já estava tudo inscrito no código genético determinista da história.
Chama-se a este método científico tirar o cotão da História do umbigo do sábio que já quase esqueceu o que nos ajuda a aprender.
(Falo de uma História que só ele conhece, nunca citando fontes, para que não o copiem, como o próprio o escreveu, no estilo de raríssimos marrões de nossa juventude que escondiam a folha do ponto escrito e depois levavam cada calduço naquela pescoceira, a meio do tropel da maralha escadas abaixo no liceu à procura de vaga no pátio para se jogar à bola e que lá ficavam sentados nos degraus o intervalo todo a consolar o cachaço, os maricões…)
Que interessante e redentor seria se o cavalheiro, sobre o erudito em que faz gala de se apresentar, conseguisse ser — isso é que seria único — taumaturgo, explicando-nos o presente com o futuro.
Aí é que aprenderíamos e não lhe pediríamos, naturalmente, fontes.
Mas o erudito Valente explica-se exatamente pela peçonha que debita com a garra de lacrau que vem sempre a adejar-lhe sobre a cabeça. Tudo o que faz ou escreve se autopsia pelo seu próprio passado. O ódio que tem à esquerda e ao 25 de Abril está esclarecido pelo falecido historiador César Oliveira – e confirmado pelo próprio erudito de cognome Valente, naquela sua impercetível dicção nasalada e de dentes cerrados: é uma fuga para frente de alguém que, no seu atrás histórico, cometeu o mais desgraçado erro de não conseguir esperar pela história.
Conta César Oliveira que o Valente de cognome o convidou a juntar-se a ele numa romaria à PIDE, explicar ao inspetor Pereira de Carvalho que não valia a pena o regime preocupar-se com a sua periculosidade intelectual, que aquilo tudo tinham sido devaneios pueris e que se encontravam nos conformes da situação. Isto para desbloquear as suas nomeações como professores universitários, que andavam de Anás para Caifás, por umas coisas políticas.
Formalizou-se o César perante tal vileza e mandou o dito Valente ir acobardar-se por conta própria – mas sozinho.
Lá foi.
(Pensavam que não?)
E veio purificado pelo regime que — azar! — caía pouco tempo depois. Como redimir-se o Valente de nome adotado? Para trás faz o que faz a burra de Passos Coelho — e não a história —, pelo que o melhor foi-lhe fugir para a frente porque o moscardo do remorso o havia ferroado na retaguarda.
Hay 25 de Abril? Soy contra. Já vi o filme. É série B. Já vi melhor no Simpsons on the Strand, que faz um roastbeef de truz com um Yorkshire pudding de estalo.
E desde então para cá tem sido assim. Diz mal. Provoca. Anda a pedir calduços — ele acharia mais aplomb levar bengaladas no Chiado, dispondo-se a fornecer o material herdado do pataravô — mas nós, sádicos, não fazemos tal favor ao masoquista.
Agora encontrou uma alma gémea: Alberto João Jardim. E, como o histrião da Madeira, chama hoje, no Público, II República à Ditadura entre 1926 e 1974.
A minha única pergunta ao erudito Pulido (a parte do Valente já foi erodida pela sua própria história) é etimológica: como é que o sábio chama república (res publica, coisa pública) a uma coisa em que público não tinha qualquer poder para intervir?

(20/09/2013, com acrescento sobre Passos Coelho a 29/09/2013)






RUI BEJA


SENSO COMUM, BOM SENSO E 'NONSENSE'


FOTOGRAFIA JORNAL PÚBLICO POR ESPECIAL CORTESIA


Senso comum:
conjunto de opiniões ou ideias que são geralmente aceites numa época e num local determinados.
Bom senso:
equilíbrio nas decisões ou nos julgamentos em cada situação que se apresenta.
'Nonsense':
aquilo que é contrário à razão ou ao bom senso = absurdo.

Sinto, e arrisco-me afirmar, ser senso comum que nos tempos conturbados que se vivem em Portugal, na Europa e no Mundo, predomina a falta de bom senso. Torna-se, porém, bem mais complexo especificar em que consiste essa falta de bom senso. Tratando-se de um conceito subjectivo, e que varia no tempo e no lugar, as opiniões são legitimamente contraditórias, ou, no mínimo, passíveis de interpretações mais ou menos diferenciadas. Será até pacífico concluir que, nesta matéria, os diferentes pontos de vista podem corresponder a uma salutar convivência democrática, desde que assumidos num quadro de respeito pela pluralidade de ideias, diversidade de conceitos, e equidade social.
Bem diferente é o 'nonsense', conceito que trago à colação na sequência das graves afirmações que, conforme veiculado pela comunicação social, o primeiro-ministro de Portugal terá proferido relativamente aos acórdãos recentemente produzidos pelo Tribunal Constitucional. Vindo de quem vem, recomendar aos juízes deste órgão de soberania que "É preciso bom senso", ou inquirir demagogicamente "Já alguém perguntou aos 900 mil desempregados de que lhe valeu a Constituição até hoje?", constitui uma ofensa à dignidade e à inteligência dos portugueses, ultrapassa os limites do debate político, vai para além das regras de convivência democrática.
Saiba, senhor primeiro-ministro, que nem todos temos memória curta e que quem está perto de completar sete décadas de vida tem muita informação acumulada; não lhe passam ao lado todas as incongruências políticas, ultraneoliberalismo económico e insensibilidade social que marcam o seu mandato, e tem bem presentes outros tempos e outros protagonistas que deixaram Portugal no estado de miséria sociocultural que o senhor "sonha" ser o melhor futuro para Portugal.
Não, senhor primeiro-ministro, não vou deixar de o associar à pequena história de vida que aqui trago; e digo pequena porque face ao sofrimento de tantos e tantos portugueses não passa de um detalhe, embora exemplificativo dos efeitos da sua recomendação aos jovens para que procurem realizar noutras paragens o futuro que a sua política lhes retira no nosso, no meu país.
Tudo começou quando, há uns largos meses, se começaram a perspectivar os efeitos da situação crítica em que alguns "aprendizes de feiticeiro" colocaram o futuro dos portugueses, mais jovens e menos jovens, a mando de incógnitos "mercados" e dos seus obscuros interesses. Muito provavelmente também iria bater à porta da nossa família.
No início do ano, a nossa filha mais nova trouxe a notícia que se antecipava: vamos para Inglaterra. Sabemos todos que foi a decisão certa face ao presente e ao futuro que o "rolo compressor" que por aqui se instalou deixam adivinhar para Portugal. Mas a luta entre o emocional e o racional vive connosco desde esse dia.
Ainda que por outros motivos e noutras circunstâncias, este tipo de situação não nos era novo. Há quatro décadas completadas em Fevereiro de 1973, cumpridos os regulamentares 42 meses de serviço militar obrigatório, casado e pai de dois filhos, fui chamado para um curso compulsivo de capitão miliciano e "enviado" para a guerra colonial — afortunadamente numa função administrativa — por via do 'nonsense' do chefe de um governo ditatorial; razão bastante para que não tivesse podido acompanhar o nascimento e o primeiro ano de vida... da filha mais nova vinda ao mundo em Outubro desse ano.
Mas, senhor primeiro-ministro, algo mudou nestes quarenta anos. É que o poder arbitrário de 1973 tinha a polícia política a resguardá-lo e, em 2013, o poder está, felizmente, condicionado por uma Constituição democrática, e por um Tribunal Constitucional que, espero bem, não se deixará intimidar com as suas provocações e não será influenciável pelo seu intolerável 'nonsense'!

Lisboa, 3 de Setembro de 2013






ARTUR PORTELA


ALAN LADD DELEGA COMPETÊNCIAS
EM PAULO PORTAS

O facto de o sr. primeiro-ministro, dr. Pedro Passos Coelho, ter
delegado no sr. vice-primeiro-ministro, dr. Paulo Portas, a
coordenação política das negociações com a Troika e a tutela da
AICEP, para além do que já é gerido pelo sr. vice-primeiro-ministro,
quer por funções próprias e originais no quadro do Governo quer por
delegação, suscitou, nacional e mesmo internacionalmente, um
vastíssimo e aceleradamente crescente movimento de delegações de
competências no dr. Paulo Portas.

As mais diversas.

A saber:

Pastelaria Garrett, FNAC, Supermercados Modelo, Escola Alemã, dr. Brilhante Santos, Agência Funerária Letes, Nações Unidas, Fundação António Barreto, D. Manuel Clemente, dr. António José Teixeira, da SIC, dr. Jardim Gonçalves, Rei Hades, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, Coro dos Reitores da Universidade Portuguesa, UNESCO, Coro dos Marinheiros da Madame Butterfly, Sport Lisboa e Benfica, Tribunais da Comarca, Irmãos Marx, Presidente Obama, Gerência do“Tavares Rico”, Família Valle Coutinho, Marinha Portuguesa, Corpo de Vigias da Praça de Tiananmen, Lojas Pingo Doce, Cónego Melo (?!), Fundação Champalimaud, Universidade Católica, CTT, Sporting Clube de Portugal, BEI, embaixada da Rodénia, ministério da Saúde, Ordem dos Médicos, Presidente Putin, João Villaret, Almirante Doenitz, Ordem dos Enfermeiros, República do Paquistão, Tony Carreira, INFARMED, Ban Ki-moon, PROSEGUR, Fernando Lima, Santuário de Fátima, Obra das Mães, Actor Alan Ladd, Parques Nacionais, Ongoing, Presidente Holande, Câmara Municipal de Cascais, ERC, "Portugal dos Pequeninos", jornalista Auto-entrevistador dr. Gomes Ferreira, Forças Armadas do Norte, Forças Armadas do Sul, dr. Fernando Ulrich, cidade de Caracas, dr. João Duque, detective Dupond, detective Dupont, NATO, Carris, Tony e Mickael Carreira, Futebol Clube do Porto, Metro do Porto, PSD, D. Duarte Nuno, Miguel Relvas, CP, Hotel OPA, República Popular de Angola, República da Venezuela, 100 Autarcas do CDS (?!), República de Moçambique, Grupo de Pirónamos Políticos, Artur Portela Filho, Teatro Nacional de S. Carlos, Computadores Magalhães e Vasco da Gama, Walt Disney, Josefine Baker, Cinemateca Nacional, treinador Fernando Mourinho, Sociedade Nacional de Belas Artes, Forças Armadas do Sul, dr. Medina Carreira, Associação dos Pilotos Aéreos, Ministério do Ar, Maternidade de S. Francisco, dr. Miguel Trigueiros, dr. Pedro Reis, da AICEP, Estádio de Alvalade, dr. Basílio Horta, actor Paul Muni, dr. Pedro Santana Lopes, Misericórdia de Lisboa, secretário de Estado da Cultura, jornalista auto-entrevistador dr. Gomes Ferreira, David Cameron, Jesualdo Ferreira, dr. Josef Blatter, da FIFA, Fundação Cónego Melo, Núncio Apostólico em Lisboa, dr. Fernando Ulrich, Banco Popular, dr. Marinho e Pinto, em representação da Ordem dos Advogados e no seu próprio nome (quer Marinho quer Pinto), Embaixada da Alemanha, Grupo de Entrevistados pelo dr. Gomes Ferreira, actor Tyrone Power, Speaker da Câmara dos Comuns, Frente da Marinha Mercante, Sofia Coppola, François Holande, Sindicatos da UGT, Academia das Ciências, Tony & Guy da Rua do Alecrim, sr.ª Presidenta da Assembleia da República, Federação Internacional de Submarinistas, Câmara do Comércio Luso-Alemã, dr. Germano Periscópio, dr. Klaus Torpedo, dr. Manuel Salgado, todos os membros do actual Governo, com excepção dos ministros do CDS, por, citamos,“ser pleonástica, e assim supérflua, qualquer delegação de poderes”, treinador Jesus, treinador Mourinho, S. Tomás de Aquino, Evangelistas Marcos, Mateus, Lucas e João.

Bem como Jeová


Monte Estoril, 31 de Agosto de 2013
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