SOBRE PEDRO FOYOS
Aquilino Ribeiro, escrevendo sobre o jovem jornalista com 19 anos, augurando-lhe "um futuro de homem de letras" (4 de Março de 1963).
Baptista-Bastos: "Pedro Foyos é um dos maiores e mais bem apetrechados jornalistas da sua geração. Como alguns de nós, poucos de nós, sabe fazer um jornal, do editorial à paginação, do suelto à grande entrevista e à reportagem. Culto, modesto, atentíssimo e informado das coisas do mundo, Pedro Foyos sempre se afastou do rataplã do marquetingue porque a sua vocação pertence aos domínios do espírito de relação com os outros."
Gil Montalverne: "Jornalista dos mais conceituados desta classe que desse modo a sabe honrar e a eleva ao que de mais complexo mas completo se pode exigir."
Maria Antonieta Preto: "O Pedro Foyos destila ternura e sensibilidade e envolve-nos. Ao ler as suas frases penso no quanto as nossas sensibilidades se tocam relativamente ao respeito pela Natureza, pelo processo da escrita."
BIBLIOGRAFIA
• Livro-Relatório da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa / Direção de 1962 (apreendido pela polícia política).
• Quem é Quem no Jornalismo Português, 1992
• Notícias do Milénio, 1999
• Jornalistas. Do Ofício à Profissão, de Fernando Correia e Carla Baptista, 2007
• Memórias Vivas do Jornalismo, de Fernando Correia e Carla Baptista, 2009
• Um Esqueleto no Cadastro do Repórter, blogue O Galo de Barcelos ao Poder, 9.2.2010.
"MEMÓRIAS VIVAS DO JORNALISMO"
Entrevista de Fernando Correia e Carla Baptista
NA BIBLIOTECA DE PEDRO FOYOS (Revista NS / Diário de Notícias / Jornal de Notícias, 24.Outubro.2009)
Por Mariana Correia de Barros
É uma casa de livros. São divisões forradas de papel. Facilmente se perde a conta ao número de obras, mas Pedro Foyos tem tudo bem dividido e alfabeticamente organizado. O jornalista que lançou recentemente o livro Botânica das Lágrimas, um romance sobre a realidade do bullying passado numa visita de estudo ao Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, juntou à obra uma das suas grandes paixões, as Ciências da Natureza. Também elas merecedoras de prateleiras de destaque da sua biblioteca.
Com uma especial incidência na botânica, este é um ciclo que tem acompanhado o jornalista desde os tempos de meninice. «Nunca me abandonou. É um tema perene.» Outro dos seus géneros de eleição, a ficção científica, minuciosamente arrumada numa das divisórias da casa, durou cerca de 15 anos. «Escrevia sobre um livro por semana e isso obrigava-me a ler muito. É um ciclo que está semiencerrado, mas foi um grande exercício para mim, porque nesse género a imaginação é infinita.» Tem também uma grande paixão pela história, numa parcela muito definida. «Cedo compreendi que é impossível abarcar tudo. Seduziu-me um lado mais desconhecido que é a civilização fenícia», onde se passa outro dos seus romances, O Criador de Letras.
Tem espaços dedicados a autores lusos, espaços dedicados aos estrangeiros. Aos poetas, aos escritores de língua portuguesa, aos livros técnicos e até uma prateleira num anexo, onde costuma escrever, com livros proibidos pela Censura. São milhares. Alguns escondidos em segunda fila. Muitos deles partilhados com a mulher, Maria Augusta Silva, também jornalista, com quem diz em tom de brincadeira «ter casado com comunhão de livros». Para a biblioteca principal da sala os dois escolheram os autores que mais os marcaram. Fernando Pessoa, Agustina Bessa-Luís, Miguel Torga, Aquilino Ribeiro, José Rodrigues Miguéis, António Lobo Antunes, entre outros.
DOS FILÓSOFOS: EDGAR MORIN, SÓCRATES, HERACLITO, UNAMUNO…
É também um apaixonado por filósofos. Dos modernos destaca o francês Edgar Morin. «É uma alma gémea. Fico espantado porque encontro nele também as minhas ideias e admiro muito Bertrand Russell, especialmente porque o apanhei, ainda adolescente, naquela fase do pacifismo.» Recuando milénios, fala de Sócrates e de Heraclito, «filósofos que têm a capacidade de fazer o pensamento sintético. E isso vale por uma biblioteca inteira». Admira ainda Miguel de Unamuno: «quando se chega ao fim Do Sentimento Trágico da Vida, fica-se com a sensação de que está tudo dito».
Do seu escritor estrangeiro de eleição, J.M. Coetzee, tem toda a obra traduzida; A Vida dos Animais é de todos o que mais gosta. Nele vê também uma das suas almas gémeas: «Leio um livro dele e penso que afinal não estou sozinho.» Fala de John Steinbeck, de um livro muito especial, A Um Deus Desconhecido, que o acompanha há mais de quarenta anos. Do top literário faz também parte outro Nobel, o sueco Par Lagerkvist, com o livro O Anão, «uma narrativa seca e no entanto cheia de pujança».
O rol de autores favoritos continua por Isaac Asimov, do qual possui boa parte da obra («não há ninguém que conte histórias como ele»), pelo brasileiro Machado de Assis, Axel Munthe e Fernando Pessoa, em especial O Livro do Desassossego, composto pelo heterónimo Bernardo Soares («tem uma profundidade enorme, deve ser lido aos poucos»). Guarda alguns exemplares únicos e obras autografadas, entre elas o Romance da Raposa, de Aquilino Ribeiro, assinado depois de uma entrevista já longínqua.
Sem vergonhas, fala de um dos únicos livros que o fez chorar, O Meu Pé de Laranja Lima, do brasileiro José Mauro de Vasconcelos. «Li-o já adulto e para além da beleza, da poesia e ternura, é para mim uma obra-prima. Um livro que nos faz chorar tem de ser uma obra-prima.».
UMA NOTA: A PRIMEIRA INSPIRAÇÃO
Pedro Foyos tinha 8 anos quando tomou a «inabalável decisão de ser um escritor famoso». Aconteceu depois da leitura de As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain. «Ele é um escritor fantástico. As aventuras incendeiam a imaginação de um miúdo.» Tem inclusivamente encadernada uma das primeiras histórias que escreveu, ainda com 11 anos. Mas a influência de Twain foi tal que no seu romance Botânica das Lágrimas também o protagonista, um rapaz de 7 anos e meio, toma essa mesma decisão. Um ligeiro toque de autobiografia.