CULTURA INDIANA FORTALECIDA NO MILAN 2014
TEATRO PROTAGONIZA AS GRANDES MENSAGENS DOS POVOS




Grupos de danças típicas indianas, teatro representado em língua gujerati, jogos e cantares, entre outras manifestações, vão preencher, dia 27, às 18 horas, o MILAN 2014 (entrada livre), que decorrerá nas instalações da Associação de Solidariedade Social Templo de Shiva, em Santo António dos Cavaleiros (Loures). Trata-se de um grande encontro visando divulgar e fortalecer entre nós a cultura indiana num desejo de criar, nomeadamente nos mais jovens, interesse pela vida quotidiana da comunidade hindu e, ao mesmo tempo, incentivar o conhecimento das origens da família.
O núcleo organizador é constituído por Hema Hasmuklal, Harish Santilal, Pradip Lalitkumar e Rinku Kamlesh Doshi que tudo têm dado de si no sentido de dinamizar a relação entre as diferentes gerações, concebendo um programa cultural acessível a todo o público.
Este espírito de comunicação sócio cultural, de afetos e de partilha ganhou forma no ano passado (MILAN 2013) que logo contou com uma adesão na ordem de meio milhar de pessoas. Certamente que vai agora, também, registar um acrescido envolvimento, tratando-se de uma iniciativa de tanto mérito num tempo em que nunca serão demais os projetos e apelos voltados para dar ao ser humano a dimensão ímpar da cultura, da memória, da fraternidade e da comunhão espiritual, independentemente dos credos de cada um.
O MILAN 2014 (além do fascínio que exercerão, por exemplo, os artigos de gastronomia) vai ter uma componente artística relevante: o teatro, inclusive, assume uma função primordial ao possibilitar uma maior eficácia na interação das mensagens socio culturais e dos afetos.
As crianças serão personagens de peso neste MILAN 2014. Duas peças da autoria de Hema Hasmuklal estarão em cena, uma que fala de uma história de amor e amizade, narrada por crianças entre os 9 e 12 anos, outra sobre problemas do quotidiano dos jovens e o seu relacionamento com a comunidade hindu (abordando diversos temas do hinduísmo).
De realçar igualmente outra peça interpretada por adultos e inspirada na Barca do Inferno, de Gil Vicente, que Harish Santilal (da direção do Templo de Shiva) adaptou à atualidade e à comunidade indiana.
Não faltam motivos para o MILAN 2014 ser um êxito tanto do ponto de vista socio cultural como no que respeita ao seu intento de solidariedade que passa, neste evento, por uma recolha de brinquedos usados destinados à Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), devendo estar presente no encontro Vera Julião, representando a delegação do Parque das Nações da CVP.
Hema Hasmuklal diz ao Casal das Letras (ver entrevista) que as culturas indiana e portuguesa têm pontos comuns, realçando o dos valores espirituais, esses que procuram sobretudo a «consciência do indivíduo».


                                               ENTREVISTA A HEMA HASMUKLAL

Hema Hasmuklal, que integra a comissão organizadora do MILAN 2014, médica, fala ao Casal das Letras desta iniciativa. Em formato de entrevista conta-nos como é fundamental fortalecer a mensagem cultural dos povos.

Como surgiu a ideia do MILAN?
Aconteceu em 2013. MILAN significa encontro e nasceu entre nós como uma forma de atrair os mais jovens para as atividades da comunidade hindu, envolvendo-os nos programas que procuram, ao mesmo tempo, divulgar a cultura indiana.

Gratificante para os que meteram ombros a essa tarefa…
É muito importante que os jovens de famílias originárias da Índia estejam bem integrados na cultura europeia mas achamos também que não devem perder a ligação à cultura de origem.

O MILAN afirma-se assim como um incentivo…
A afluência às atividades culturais, religiosas e mesmo convívios organizados pela Associação Templo de Shiva estava a ser cada vez menor e culminou há dois anos com o encerramento da escola de língua indiana. Por isso, no ano passado, decidimos realizar um encontro diferente, que motivasse toda a comunidade indiana, passando pelos jovens e mesmo os seus amigos de outras comunidades e de outras religiões.

E aí temos o MILAN 2014. Um trabalho para continuar?
Em 2013 a adesão foi muito grande. Contámos com vários grupos de danças, cantores, músicos. Ainda teatro em jeito de comédia, uma sátira à atitude dos jovens perante a cultura indiana, as roupas, a língua, a alimentação. Despertou o interesse de muitos. O teatro foi desempenhado por crianças, quase todo falado em língua gujerati (embora as nossas crianças não falem gujerati), mas havia uma personagem cujo papel era o de explicar algumas falas em português. Ficámos agradavelmente surpreendidos com o impacte positivo da peça.

Daí o papel fundamental do teatro no MILAN 2014? Trata-se de uma expressão artística que sabe comunicar melhor a mensagem sócio cultural dos povos?
Como o evento do ano passado decorreu muito bem, este ano decidimos repetir a iniciativa, esperando ter a mesma adesão. E reforçámos as atuações que implicassem o uso da língua gujerati pelas crianças e também por adultos, aproveitando pequenas deixas para dar ensinamentos sobre a nossa cultura e a nossa religião.
Apercebemo-nos de que a mensagem passa muito melhor através de peças teatrais, sobretudo de comédias em que confrontamos as pessoas com as suas realidades. Ao contrário de discursos maçadores ou de aulas, o teatro acaba, de facto, por ser uma forma de transmitir muito melhor as mensagens socio culturais e, neste caso, de motivar as crianças para aprenderem a falar a língua da família de origem.

Enquanto autora de peças teatrais inscritas no MILAN 2014, concebidas para jovens, sente que as crianças são por excelência as intérpretes genuínas do ser humano?
As crianças são muito puras e genuínas. A maneira como interpretam as peças acaba por ser mais atraente para o público. A mensagem passa sem que as pessoas interpretem mal ou fiquem magoadas com as críticas que saem das falas das crianças.

Também Gil Vicente entra neste MILAN 2014 numa adaptação à atualidade e à comunidade indiana da Barca do Inferno, feita por Harish Santilal. Que pontos comuns encontra nas culturas indiana e portuguesa?
As culturas indiana e portuguesa têm sem dúvida alguns pontos em comum. Em ambas existem atitudes de grande tolerância e respeito pelo próximo. A cultura indiana é baseada em valores espirituais, altruísmo, e procura de consciência do indivíduo. Em Portugal vemos muito também a necessidade (cada vez maior) da procura de valores espirituais e de respostas que possam explicar os objetivos da vida.

A médica que também é completa-se com o amor às causas culturais e de solidariedade?
Além de ser médica, sempre fui uma grande apaixonada pelos meios artísticos, nomeadamente teatro, pintura, dança, escultura. O facto de ter duas filhas pequenas e a necessidade de transmitir-lhes ensinamentos válidos para a vida fez com que me aliasse a causas culturais como as do MILAN. Todos devemos ser solidários. Daí também o associarmos o MILAN à recolha de brinquedos usados para doar à Cruz Vermelha Portuguesa.

DEZEMBRO DE 2014







QUARENTA ANOS DE ARTE E CRÍTICA
COLEÇÃO DE MARIA JOÃO FERNANDES NA BIBLIOTECA NACIONAL


dn_memoria A Biblioteca Nacional de Portugal inaugura no dia 12 de dezembro, às 18h00, a primeira apresentação pública de uma parte da coleção de arte contemporânea de Maria João Fernandes que reflete cerca de quarenta anos da sua atividade crítica e inclui uma mostra biobliográfica reunindo os seus livros, ensaios sobre artes plásticas e a sua poesia e algumas das principais publicações onde tem vindo a colaborar, entre catálogos, revistas, suplementos culturais e jornais, como o Jornal de Letras de que é colaboradora permanente. A iniciativa visa o encaminhamento desta coleção para um Museu.
A exposição organiza-se em diversos núcleos que são também o reflexo da diversidade temática da sua visão crítica. Desses núcleos destacamos obras de artistas como Alexandra Mesquita, Ana Hatherly, Bertino, Cristina Valadas, Francisco Laranjo, Emerenciano, Ernesto Melo e Castro, Eurico Gonçalves, Francisco Laranjo, Rico Sequeira, João Vieira, Teresa Gonçalves Lobo, Carmo Pólvora, Graça Moraes, Gracinda Candeias, Inês Wijnorst, Isabel Pavão, Matilde Marçal, Carlos Calvet, Carlos Rocha Pinto, João Moniz, Manuel Viana, Armanda Passos, Artur Cruzeiro Seixas, Carlos Carreiro, Moniz Pereira, António Carmo, Boavida Amaro, Chichorro, Guilherme Parente, Jaime Isidoro, Nadir Afonso, Júlio Resende, Rodrigo Ferreira, Gil Teixeira Lopes, Matilde Marçal, Isabel Lhano e António Sampaio. Os "Artistas Poetas e Poetas Artistas", tema de uma exposição comissariada em 2013 por Maria João Fernandes, estão representados por António Ramos Rosa, Julio, Mário Dionísio, Gonçalo Salvado e Joana Lapa (pseudónimo de Maria João Fernandes). A relação da arte primitiva e da arte contemporânea é evocada por uma pintura colagem de José de Guimarães, uma gravura de David de Almeida e duas esculturas de Paulo Neves.
Citamos Maria João Fernandes: «Trata-se, em suma, no conjunto, de reconhecer a existência de uma outra realidade, a da arte, com as suas leis e a sua lógica próprias, para através dela lançar luz sobre os grandes princípios do imaginário que a estruturam, ajudando a torná-los "legíveis", permitindo a sua apreensão e comunicação. Comunicação entre a palavra e o silêncio, o dito e o interdito, da beleza secreta, do há muito esquecido e nunca perdido Paraíso.»


DEZEMBRO DE 2014







ALFREDO CUNHA E FIDALGO PEDROSA
EXPOSIÇÃO EM LISBOA DE DOIS GRANDES NOMES DA FOTOGRAFIA PORTUGUESA




Sugerimos vivamente uma visita à exposição fotográfica de Alfredo Cunha e Fidalgo Pedrosa que será inaugurada no dia 19 de novembro, às 15h30, no Megastore de Alvalade, Galeria Colorfoto (Avenida da Igreja, 39 – Lisboa).
Dois fotógrafos. Um projecto. O ser humano no centro de todas as emoções e ações. Alfredo Cunha e Fidalgo Pedrosa mostram fotografias acerca dos "Sentimentos e do Movimento" na sociedade contemporânea. A fotografia, enquanto arte, deverá conter vida, humanidade, informação, testemunhos, beleza e drama, onde os pequenos instantes e ações se transformam em momentos únicos e finalmente em imagens. As fotografias estão em todo lado, só temos que olhar, ver, compreender e fotografar.
No dia da inauguração inicia-se a semana Open House Fujifilm, onde os visitantes poderão conhecer e experimentar as novas câmaras e objetivas da série X.
Gratamente acolhemos neste sítio, no espaço Fototeca dos Aliados (área Arte), algumas admiráveis imagens de Alfredo Cunha e Fidalgo Pedrosa.



NOVEMBRO DE 2014







ESCRITOR MÁRIO DE CARVALHO NO "CASAL DAS LETRAS"
… E AGORA UM MANUAL DE ESCRITA PARA PRINCIPIANTES


pessoa Coloquem-lhe os epítetos que entenderem. Onírico. Fantástico. Metafórico. Lexicológico. Será tudo isso. Ou também isso. Mário de Carvalho é um escritor tão capaz de nos ganhar o riso como de subtilmente nos inquietar. Agnóstico que define muitas das suas personagens como um misto de Deus e do Demónio. A narrativa deste advogado rendido à ciência e às letras traduz um desafio. Por uma razão simples: cria e recria, inventa, sem nunca perder de vista que toda a escrita é um processo de amor e de aventura.
Novo livro chegará às livrarias dentro de poucas semanas: Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão — inesperado guia prático para escritores principiantes…
Mário de Carvalho, que nos tem honrado com a sua presença neste sítio, facultou-nos um fragmento da obra. Alertou-nos para o facto de não ter a certeza de o trecho em causa corresponder à última versão. Aferiremos tão logo o livro nos chegue às mãos…




OUTUBRO DE 2014








EXPOSIÇÃO CELEBRATIVA DO CENTENÁRIO DA LEICA É AFRONTOSA PARA PORTUGAL
PEDRO FOYOS COMENTA A EXCLUSÃO DE SILVA ARAÚJO E DE OUTROS "HISTÓRICOS"

A Leica, emblemática fabricante de máquinas fotográficas, inaugura por estes dias (outubro 2014), em Hamburgo, uma grandiosa exposição comemorativa do seu centenário. A mostra, que reúne meio milhar de imagens, deverá viajar de seguida para outras cidades europeias, entre as quais Lisboa (Museu do Chiado). A curadoria pertence a Hans-Michael Koetzel, que há meses declarou, em entrevista a Sérgio Gomes (jornal Público) que Portugal seria um dos países representados de forma especialmente prestigiosa, intuindo-se a inclusão de vários autores marcantes dos anos 50/60.
Koetzle veio expressamente a Portugal e… «descobriu, maravilhado, o trabalho de um amador muito dedicado à mítica marca alemã, Jorge Silva Araújo, de quem trazia apenas uma pista, um artigo publicado na revista da Leica nos anos 50». O comissário alemão delira com a qualidade do trabalho de Silva Araújo, denominando-o «mestre». Logo depois ressoam as trombetas: «Na comemoração dos cem anos da invenção da câmara que revolucionou a fotografia, Portugal será um dos países em grande destaque».
Sabemos agora que o «grande destaque» expande-se num dilatadíssimo perímetro que começa e acaba num autor único, contemporâneo, Paulo Nozolino, que muito admiro, deplorando porém que nesta história desempenhe o papel de sujeito passivo.
De facto, o que está a passar-se com a celebração dos cem anos da Leica é um insulto à memória dos pioneiros portugueses, de entre os quais realço Jorge Silva Araújo. Nenhum fotógrafo português esteve historicamente tão associado à Leica. À escala europeia poucos terão prestigiado tanto a marca durante pelo menos duas décadas. Sei do que falo, fui testemunha. E também parte interessada: eu e muitos outros comprámos "Leicas" pela desculpável ambição de as nossas pobres obras poderem emular as do querido e saudoso médico cirurgião que orgulhosamente aditava no seu cartão de visita a condição de… «fotógrafo amador». Desculpável, sim, porque, é sabido, à juventude perdoam-se as bazófias levianas.
Convido os atuais administradores da Leica a vasculharem os arquivos de imprensa da própria empresa, reportados aos anos 1940/50. Poderão encontrar dezenas de textos em línguas diversificadas (alemã, inglesa, francesa, portuguesa e castelhana), nos quais o nome de Silva Araújo é indissociável das cinco letras da sua máquina fotográfica, tão silenciosa como inseparável. E se o comissário Koetzle voltar a Portugal (aquando, talvez, da inauguração da mostra no Museu do Chiado), decerto arranjará um tempinho para se deslocar a um certo segundo andar da Rua das Chagas, ali muito próximo, onde algumas dessas publicações estarão preservadas.
Este comissário germânico, cujo rosto aparenta respeitabilidade, sem um sinal de sordícia,  será a mesma pessoa que em janeiro deste ano se declarou «maravilhado» com a obra de Jorge Silva Araújo, adiantando que a fotografia portuguesa não poderia deixar de estar em «grande destaque» na exposição celebrativa dos cem anos da Leica?  Lá estarei, para lhe fazer a pergunta.
(Entretanto, sondei-lhe o retrato na internet e por um instante relembrei que em fotografia se mente muitíssimo: o sujeito não passa, afinal, de um desavergonhado do tipo "cortês", com a respeitabilidade cingida a um farto bigode branco. Só o bigode é respeitável, tudo o mais é uma desgraça).
Na verdade, que comportamento indecoroso, o deste comissário que, insolitamente, dizem as biografias jornalísticas ser muito entendido em «Fotografia Humanista», seja lá isso o que for.
Não contesto a presença de Paulo Nozolino. Mas sempre direi que ele deveria recusar estar representado numa exposição velada de raiz por critérios tão obscuros, tão desprovidos de dignidade e — é preciso afirmá-lo sem titubeação — afrontosos para os fotógrafos portugueses, todos: os mortos e os vivos.

Pedro Foyos
Antigo presidente da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica.


TAMBÉM NESTE SÍTIO
«RETALHOS DA VIDA DE UM FOTÓGRAFO AMADOR»
FOTOTECA DOS ALIADOS
ARTE

OUTUBRO DE 2014







O "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" EVOCADO POR ANTIGOS PROFISSIONAIS
JORNALISTA FERNANDO PIRES CONVIDA A «VIAGEM PELOS CAMINHOS DA MEMÓRIA»


dn_memoria De quantos tempos se faz um jornal com 150 anos? Inevitavelmente de tantos que não podem caber num só livro.
A obra O Nosso DN – Memórias do Tempo, levada a cabo pelo veterano jornalista Fernando Pires, está lançada e revela-se sem dúvida um trabalho que a todos oferece a possibilidade de analisar e entender o modo como a Imprensa foi evoluindo nas suas múltiplas componentes. Saborosos registos conduzem-nos à época das barras de chumbo, dos dinâmicos e sábios tipógrafos, dos jornalistas a escreverem notícias, artigos, reportagens, entrevistas com canetas (algumas de aparo mergulhado no tinteiro). Registos que passam igualmente pela técnica do offset e chegam ao mundo da informática, ao das máquinas de escrever entretanto destronadas pelos computadores. Convite a uma «viagem pelos caminhos da memória», como escreve Fernando Pires logo na primeira página desta fascinante antologia. Ninguém estaria em melhores condições para empreender tal iniciativa: cinquenta anos passados na redação do DN (que foi não a sua segunda mas sim a sua primeira casa!). Fernando Pires continua sendo para todos nós um testemunho de paixão, de uma exigência que dava por vezes ares de mau feitio, porém era, sobretudo, a garra de colocar o jornal acima de todas as coisas, um profissional brioso num ofício, ontem como agora, de intenso desgaste.
Nesta obra participam camaradas de muitas décadas e dos mais diversos sectores, entre eles, José António Santos, Leonel Gonçalves, Carlos Bravo, Avelãs Coelho, Maria Augusta Silva, Pedro Foyos, António Castro, Sequeira Andrade, Silva Pires, José Maria Ribeirinho e Fernando Cascais. Contam-nos vivências, fazem um importante resumo de não menos importantes fases da vida de um jornal que em si mesmo é uma referência na história social, política e cultural do País, da sociedade portuguesa, do mundo. De assinalar um circunstanciado Índice Onomástico agregando centenas de menções.

Das alegrias que dão alento às sombras que matam

Viajar por estas crónicas sobre O Nosso DN, da composição em chumbo à paginação digital, de uma redação no masculino (onde Manuela de Azevedo era então a única mulher, resguardada num pequeno gabinete para a pouparem a «qualquer palavrão solto»…) até uma imparável onda feminina na Comunicação Social, viajar da voz dos ardinas até à velocidade da divulgação internética, relembrar como já se pensava e dinamizava um «Manual de Normas da Redação», como interagiam a Redação e o Centro de Documentação e Informação, como desde a sua fundação o DN estava atento à estratégia da distribuição do jornal e ao papel fundamental da publicidade, como era imperioso incorporar lições do antigamente, cuidar do presente e olhar para o futuro, viajar por todos estes caminhos de mudanças feitos, nada tem que ver com tacanhos saudosismos. O Nosso DN – Memória do Tempo fica a dever-se, mais uma vez, ao amor de Fernando Pires pelo jornalismo, pelo Diário de Notícias em particular, jornal a que deu tudo de si. É uma «memória do tempo», assim o define o próprio título. E a memória afirma-se sempre como uma mais-valia. Uma memória que da mesma maneira reafirma o sentido da camaradagem, da solidariedade, esse «espírito DN» que, nos bons e nos maus momentos, procurou aviventar-se, mesmo nas mais complexas circunstâncias.
Nos muitos tempos de um jornal — como em tudo e em todas as atividades — somam-se alegrias e sombras. As alegrias dão alento, amparo e caminho; as sombras matam. Sombras dramáticas (triste e dolorosamente não são as primeiras) tomam hoje de assalto profissionais de todas as gerações. Urge reafirmar o espírito de camaradagem, de solidariedade.

Maria Augusta Silva
Pedro Foyos

———
O livro O Nosso DN — Memórias do Tempo tem a chancela de JM Edições, podendo ser adquirido nas livrarias da FNAC ou por encomenda direta para o endereço jm.gradi@gmail.com

JULHO DE 2014







"NA LUZ BRANCA DE LISBOA"
VERSO DE SOPHIA INSPIRA LIVRO DE ANA PAULA FIGUEIRA E ISABEL LOBINHO


pessoa Poderá um livro sobrelevar a literatura e exibir-se como superior criação artística? Sabemos que sim, todavia é raro uma editora portuguesa ostentar em tão elevado grau de esmero e mestria uma obra como esta que hoje propomos aos nossos leitores. A editora é a Calendário de Letras e as autoras são Ana Paula Figueira (textos) e Isabel Lobinho (extra-textos). O lançamento está anunciado para 18 de junho, às 19h00, no bar/restaurante Speakeasy, no Cais das Oficinas, Armazém 115, Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.
Na Luz Branca de Lisboa — titulo inspirado no poema Ressurgiremos de Sophia de Mello Breyner Andresen — tem esta cidade como tema central. Se bem que não se enquadre no género de literatura de viagens foi objetivo da autora do texto reunir a sua área de trabalho e de formação à paixão que tem pela literatura e pelos livros. Constata-se hoje uma tendência crescente para a revitalização e reaproveitamento dos espaços com vista à criação de "novos" espaços — uma nova forma de (re)ordenar o espaço citadino. São vários os exemplos em Lisboa que poderiam ser citados: o bairro do Parque das Nações, a zona ribeirinha das docas, ou até o antigo edifício da RTP na 5 de Outubro transformado em hotel… Para além disso, os espaços, os locais, também "desenham" as pessoas e foi exatamente isso que se procurou assegurar no papel — enfatizar a vida na cidade, determinados locais que a caracterizam (outros que não aqueles que normalmente servem de referência turística) e, muito em particular, a implícita diversidade de opções a todos os níveis que a grande cidade coloca à disposição de cada um.
Com este trabalho pretendeu-se ir um pouco mais longe, no propósito de conciliar várias manifestações artísticas num projeto cultural (ou várias formas de apresentar a arte). Assim, complementando o texto de Ana Paula Figueira, o livro integra a visão pictórica de uma grande artista, Isabel Lobinho, por meio de fotografias de belíssimas pinturas a óleo inseridas no miolo da obra. O grafismo editorial é igualmente distinto, gerando uma certa quebra com a forma convencional de livro — neste caso, como se realçou, mais uma arte criada e recriada pictoricamente a par de um texto sensível.
A apresentação da obra será feita por Eduardo Brito Henriques e Gil do Carmo.



JUNHO DE 2014







PROFESSOR JOÃO ALFREDO LOBO ANTUNES
FILHOS EVOCAM O PAI, FIGURA NOTÁVEL DA NOSSA MEDICINA


pessoa

No momento em que se completam dez anos sobre a morte do Professor João Alfredo Lobo Antunes, vulto da medicina portuguesa, pedimos aos filhos que nos confiassem as suas memórias do pai. Chamamos a atenção para a riqueza desses textos evocativos, cujos autores muito nos honraram com a presença neste sítio de encontro e de partida.





JUNHO DE 2014








POETA ANTÓNIO SALVADO
HOMENAGEM EM ESPANHA NO DIA 10 DE JUNHO

pessoa












António Salvado visto por Miguel Elías

Vulto da poesia portuguesa contemporânea, António Salvado vai ser homenageado neste 10 de Junho, Dia das Letras Portuguesas, em Salamanca. A cerimónia, que deverá ter a presença do homenageado, decorrerá, às 19 horas, na Aula Dorado Montero do Edifício Histórico da universidade daquela cidade, momento que assinalará a edição de Um Extenso Continente, uma antologia na qual duas centenas de poetas (Portugal, Espanha e América Latina) celebram a obra de um autor que tanto merece ser lembrado e enaltecido nesta data marcante da nossa história: Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
A antologia, bilingue, (com chancela de RVJ Editores e apoio da Câmara Municipal de Castelo Branco), antologia que a par da valia literária tem a soma imensa de afetos, foi coordenada por Maria do Sameiro Barroso, Alfredo Pérez Alencart e Maria de Lurdes Gouveia Barata. Sublinhem-se do mesmo modo as ilustrações (pinturas) de Miguel Elías.
A apresentação de Um Extenso Continente em Salamanca fica a cargo de Alfredo Pérez Alencart e Ángel Marcos de Dios, num encontro considerado como pré-lançamento desta obra dedicada a António Salvado. Na ocasião, autores castelhanos (entre eles, José Maria Muñoz, Elena Días Santana e Xenaro Ovín) farão a leitura de poemas que integram a antologia, instante que registará também leituras por José Ben-Kotel (Chile) e Héctor Ñanpari (Peru), contando igualmente com a colaboração de uma relevante figura da medicina portuguesa e da cultura, António Lourenço Marques.
Registamos entretanto a entrevista que António Salvado acaba de dar ao Casal das Letras. Dialogando com Maria Augusta Silva (perguntas e respostas que complementam uma longa entrevista de há dez anos), o poeta revela-nos um sonho que gostaria de ver realizado: «(…) continuo a sonhar com uma edição completa da minha obra poética».



«O nosso património mais encantatório
é a língua. Há que investir na sua pureza»


Entrevistei-o há dez anos. Na essência é uma peça jornalística atual. A sua obra entretanto alargou-se. E o poeta modificou alguma coisa no modo de se relacionar com o mundo e o ser humano?

A asserção de que, na natureza, tudo se transforma também se aplica, e naturalmente, ao poeta no seu itinerário existencial, no seu percurso ramificado de vivências e de configurações. Autor de uma obra poética de saliente extensão, repartida por algumas dezenas de títulos, é-me lícito afirmar que, num horizonte que vai do início e da amplificação da actividade poética criadora até ao testemunho facetado e assumido pelos poemas do último livro, multímodos e plurívocos sentimentos se avivaram e se clarificaram: singulares e múltiplas experiências se acumularam e se corporificaram; de maneira eloquente se foi afinando a capacidade emotiva que diz respeito à imaginação.
Algo, porém, inevitável e duradouro permaneceu: a certeza de que, na ausência sempre possível da lucidez criadora, o silêncio imposto pelo destino corresponderia, sem dúvida, à iminência acelerada da morte.

Que busca continua a fazer por meio da sua poesia?

Alguém terá dito que a poesia, no abraço que pretende estabelecer entre vida e arte, concentra um propósito essencial definido por uma busca, uma procura, uma indagação sempre constantes até à representação concreta pela palavra. Pelo que a mim se refere (à minha poesia) direi que essa busca, essa procura, essa indagação se têm processado e alumiado por um “aprofundamento” coerente, indagante e sistemático do meu eu e das circunstâncias que o envolvem e que, existencialmente, o singularizam; isto por um lado, porque, por outro, aquelas três tónicas (só sinónimas na aparência) estruturantes, ao fim e ao cabo, do discurso poético, continuam a permitir-me um mais vincado ‘apuramento’ de tudo aquilo que cimenta os imponderáveis meandros da minha relação com os outros, com o mundo.

Como olha, hoje, para o panorama cultural português?

Digamos que, hoje, o panorama cultural português oferece uma complexa e convincente ‘geografia’ onde se cruzam e interligam fronteiras felizmente muito diferenciadas. Das literaturas (um universo ramificado) às artes (outro universo ainda mais constelado e politónico), a força, a pujança, a dinâmica do criador português têm sabido acentuar, em presença e em acção, diferenças marcantes no conserto cultural europeu e, até, mundial.
Na criação poética, por exemplo, apraz-me constatar com prazer toda a renovação geracional que tem sabido contornar e ultrapassar os muros de dificuldades erguidos perante quem se inicia na criação poética. Pena que o velho café das tertúlias, dos encontros, das conspirações se vá evaporando a favor de outra realidade chamada internet… Mas até neste aspecto, algo de positivo há a erguer: é por aí que a divulgação se torna mais rapidamente expressiva!

Então, vai tudo bem…

Algumas acutilantes preocupações preenchem o nosso espírito. A saber, e como exemplo, o sistemático desinvestimento que o Estado materializa na área da cultura, o alargamento do fosso (sempre na perspetiva da cultura) entre a macrocefalia, digamos, lisboeta e o… resto da paisagem; a amnésia territorial que o sistema central dominante proporciona, negativamente estratificada.
Uma palavra quanto ao futuro. Não esqueçamos que o nosso património mais encantatório é a língua com a qual escrevemos. Na continuação da sua pureza, há que investir, e largamente.

Foi professor e ajudou a formar muitas gerações. Que prioridade daria nestes tempos ao nosso ensino?


Numa Escola multicultural e inclusiva, como é a Escola dos nossos dias, torna-se fundamental que determinados valores (hoje quase esquecidos num mundo dominado por cego individualismo), valores acalentados pela camaradagem, pela solidariedade, pela interajuda, respeito pela diferença, adquiram estatuto de configuração pedagógica e cujo ensino, podendo ser transversal a todas as disciplinas, só raramente surge concretizado pelos educadores, estes preocupados, quase exclusivamente, pela exploração curricular, no cumprimento radical dos pressupostos de um programa.

Se pudesse encontrar Luís de Camões, dir-lhe-ia o quê?

Depois de testemunhar ao genial Poeta a minha ilimitada admiração pela sua Poesia, recordar-lhe-ia os seguintes versos da oitava 145 do canto X dos seus Lusíadas, cujo teor parece colorar-se pela ‘atmosfera’ que actualmente se respira em Portugal:

O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a Pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.

Um sonho que gostasse ainda de realizar?

Ainda que como hipótese difusa e de difícil realização concreta e imediata, continuo a sonhar com uma edição completa da minha obra poética…




Aguardo o Fim da Noite

Aguardo o fim da noite:   e vais nascer
de novo à minha beira – despertada
pelo cantar melódico das aves,
pelo som do orvalho a desfazer-se.

A tua face ainda com a seda
de transes que o teu peito acaloraram,
como um só teu   bem  íntimo   segredo
que em ti guardado   tu não me dirás.

Afago os teus cabelos e despertos
os olhos divagando os meus acertam
e lânguidos musicam mil desejos.

O teu corpo é um eco que eu repito
em cada gesto que por ele   esfio,
em cada gota que por ele   bebo.

António Salvado
(In Ecos do Trajecto seguido de Passo a Passo)



TAMBÉM NESTE SÍTIO
GRANDE ENTREVISTA
A ANTÓNIO SALVADO
REALIZADA EM 2004









JOANA LAPA / MARIA JOÃO FERNANDES
LANÇAMENTO DE "LETTERA AMOROSA" DIA 26 EM LISBOA


pessoa Novo livro de poesia, Lettera Amorosa – Iluminações e Sombras, de Joana Lapa (pseudónimo de Maria João Fernandes, uma das mais distintas críticas, ensaístas e historiadoras de arte) vai ser lançado dia 26 (próxima segunda-feira), às 18.30, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa (Rua Coelho da Rocha, 16). A apresentação ficará a cargo de Eduardo Lourenço e Fátima Freitas Morna; Maria João Fernandes falará igualmente deste seu trabalho e o compositor Cândido Lima interpretará ao piano uma peça inspirada em mais de uma centena de poemas que compõem um volume que marcará o tempo da poesia portuguesa contemporânea.
Com a chancela das Edições Afrontamento, Lettera Amorosa além do encantamento que o labor poético nos proporciona, é uma obra graficamente esmerada, integrando desenhos e pinturas de Gonçalo Salvado e Joana Lapa, enquanto João Vieira assina as fotografias/retrato da autora.
O prestigiado crítico e poeta francês, Robert Bréchon, em prefácio para este livro (que em manuscrito dirigiu à escritora em 2010), realçou: «Joana Lapa é herdeira das grandes poetisas do amor, cujos versos cantam na nossa memória: Louise Labé, Marceline Valmore, Elisabeth Browning, Emily Dickison, Anna Akhmatova, Marina Tsvetaeva. Faz parte do seu bando alado. Mas renova a sua mensagem (…)».
O discurso poético de Joana Lapa/Maria João Fernandes, tendo, de facto, um espírito renovador na densidade e beleza do dizer amoroso, consegue ainda o brilho de uma imagética plena de espontaneidade numa temática (a amorosa) em que se torna difícil encontrar o equilíbrio estético. Vejamos essa essência no poema Mais Vida, um poema curto e todavia imenso, total na sua claridade: «Mais vida, mais luz, / mais fulgor enlouquecido, / mais florestas sobre o mar / e um ouro antigo, / mais rios a fluir da madrugada / e os teus lábios entre a minha sede / e o nada, / mais asas e voos ao meio-dia, /sem mistério e sem sombras, / só a plenitude do ar / dança, / infinito idioma da alegria.»
Robert Bréchon destacou que a poesia de Joana Lapa /Maria João Fernandes «é uma incrível chuva de imagens (…) imagens do mundo visível e sensível», esse mundo de «iluminações e sombras» que a autora transfigura escapando ao excesso, vigiando cada símbolo, ligando e religando com mestria todos os elementos necessários à exigência do próprio poema enquanto corpo natural e intelectual do Eu e do Tu, enquanto medida do real e do mito, da presença e da ausência do ser que ama e do ser amado; enquanto consciência da linguagem que procura a «nascente», a luz, as «sementes», o «avesso do tempo», as tonalidades dos conflitos, a matéria dos silêncios; que no labirinto de si busca também o sonho e a alegria, o desejo, o «misterioso bouquet de soluços e sorrisos».
Quem é Joana Lapa? Maria João Fernandes, em nota de introdução do seu novo livro de poesia, define-a como «desdobramento em que sou una». Esmiuçando o seu verbo poético, o seu «reino das palavras»,  não nos preocupa se estamos perante uma autora que noutros autores encontrou caminhos e desafios, nomeadamente na dádiva literária de Mariana Alcoforado (num poema quase do final de Lettera Amorosa, Joana Lapa adota-a como «minha irmã das noites insones»). Todo o escritor, todo o artista deve estar grato aos que lhe alimentam o significado da Arte, da criatividade. É justo e bom que façam eternamente parte do seu firmamento, da celebração da vida e do Amor, da «harmonia sonhada». Joana Lapa tem, no entanto, o seu caminhar singular, a sua fala, a sua individualidade, a sua interioridade. E ousa o seu cântico poético, sublime cântico amoroso. Se Joana Lapa é uma personagem que Maria João Fernandes cria para ser de si espelho fiel do «visível e do invisível», para lhe simbolizar «a noite e o dia», o «jogo de paradoxos», poder-se-á acrescentar que talento e brio não lhe faltam. Se Joana Lapa é a sabedoria, a experiência, a sensibilidade e a agudeza, a mulher da escrita e da cultura que melhor conhecemos acompanhando ao longo de tantos anos o profissionalismo de Maria João Fernandes, ainda bem. Se Maria João Fernandes é o verso total de Joana Lapa, luminoso na sensualidade dos amantes, no recato e no êxtase do corpo e do espírito, celebre-se então o mistério dessa respiração.
Atentemos, aliás, no modo como Maria João Fernandes interpreta a poesia de Joana Lapa, assumindo sem rebuço este exercício analítico no texto que integra Lettera Amorosa:
«O que esta poesia tem de fundamental e talvez único é este incessante jogo entre o consciente e o inconsciente cujas fronteiras afinal se diluem no meu discurso de hoje. Fundir as minhas metades, mantendo a diferença, não será esse o (meu) sonho mais secreto, o sentido deste amor que ouso nomear depois de William Blake, e como mulher, não já como o casamento do céu e do inferno, mas da realidade e do sonho que está na sua origem, da matéria e do espírito feitos um só corpo. Não será esse o sonho de toda uma civilização?»
Um dia, ao referir-me a um outro magnífico trabalho poético de Maria João Fernandes, intitulado Dias de Seda (poemas acompanhados pelas cores únicas dos pincéis de Júlio Resende), sublinhei que a poesia desta autora pertence ao domínio da «palavra encantada», bailando contida e ao mesmo tempo fulgurante. E volto a dizê-lo.
Ficamos entretanto a aguardar Deusa da Transparência, cuja edição está já a ser preparada.

MARIA AUGUSTA SILVA


Também neste sítio:
TRÊS POEMAS SELECIONADOS DO LIVRO
MANUSCRITO DO POEMA QUE DEU O TÍTULO AO LIVRO
MEMÓRIA: UM POEMA MANUSCRITO DA AUTORA AOS 9 ANOS











MARIA DO SAMEIRO BARROSO
A ARTE PROJECTA-SE NO ESPAÇO ILIMITADO



pessoa Conheçam-lhe as paixões: medicina e escrita. Médica, poeta, ensaísta, tradutora. A poesia, sempre, com uma invulgar densidade metafórica («o meu impulso mais natural e imperioso»); uma imagética transbordante. Distinguida com diversos galardões, Uma Ânfora no Horizonte conheceu o Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica em 2009. É autora de mais de uma dúzia de obras e vai lançar dia 17, às 15h00, A Noite Tem Garras de Seda, trabalho literário em formato de crónica que será apresentado por José Manuel de Vasconcelos na Biblioteca Histórica da Ordem dos Médicos, em Lisboa (Av. Gago Coutinho, 151), uma sessão integrada na I Semana do Autor Médico (ver no final o programa deste encontro). Dia 23, às 18 horas, no mesmo local, decorrerá o lançamento de novo livro de Maria do Sameiro, um ensaio em torno de outro grande poeta: Pedro Tamen, Classicismo e Modernidade, com apresentação a cargo de Manuela Parreira da Silva.
Na passada semana, no Auditório da Junta de Freguesia de S. Victor, em Braga, esteve em foco O Corpo, Lugar de Exílio, recente obra desta autora da qual falou Cláudio Lima com leitura de poemas feita por Domingos Alves e Teresa Lobato.  
Maria do Sameiro, primorosa no modo como faz cruzar o corpo telúrico e a magia lunar no seu verbo poético, em diálogo com Maria Augusta Silva dá uma entrevista ao Casal das Letras contando-nos quase três décadas de poemas marcadas por «uma grande serenidade» e «a turbulência própria da minha personalidade». 



Ao fim de quase três décadas de escrita poética como olha para a sua poesia?

Com uma grande serenidade, embora mantenha toda a turbulência própria da minha personalidade. Quando comecei a escrever achava que a arte é sempre o caminho mais difícil, mas se a vocação é muito forte temos que a seguir e fazer opções, por vezes dolorosas.

Que deu a poesia à médica (que também é) e a médica à criadora de poemas?

Difícil responder. Durante muito tempo a literatura e a medicina funcionavam em compartimentos estanques. Não sou a típica médica-escritora que reflecte a sua vivência médica na literatura. Numa carta que o Presidente da APE, José Manuel Mendes, me enviou, agradecendo, salvo-erro, o meu livro Jardins-Imperfeitos (1999), referiu uma coisa que para mim faz sentido e responde a alguns aspectos da pergunta: que havia uma consistência científica na minha poesia. Essa observação pareceu-me acertadíssima. A minha faceta científica e a experiência humana que a medicina proporciona devem-se reflectir de alguma forma no que escrevo, apesar de não ter consciência disso.

Nunca abandonou a investigação sobre a História da Medicina. O presente e o futuro, inclusive nas ciências médicas, podem continuar a aprender muito com o passado?


Adoro a História Antiga, aprendemos imenso com o passado e acho que uma leitura histórica do mundo nos torna mais modestos e sensatos. Há muita sabedoria de vida nas obras dos grandes médicos, assim como na literatura e nos ensinamentos religiosos. Por isso a cultura é o nosso bem mais precioso.

Vida e morte representam para a médica a mesma coisa do que para a escritora?

Não, não representa. Para a escritora a morte é, muitas vezes, uma metáfora de renovação. Não é fácil viver com toda a minha inquietação. A minha vida é feita de rupturas. Há muita coisa que tem de morrer porque outras precisam de nascer. Um processo doloroso mas inevitável. A visão biomédica ajuda, a coesão científica oferece-me alguma estabilidade e meios para lidar melhor comigo mesma. O médico, ao gerir em si o sofrimento e a morte dos outros, projecta-se, sofre, mas também aprende, expande-se e reforça-se.
Editei e lançarei brevemente um livro a que chamei As Suturas do Tempo (Livros AEDO 2014) que expressa essa problemática.

O seu novo livro A Noite Tem Garras de Seda surge em forma de crónica revisitando as «ramagens da vida». Um desafio a si mesma no sentido de transmitir melhor a sua interioridade?


Sim. E uma revisitação da minha ligação à literatura. Escolhi talvez os momentos mais significativos de uma vocação muito forte que tive que seguir.

No livro de poesia O Corpo Lugar de Exílio, que editou recentemente, diz que «A arte do corpo é um tempo / sem limites.» Pode dar-nos a receita para essa arte?


Não, nem sei bem porque escrevi isso. Posso tentar explicar. Partimos do corpo, vivemos num corpo. Mas a arte projecta-nos no espaço ilimitado.

A intensidade metafórica que encontramos nos seus versos será uma pulsão natural ou um apuro na oficina da imagética?


O meu impulso mais natural e o mais imperioso de todos!

Telúrica e simultaneamente lunar, a sua poesia funda-se numa «chaga aberta» oculta na palavra?


Sim, claro. Durante muito tempo não conseguia enfrentar essa chaga. Agora aceito-a e desvendo-a ou transfiguro-a.

Poesia, um «dizer incompleto»?

Nunca dizemos tudo quando nos encontramos perante o silêncio.

Diversos galardões a têm distinguido, nomeadamente o Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica. Isso aguça a vertigem da escrita ou leva-a a uma serena reflexão sobre o «significado dos frutos»?

Tudo me aguça a apetência pela escrita, porém nessa vertigem há espaço para parar, fruir e reflectir. Os prémios são, naturalmente, muito estimulantes. Esse Prémio abriu-me as portas para os poetas espanhóis que me acolheram muito bem.

Que sentiu ao saber que o seu livro Poemas da Noite Incompleta chegou a estar entre os selecionados para o Prémio Telecom, 2011, no Brasil?


Prestigiante.

Tem coordenado inúmeras antologias sobre poetas ímpares, como, por exemplo, António Ramos Rosa, Fiama e Albano Martins. Uma paixão pela obra de outros?


Sim. É um gesto de homenagem a poetas que admiro.

Memória mais impressiva que tenha de Ramos Rosa?

O seu olhar intenso e puro. E a liberdade interior que caracteriza os grandes criadores.

Acaba ainda de publicar um trabalho analítico em torno da vasta obra de Pedro Tamen. Que mais a fascina no autor de (entre outros), O Livro do Sapateiro e do tradutor de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust?

Um poeta do desconcertante e isso fascina-me como se pode ver nalguns poemas sobre os quais me debrucei no livro.

A Maria do Sameiro tem-se dedicado igualmente à tradução, sobretudo de poesia alemã. De que poeta alemão se acha mais próxima?


Sinto grande afinidade com muitos poetas alemães, em particular os expressionistas, mas penso que Hölderlin, Rilke e Paul Celan são os meus eleitos.

Imagine-se a fazer uma grinalda, que flores escolheria?


Gosto de todas as flores no entanto escolheria as campestres, flores exóticas, e as mais perfumadas como os goivos, narcisos e açucenas.

E se fosse uma grinalda de poetas?

Escolher poetas de que gosto… Difícil dizer nomes porque não posso nomear todos. Escolheria talvez os que mais marcaram o meu percurso: Eugénio de Andrade, no início. Depois, Herberto Helder e António Ramos Rosa. Houve fases pelas quais passaram ainda Almada Negreiros, Fiama, depois o José Agostinho Baptista, o Albano Martins. Do Liceu e do curso de Germânicas, sempre Camões, também Pessoa, Camilo Pessanha, e os poetas ingleses e alemães.
Os poetas surrealistas franceses são também muito do meu agrado. E adoro Mallarmé!

Um dia antigo constante nas suas lembranças?

Diria dois dias para amenizar o segundo:
Uma tarde a brincar com o meu irmão, no meu jardim, em Braga, e o dia terrível em que o perdi.

Que «paraísos» gosta de inventar?


Paraísos de liberdade, liberdade criativa, claro, em que posso inventar tudo, deixar fluir a minha fantasia e dar corpo às ideias mais estranhas que me vêm à cabeça. Depois, revejo...

Braga, seu berço: cordão umbilical perene?

Sou uma cidadã do mundo mas sinto-me mais inteira quando vejo a linha da minha vida a partir do meu recanto natal.

Se escrevesse hoje um poema de amor qual seria o primeiro verso?

Talvez o de um dos primeiros poemas que escrevi e nunca publiquei. Permita-me que cite um pequeno excerto: Se tivesse a possibilidade de mudar alguma coisa
ou alguém,
não mudaria nem o sol, nem a noite, nem os teus cabelos.
Partiria.
(...)
O céu está guardado na memória
ou no fundo do mar.






I SEMANA DO AUTOR MÉDICO

De 16 a 24 de Maio, a Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM) promove, na sede da Ordem dos Médicos, em Lisboa, a I Semana do Autor Médico de que constam múltiplas sessões, entre as quais os lançamentos dos livros de Maria do Sameiro Barroso, como atrás registamos. O encontro inicia-se dia 16 (sessão de abertura às 17h30); às 18h00: intervenção de Clara Rocha sobre A Figura do Médico na Literatura Portuguesa; às 19h00, Lurdes Barata visitará o mundo de Miguel Torga — a Dimensão Humana de um Sísifo e de um Ícaro; para as 21h30 está programada a apresentação do livro O Admirável Placebo, de Teresa Gomes Mota. Dia 17, a atribuição de prémios verificar-se-á na parte da manhã (após a Assembleia Geral da SOPEAM, 10h00); às 15h00, o livro A Noite Tem Garras de Seda, de Maria do Sameiro Barroso, será analisado por José Manuel de Vasconcelos, enquanto, às 17h00, o livro de poesia No Universos da Alma, de J. Simões Fernandes, irá ser apresentado por Bernardette Capelo-Pereira. Dia 21 (18h30), Miguel Real centrar-se-á em Vocês, os Homens, trabalho literário de Maria José Leal; textos desta obra ocuparão a voz de José Gil. Para dia 22 (18h30) foi agendado o lançamento do ensaio de António Sousa Prates, intitulado Camilo Castelo Branco, Cardiologista Sentimental. A 23 (16h00), Ferreira Coelho subordina a sua intervenção ao título Alegorias ao Mundo Actual — Observações Críticas de Cartoonistas; outro participante, Ricardo Marques, abordará, às 17h00, o tema Dentro do Tubo de Ensaio: a Metáfora como Linguagem da Realidade. Para as 18h00 prevê-se o ensaio Pedro Tamen, Classicismo e Modernidade, de Maria do Sameiro Barroso, apresentado por Manuela Parreira da Silva. Dia 24, o encontro encerra com Armando Moreno a falar de Médicos Escritores da Nossa Terra (10h15), seguindo-se (11h00) a intervenção de Josias Gil sobre Aspectos Psicológicos da Relação Médico-Doente; às 11h30, António Trabulo abordará Amilcar Cabral  — O Pensador e o Poeta.








VASCO GRAÇA MOURA (1942-2014)
O POETA PERMANECE

                morte convencional

dizem que a coisa é assim: a grande sonsa
crepuscular alastra pelas veias,
fogem tacto e olfacto à geringonça
e o gosto, o ouvido, a vista e as ideias.

o cabelo suado, a barba intonsa,
as demais circunstâncias muito feias,
alguma gente em pranto que responsa
num negrume confuso de alcateias.

deitam o olho às joias, à mobília,
os membros menos tristes da família
e a chuva dá nos vidros grosso açoite.

vai-se em cata da agência à luz das velas
nas páginas abertas, amarelas,
a murmurar: «—não passa desta noite.»

                obscura matéria

eu julguei que era feito
da obscura matéria dos meus sonhos
e neles o meu amor era um archote
de inflorescências luminosas

a pôr um halo nas nuvens
coloridas de leve, fado,
porque me açoitaste a alma
na tua música enfurecida? porque

me cuspias, na obscura
matéria dos meus sonhos?
passaria o tempo a enlouquecer
de tais perguntas, mas eu

retiro-me dos sonhos, sou
a obscura matéria de uma ausência
que se dissipa contra as pedras,
devagar.

Abril de 2014







GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
«A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece,
mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda»


Até sempre, Gabriel.

Abril de 2014







POETA ANTÓNIO OSÓRIO
TRÊS INÉDITOS PARA O NOSSO TERCEIRO ANIVERSÁRIO


pessoa Nasceu em Setúbal, junto à Serra da Arrábida. Bom aluno, por duas vezes obteve vinte valores. A primeira foi na disciplina de Português, a segunda, muito mais tarde, em Psicologia Forense. O poeta e advogado António Osório explica-nos a estratégia:
«Desviei a conversa para os heterónimos de Fernando Pessoa. O examinador era o psiquiatra Prof. Barahona Fernandes, um homem culto, um admirador de Pessoa…» E pronto, vinte valores!»
António Osório começou a escrever poesia aos 18 anos e não mais parou. Um número imenso de livros publicados. Os seus últimos três poemas foram-nos oferecidos como prenda de aniversário. Três poemas, um por cada ano de vida do Casal das Letras. António Osório: um grande poeta que nos honra com a sua presença no espaço Convidados.



MARÇO DE 2014







TERCEIRO ANIVERSÁRIO
A NOSSA GRATIDÃO AOS CONVIDADOS

Na celebração do terceiro aniversário deste sítio de encontro e de partilha manifestamos a mais profunda gratidão aos visitantes e convidados que tanto nos enriqueceram com a sua presença e colaborações.

ALBANO MARTINS | ANDRÉ LETRIA | ANTÓNIO OSÓRIO
ARMANDO CARDOSO | BAPTISTA-BASTOS | CLARA PINTO CORREIA
CARLOS ADEMAR | DANIEL SERRÃO | EDITE ESTEVES
EDUARDO LOURENÇO | EUNICE MUÑOZ | FARIA ARTUR
FÁTIMA MARINHO | FERNANDO CATARINO
GALOPIM DE CARVALHO | GIL MONTALVERNE | GRAÇA PIRES
GUILHERME D’OLIVEIRA MARTINS | HENRIQUE ANTUNES FERREIRA
JOÃO RUI DE SOUSA | JOAQUIM LETRIA | JORGE REIS-SÁ
JOSÉ ALBERTO BRAGA | JOSÉ JORGE LETRIA
JOSÉ VIALE MOUTINHO | LEONOR XAVIER | LÍDIA JORGE
MANUEL MONTEIRO | MARIA AZENHA | MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA
MARIA DO SAMEIRO BARROSO | MÁRIO BERNARDO | MÁRIO CLÁUDIO
MÁRIO DE CARVALHO | MIGUEL REAL | PEDRO ALMEIDA VIEIRA
RISOLETA PINTO PEDRO | RUI BEJA | TEOLINDA GERSÃO
TERESA PAIVA | URBANO TAVARES RODRIGUES
VICTOR OLIVEIRA MATEUS



MARÇO DE 2014






DIA MUNDIAL DA POESIA
CELEBRAMOS COM ANTÓNIO RAMOS ROSA E ANTÓNIO SALVADO


Neste Dia Mundial da Poesia enaltecemos todos os poetas, os que escrevem e os que leem. Desta vez celebramos a grande poesia de António Ramos Rosa, que nos deixou há precisamente meio ano, e a do veteraníssimo António Salvado que há dias publicou Ecos do Trajecto seguido de Passo a Passo, obra admirável a somar às quatro dezenas de outras criadas nos últimos sessenta anos.

                 ANTÓNIO RAMOS ROSA
                 TRIELO DE POETAS

A fonte e a escada. A fonte. E a escada.
No centro o terror ou a loucura. É uma alta árvore.
Este é o primeiro poeta.
O outro caminha no quarto. A cor pousa na página.
Leve. Ou na parede. A praia é extensa.
O terceiro vê um homem de costas. Lê anúncios.
O homem é mortal, caminha à chuva.
Um átrio rodopia na aldeia branca.
Sem o saber combatem entre si.
Por uma lâmpada. Um muro. Ou um zenabre.
Entre mulheres e plátanos traçam linhas
que se encontram em tufos negros, verdes.
Um dirá inocência. Inocência.
Outro dirá pedra ou braço. Pedra ou braço.
O terceiro seguirá ao longo da rua até ao fim da sua idade.
Três poetas que se ignoram e se conhecem.
Três léxicos. Um vermelho. Outro Branco. Outro cinza.
Vermelho. Branco. Cinza.
Se um só poeta. Um só escrevesse o poema
Vermelho branco cinza.
A fonte na parede. Alta no braço. A chuva
caminhando. O jornal aceso.
São três braços, três palavras numa página.
O mesmo fogo violento nos cabelos.
Um só pulso. Uma haste viva. Rompendo
da parede.
E o mesmo ventre. Ou o mesmo muro.
A boca da ausência
beijando as suas sílabas.
Ó poeta da tua idade e do esplendor do ventre
no centro flutuante a mesma lâmpada vazia
que as palavras acendem. As do jornal do dia.
O poeta das três idades.
O da lâmpada. O do ventre. O do jornal do dia.
Três da mesma idade. Ao pé da mesma árvore.
Um desfolha o vocabulário violento.
Outro pousa lentamente a mão na árvore.
O terceiro está ausente. As folhas secas rodopiam.

(Da obra “A Construção do Corpo”, 1969. Inserido na Antologia Poética editada pela Dom
Quixote em 2001)
.




                 ANTÓNIO SALVADO
                 GERMINAÇÃO DE UM BROTO

Germinação de um broto é canto aberto
ao resplendor da vinda primavera,

o gelo derreteu os rios correm
e o verde cativante a terra cobre,

espreguiçam-se as flores pelos campos
e a paisagem ergueu um ténue manto,

o céu brilha de azul e os frescos corpos
rebrilham de fervor quando se encostam,

um frenesim percorre a natureza
tudo canta de amor e languidez.

(Poema do novo livro de António Salvado, intitulado ”Ecos do Trajecto seguido de Passo a
Passo”; Ed. Ricardo Neves Produção, Lda.).


21 MARÇO DE 2014








ANTOLOGIA ‘CINTILAÇÕES DA SOMBRA 2’
LANÇAMENTO NA SPA NO DIA MUNDIAL DA POESIA



Dia 21, às 18h30, vai ser lançada a antologia poética «Cintilações da Sombra 2», coordenada pelo poeta Victor Oliveira Mateus com a chancela da editora Labirinto e o apoio do Núcleo de Artes e Letras de Fafe. A sessão decorrerá na Sociedade Portuguesa de Autores, no Auditório Maestro Frederico de Freitas (Avenida Duque de Loulé, 31), em Lisboa. De tema livre, integrando poetas dos mais diferentes registos criativos, a obra conta ainda com o também poeta António Carlos Cortez a cargo de quem fica a apresentação da mesma.  A atriz Eugénia Bettencourt irá ler poemas desta antologia que surge no Dia Mundial da Poesia.
Victor Oliveira Mateus, coordenador de Cintilações da Sombra 2, é um dos nomes mais prestigiados da poesia contemporânea portuguesa, sendo de sua autoria, entre outros, livros como A Irresistível Voz de Ionatos, Gente Dois Reinos» e Regresso.

MARÇO DE 2014








MARIA DO SAMEIRO BARROSO
NOVO LIVRO: ‘O CORPO, LUGAR DE EXÍLIO’



pessoa O percurso poético de Maria do Sameiro Barroso conhece agora mais um momento alto do génio criativo da autora que, dia 30, às 16 horas, vai lançar o seu novo livro intitulado O Corpo, Lugar de Exílio, com apresentação a cargo da Professora Maria Teresa Dias Furtado. A obra tem a chancela de Castália, associação de autores que visa a promoção da cultura e em particular a divulgação da literatura. A sessão decorrerá no Salão Nobre do Museu Nacional de Arqueologia (instalações do Mosteiro dos Jerónimos), em Lisboa. Inês Ramos fará a leitura de alguns poemas acompanhada por solos de guitarra de Fernando Guiomar.
A poesia de Maria do Sameiro tem-se afirmado com uma invulgar imagética, combinando a densidade metafórica e a delicadeza de um Eu que no seu cântico mais íntimo se abre sabiamente ao Outro, tornando-se aliciante não só pela riqueza dos signos mas também pela forma como o verso é trabalhado numa prodigiosa transfiguração do sujeito poético.
Da poesia de Maria do Sameiro Barroso destacamos, entre outros títulos, Uma Ânfora no Horizonte, traduzido para castelhano por Uberto Stabile, obra distinguida com o Prémio Palavra Ibérica 2009. De referência será sempre igualmente o livro As Vindimas da Noite, esse de poemas como «Memória de Um Rio», dizendo-nos que «Nas fímbrias do tempo, na penumbra dolorosa, / no corpo brando, endurecido, / no cérebro de amar e florir a língua, as asas, / escuto a chuva, a febre, a lentidão, / o secreto devir.»
Dia 30, com O Corpo, Lugar de Exílio, Maria do Sameiro Barroso oferecer-nos-á mais uma vez um universo poético que nos convoca para um lugar — o corpo —, onde tudo se nomeia na vertigem do tempo, onde tudo se faz memória (ou esquecimento?) nas metamorfoses do Ser.


MARÇO DE 2014








ALBANO MARTINS
ENTREGA DO GRANDE PRÉMIO DE TRADUÇÃO LITERÁRIA



Dia 24 de fevereiro, às 18h00, no Museu Nacional Soares dos Reis, do Porto, vai decorrer a cerimónia de entrega do Grande Prémio de Tradução Literária APT / SPA relativo ao ano de 2012, atribuído ao poeta Albano Martins pela Antologia da Poesia Grega Clássica para a qual levou o verso de autores que vão de Homero a Sófocles, de Safo a Esopo, de Píndaro a Eurípides, de Íbico a Apolinário. A arte da tradução, em que Albano Martins é igualmente exímio, afirma esta obra como um dos maiores empreendimentos culturais no domínio das letras, merecedora, sem dúvida, do galardão que chegará agora às mãos de um poeta português que ao longo de mais de seis décadas nos tem dado uma poesia ímpar, primando pela essência da palavra, pela síntese luminosa.
Do júri que distinguiu Antologia da Poesia Grega Clássica (Edições Afrontamento) fizeram parte o escritor Vasco Graça Moura e as Professoras Annabela Rita e Isabel Ponce de Leão; esta última representará o júri na cerimónia do dia 24.
Desta antologia transcrevemos a tradução que Albano Martins fez de um poema de Íbico:

O amor não dorme

Na primavera, regados
pelas águas dos regatos, os marmeleiros
florescem no inviolado
jardim das Virgens e as flores
da videira despontam e crescem
sob os talos umbrosos dos pâmpanos.
Mas para mim o amor
em nenhuma estação repousa, antes como
o trácio Bóreas, inflamado
pelo relâmpago, irrompendo
da morada de Cípris, com fúria
abrasadora, obscuro
e intrépido, com força
de alto a baixo sacode
o meu coração.


António Ramos Rosa

No âmbito de uma homenagem ao poeta António Ramos Rosa, recentemente falecido, Albano Martins dará a 21 de março — Dia Mundial da Poesia —, no Fórum da cidade da Maia, da área metropolitana do Porto, uma conferência subordinada ao título "António Ramos Rosa, os Anos Cinquenta e a Árvore". Esta celebração contará ainda, entre outras, com a participação da Professora Maria do Carmo Castelo Branco.

Concurso de Poesia Albano Martins

Como tivemos já a oportunidade de noticiar, Albano Martins tem a partir de agora o seu nome ligado ao Concurso de Poesia Albano Martins, promovido pela Câmara Municipal do Fundão, região onde nasceu o poeta (freguesia do Telhado). O prazo para entrega de candidaturas termina no próximo dia 11 de abril.
O regulamento cria a modalidade "Geral" para candidatos com mais de 18 anos e o Prémio Revelação Juvenil até aos 18 inclusive. Serão admitidos apenas poemas inéditos, o texto não poderá ultrapassar uma folha A4, e cada candidato não deverá apresentar mais de dois poemas. As candidaturas terão de obedecer a pseudónimo, devendo a identificação completa constar num subscrito fechado. Informações mais atualizadas poderão ser obtidas em:

www.cm-fundao.pt
ou solicitadas por correio postal para a seguinte morada:
Biblioteca Municipal Eugénio de Andrade
Rua Conselheiro José Alves Monteiro
6230-250 FUNDÃO


FEVEREIRO DE 2014








"MAR" PREMIADO EM BOLONHA
LIVRO DE RICARDO HENRIQUES E ANDRÉ LETRIA SEGUE PERCURSO DE ÊXITO



pessoa
"Mar", a criativa edição do Pato Lógico com texto de Ricardo Henriques e ilustrações de André Letria, acaba de receber menção do Prémio Bolognaragazzi Awards na categoria Não Ficção.
O júri, composto por Martin Salisbury (presidente), Manuel Estrada e Laurence Tutello, considerou que "o design e a ilustração deste livro são o eco perfeito do tema marítimo. Tipografia e imagem estão belissimamente integradas através do uso da bicromia de preto e azul. O artista explora com eficácia os contrastes de escala. Há embarcações minúsculas a enfrentar enormes criaturas marinhas. Faróis que espalham o seu feixe de luz ao longo da página. O universo do mar está retratado em todas as suas dimensões, incluindo factos, personagens e folclore, numa experiência gráfica altamente gratificante."
Diz a Feira de Bolonha que os Bologna Ragazzi Awards "distinguem o que de melhor se faz em cada ano no âmbito da ilustração e do design editorial. O Bologna Ragazzi Award é um dos mais prestigiados galardões do sector, uma vez que os editores de todo o mundo submetem as suas melhores obras a concurso, garantindo assim uma excecional qualidade das candidaturas. Os livros premiados recebem uma enorme cobertura dos media e a receção aos vencedores é um dos mais vibrantes momentos do calendário da Feira."
O livro "Mar" segue assim o seu percurso de sucesso, juntando esta distinção ao Prémio Junceda Ibéria, em 2013, à menção no Prémio Nacional de Ilustração 2013 e ao Melhor Design Infantojuvenil dos Prémios LER/Booktailors.
Está também a ser desenvolvida em parceria com a Biodroid uma versão digital, que será lançada até ao final do ano.
O livro pode ser adquirido na loja online das edições Pato Lógico:

http://www.pato-logico.com/products-page/


FEVEREIRO DE 2014








PRAXES E "BULLYING" NAS MANCHETES DO MÊS
TRAGÉDIA NO MECO NÃO É O PRIMEIRO CASO COM MORTES



pessoa
São fenómenos negros repletos de casos chocantes. Alguns tiveram desfechos mortais. A tragédia ocorrida no Meco, na madrugada do passado dia 15, teve o mais funesto dos epílogos, com seis vítimas.
Todavia, o País desconhece, ou já esqueceu, que esta não foi a primeira vez que ritos praxísticos e o "bullying" causaram mortes em Portugal.
Recuperamos alguns trechos de uma grande investigação jornalística que realizámos há anos sobre estes temas.






Ilustração: Cortesia de Henrique Monteiro

JANEIRO DE 2014








MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA
NOVA ERA DOS JORNALISTAS QUE SÃO TAMBÉM ESCRITORES



pessoa Deixaram de ser uma raridade os profissionais do jornalismo que são ao mesmo tempo autores de livros. Um tema atual sobre o qual disserta, no nosso espaço "Convidados", a escritora e editora Maria do Rosário Pedreira.
A dupla condição de jornalista e escritor é agora frequente, inclusive no romance, género que há poucas décadas não abrangeria mais que dois ou três jornalistas.
«Embora sejam demasiados os livros que se publicam — escreve Maria do Rosário Pedreira — há hoje jornalistas que são, de facto, excelentes escritores (nem sempre os que mais vendem)».





JANEIRO DE 2014














Do teatro ao cinema, passando pela televisão, a atriz Regina Casé tem cativado o público em todos os cantos do Brasil. Coube-lhe apresentar o documentário "Árvore do Imperador"



Estêvão Ciavatta é autor de uma extensa filmografia no âmbito de séries e documentários televisivos, destacando-se "Um Pé de Quê?", consagrado a histórias interessantes do mundo vegetal.


O arquiteto paisagista inglês Gerald Luckhurst, há muito residente em Portugal e apaixonado pelo tema da Árvore do Imperador, participou no programa a partir de Lisboa, junto do exemplar centenário que habita o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa (Politécnica). O depoimento foi registado pelo operador de câmara António Ferreira.



A equipa de televisão deslocou-se à floresta de Guapimirim (nome de origem tupi), a norte do Rio de Janeiro, onde estava referenciado um dos raros espécimes sobreviventes da Árvore do Imperador.


Regina Casé junto a uma Árvore do Imperador, vendo-se à esquerda o botânico Marco Lacerda, que há dez anos integra o "Grupo do Imperador" formado para evitar a extinção desta espécie. O Grupo, incluindo três países (Brasil, Portugal e Austrália) foi desfazendo-se à medida que as intervenções mais emergentes iam sendo realizadas com êxito. A árvore histórica poderá nas próximas décadas ficar excluída da “Red List”.


Plantando uma jovem Árvore do Imperador no antigo Palácio do Imperador. Um final promissor do programa televisivo. Este imperadorzinho com apenas meia dezena de primaveras provém de semente de árvore centenária descoberta por Marco Lacerda (à esquerda) na Mata Atlântica.


PEDRO FOYOS ROMANCE "BOTÂNICA DAS LÁGRIMAS"
INSPIRA PROGRAMA DE ÊXITO NA TELEVISÃO BRASILEIRA



O canal de televisão Futura, visto regularmente por 41 milhões de brasileiros, dedicou um programa à personagem central do romance "Botânica das Lágrimas", de Pedro Foyos. Essa personagem é uma árvore cuja existência fabulosa se cruza com a história de Portugal e do Brasil da época final do Império.
Regina Casé, uma das mais populares atrizes brasileiras, apresentou o programa "Árvore do Imperador", realizado por Estêvão Ciavatta e produzido pela Pindorama Filmes.
Este livro (penúltima obra de ficção de Pedro Foyos), prefaciado pelo escritor Miguel Real e de que se fizeram até agora três edições, tem como cenário o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, vulgo Jardim da Politécnica, nomeado no romance "Jardim da Sétima Colina". As visitas de estudo a este Jardim duram por hábito duas horas. Contudo, o passeio (cumprido por jovens alunos) evocado no livro muito excedeu esse tempo, perturbado que foi pelas mais inesperadas e fantásticas atribulações. A "viagem" aventurosa decorre em tempo real, como um registo fílmico. Tudo se passa num sábado primaveril entre as nove e o meio-dia.

O escritor Miguel Real salienta no prefácio:
«Uma das "chaves de ouro" do romance reside no diálogo de Leonardo [menino-protagonista] com as árvores, diálogo diversificado consoante a natureza (isto é, a personalidade) de cada árvore. Esta é, de facto, a ideia chave do livro, que terá forçado o autor a uma demorada investigação científica, ilustrada pelos úteis anexos do romance».
Uma dessas árvores é precisamente o "Imperador", ameaçado de extinção, que o jovem protagonista se propõe, mediante um juramento, salvar da morte. Pedro Foyos defende que a árvore em apreço foi oferecida pelo imperador Pedro II ao seu grande amigo Conde de Ficalho, cofundador do Jardim Botânico.

Eugênio Arantes de Melo, um dos pioneiros brasileiros do "Grupo do Imperador ", criado em 2004, apresenta no seu primoroso sítio da internet (Árvores do Brasil) um elevadíssimo número de páginas sobre a história da Árvore do Imperador, incluindo dezenas de fotos.


Ver aqui


Também Pedro Foyos tem dedicado ao tema algumas crónicas, das quais destacamos uma das mais recentes com o título:
O ÚLTIMO IMPERADOR








livro


Árvore em Lisboa
Fragmento da Árvore do Imperador no Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Gerald Luckhurst, autor da fotografia, captou o belo tom rosado que pode observar-se apenas nas folhas novas e durante escasso tempo.





livro



Data de 1874 a mais remota representação gráfica conhecida de uma Árvore do Imperador.
Foi publicada com destaque na "Illustration Horticole".











JANEIRO DE 2014